sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A aspiração olímpica do automobilismo


Surge por estes dias a noticia de que o automobilismo está a ser considerado como um novo desporto para os Jogos Olímpicos de 2028, que se realizarão na cidade americana de Los Angeles. A modalidade está ao lado de outras aspirantes como o Flag Football - uma variante do futebol americano, mas sem contacto entre os jogadores - o críquete, uma modalidade essencialmente anglo-saxónica e desporto numero um em países como a Índia, o Paquistão e o Bangladesh, o beisebol-softbol (que entra e sai do programa dos Jogos Olímpicos, tendo estado em 2020, mas não em 2024), o lacrosse, o breakdance - que está no programa de 2024 - o karatê, o kickboxing e o squash.

Apesar do automobilismo e da motonáutica terem estado nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900, não mais regressarem por causa de um obstáculo evidente: segundo a Carta Olímpica, a propulsão mecânica não é permitida. Contudo, a rápida conversão do automobilismo à eletricidade fez mudar as coisas nesse sentido, e o facto da FIA ter organizado desde 2019 o FIA Motorsport Games, que desde então acontecem de dois em dois anos - a de 2022 foi em Marselha, com o circuito de Paul Ricard no centro das atenções, e em 2024 será no circuito Ricardo Tormo, em Valência - as várias modalidades ali metidas, desde o karting aos ralis, passando pelos Turismos, monolugares, drifting e até os ESports, tentam colocar o automobilismo à consideração do Comité Olímpico Internacional, num esforço para colocar desportos mais condizentes aos tempos que vivemos, quase no primeiro quarto do século XXI.

A decisão sobre quais serão os desportos incluídos nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 é esperada até o final de setembro, mas a ideia do automobilismo aplicar-se fortemente na maior realiação desportiva do mundo, realizado a cada quatro anos é algo impressionante. Especialmente quando falamos que o automobilismo tem coisas como o karting, a Formula 1, o Mundial de Ralis, o Mundial de Endurance e a Formula E, competição elétrica.

A tentativa séria de colocar estes desportos - que se iniciou com Jean Todt, e Felipe Massa é o embaixador da FIA junto do Comité Olímpico - mostra que, por um lado, as coisas começam a ficar flexibilizadas, mas por outro, não no sentido de se modificar ou rasgar a Carta Olímpica. E ainda por cima, nestes tempos que correm, há modalidades dentro do olimpismo, mais tradicionais, como o halterofilismo, o boxe, a luta greco-romana, estão ameaçados de exclusão devido aos imensos escândalos de doping, especialmente vindos dos países do antigo bloco soviético, que levaram ao extremo de colocar a Rússia fora dos Jogos, devido ao "doping" estatal, muito antes da invasão russa da Ucrânia, em 2022. 

Quer o automobilismo, quer algumas das aspirantes a integrar o programa olímpico são modalidades onde os casos de doping são escassos, e quando acontecem, o tipo de drogas são mais no sentido do relaxamento - a grande maioria são cannabis, uma droga que está no processo de legalização nos Estados Unidos, Brasil e Alemanha, e já é legal no Uruguai, Canadá, México e África do Sul - do que as habituais drogas de performance, muito encontradas nas modalidades acima referidas. 

O grande problema será este: o Comité Olímpico exigirá o quê em troca da inclusão do automobilismo nos Jogos? Eletrificação total de todas as categorias? Se sim, o espírito da Carta Olímpica estará a ser respeitada? E se for excluída, alguma das modalidades será adequada para os tempos que vivemos? É que o Comité Olímpico Internacional deseja neste momento modalidades que atraiam os jovens para assistir às competições, como tem agora o BMX, o skate, o surf, a escalada e em 2024, o brakedance. O automobilismo, apesar de querer acompanhar os tempos, e dar todas as chances a todos os pilotos, terá de ser convincente para poder, não só entrar, como ficar por muito tempo no programa olímpico. 

Esse é o grande desafio. 

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