Se não fosse assim, se calhar, este seria um grande dia para o automobilismo checo. É que há 60 anos, Mitter acabava o GP da Alemanha no quarto lugar, ainda por cima, num Porsche desfasado, numa equipa liderada por um excêntrico conde neerlandês.
Ainda por cima, na pista que mais adorava. E que iria retribuir esse amor por ser o local do seu acidente fatal.
Nascido a 30 de agosto de 1935 em Krasna Lipa, Schonlinde em alemão, lá ficou nos seus primeiros dez anos de vida. Após os checos expulsarem os alemães dali, reduzindo a vila a metade dos seus habitantes, a sua família foi para Leonberg, ao pé de Estugarda, onde ele começou a correr em motociclos. Após algum tempo, passou para as quatro rodas, começando a andar num Formula Junior, arrecadando vitórias atrás de vitórias. No final, ficou com 40.
Em 1963, a Ecurie Maasbergen deu-lhe a chance de correr num Porsche 718 em algumas corridas. A equipa era liderada por Carel Godin de Beaufort, e os seus carros, já bem desfasados - foram construídos no final dos anos 50 - eram pintados de laranja, por causa da origem da equipa. Beaufort, um "gentleman driver" com alguns resultados de relevo e algumas excentricidades - chegou a andar no Nordschleife com uma cabeleireira dos Beatles como capacete! - achou que Mitter poderia ser uma mais-valia, especialmente no Inferno Verde. Começou em Zandvoort, onde não chegou ao fim, mas quando chegou a Nurburging, sentiu-se em casa.
Não partiu de um excelente lugar - pelo contrário, era 15º na grelha, com um carro com dois anos de idade - e a mais de meio minuto do poleman, Jim Clark. O escocês foi embora e parecia que iria ganhar quando o seu motor começou a falhar - ficou com apenas sete cilindros - e foi passado por John Surtees, piloto da Ferrari, que ali conseguia a sua primeira vitória pessoal, e a primeira ao serviço da Scuderia. Richie Ginther, no seu BRM ficou com o lugar mais baixo do pódio, mas quem brilhava era Mitter, que aproveitando os acidentes de muita gente, como Lorenzo Bandini, Graham Hill ou Bruce McLaren, conseguia um incrível quarto posto com o seu carro já desfasado. E mais incrivel ainda, ficava na mesma volta do vencedor.
O resultado foi o suficiente para que a Lotus o convidasse a correr na sua equipa, nas rondas alemãs. Contudo, não conseguiu grandes resultados, com um nono posto em 1964 e uma desistência devido a uma fuga de água, no ano seguinte.
Mas a partir dali, torna-se num piloto eclético, ao serviço da Porsche. Participa em provas de montanha, sendo campeão europeu entre 1966 e 68, num modelo 910 para este tipo de corridas, consegue um terceiro lugar na edição de 1967 das 24 Horas de Daytona, e em 1969, vence a Targa Florio ao lado de Udo Schultz, num 908/2, num quarteto da marca alemã e ficando na frente da dupla mais consagrada, a constituída por Vic Elford e Umberto Magioli.
Três meses depois dessa vitória, Mitter estava no Nordschleife para participar no GP da Alemanha. Corria num BMW de Formula 2, numa equipa que tinha Hubert Hahne e o austríaco Dieter Quester. Desde 1967 que a marca de Munique estava a participar na Formula 2 europeia, com alguns pilotos de Formula 1 a participar, como Jo Siffert, e em 1969, tinha o seu carro, o 269. Estreado em Hockenheim, foram para Nurburgring para andar ao lado dos Formula 1. Contudo, a 1 de agosto, Mitter tentava fazer uma volta rápida quando perdeu o controlo do seu carro na Schwendenkurz, batendo forte no muro de terra. Mitter acabou por morrer, aos 33 anos, e depois descobriu-se que o carro tinha sofrido uma quebra na suspensão. Por causa disso, os outros carros, o de Hehne e Quester, não participaram na prova.
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