quarta-feira, 9 de agosto de 2023

A imagem do dia





Dan Gurney sempre se preocupou com a segurança. Especialmente porque achava que os capacetes daquele não protegiam o suficiente, especialmente em situações como a projeção de pedras para a cara, que poderiam atingir os óculos, estilhaçá-los e causar ferimentos graves nos olhos, ao ponto da cegueira. 

Ele ainda se lembrava claramente de um incidente potencialmente assustador, muitos anos depois e ter acontecido:

Eu estava a guiar um Ferrari de 4,9 litros [inscrito pelo] Frank Arciero e tentava ultrapassar um carro à minha frente quando este disparou uma pedra debaixo de um pneu traseiro. Passou direto pelo para-brisa. Parecia mais uma bala do que uma pedra. Eu pensei: 'Isso teria realmente magoado!'"

Em 1966, a Bell tinha construído um capacete diferente dos anteriores, o modelo Star, que protegia o queixo de objetos que poderiam voar, como pequenas pedras, especialmente para os "dirt tracks". E claro, ter um capacete destes convinha para os pilotos, que ficariam melhor protegidos. Contudo, o capacete tinha sido feito para as provas de motocross, onde a possibilidade de pedras projetadas pelas rosas era bem maior e os acidentes bem reais. Gurney queria um desses capacetes para ele, e mais determinado ficou quando o seu protegido, Swede Savage, apareceu com um desses capacetes para correr nas provas da Trans-Am.

Gurney conseguiu o seu, um totalmente negro com o seu nome de lado, e usou novo capacete nas 500 Milhas de Indianápolis de 1968, no seu Eagle da All American Racers, uma corrida onde acabou na segunda posição, a sua melhor de sempre na legendária corrida americana. E depois, levou consigo para a Europa, onde começou a usar na sua equipa na Formula 1 - primeiro em Zandvoort,  no GP dos Países Baixos, depois em Brands Hatch, no GP britânico, e mais tarde, no Nurburgring Nordschleife, onde conseguiu ser eficaz contra a imensa chuva que caiu na pista. Claro, causou a curiosidade de outros pilotos e logo em 1969, pilotos como Jackie Stewart, Jacky Ickx, Graham Hill, Dennis Hulme e Bruce McLaren apareceram a seguir com algo que iria marcar o automobilismo para sempre.

Eu não era a pessoa mais baixa nas corridas, então normalmente pegava minha parte das coisas na cara. O capacete integral era muito melhor - como se você estivesse dirigindo um cupê em vez de um roadster aberto. Não sabia se funcionaria na chuva, mas, com o tratamento anti-embaciador no visor, ficou melhor também no molhado. Foi um salto tão grande que foi sensacional.” 

Questionado sobre a razão porque outros pilotos foram um pouco mais retulantes em usar este tipo de capacete assim que foi possivel, ele respondeu: “A natureza humana e a relutância em mudar faziam parte disso. Então houve preocupação sobre se iria embaçar sob essas condições frequentemente difíceis na chuva, mas acabou que não. E algumas pessoas são claustrofóbicas – acho que também havia alguma preocupação com isso”, concluiu.

Gurney deu muitas contribuições ao automobilismo - o "Gurney Flap", um pequeno dispositivo colocado na asa traseira dos seus carros, para ajudar no downforce, foi uma delas - mas o facto de ter introduzido o capacete moderno na Formula 1 é se calhar um das que poucos se lembram.

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