quarta-feira, 11 de outubro de 2023

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As equipas querem que a Formula 1 seja um clube fechado, e se alguém quiser entrar, então... que comprem. Ao longo dos dias depois do anuncio da FIA da chegada da Andretti à Formula 1, na temporada de 2025, as equipas disseram que ou estão contra, ou afirmam, de forma "politicamente correta", que não encontram "valor à competição". 

Mas no fim de semana do GP do Qatar - altura em que estas linhas estão a ser escritas - existe uma boa razão porquê exista esta ação concertada: Lawrence Stroll, o patrão da Aston Martin, aparentemente quer vender a sua quota pela melhor oferta. E ter onze equipas, em vez das atuais dez, "estragaria" o preço de venda que o Stroll Sr. pretende.

A Formula 1 tornou-se num lugar apetecível. Um dos candidatos chegou a dizer, para que fosse escolhida, que estaria disposto a dar 600 milhões de dólares para a "clausula anti-diluição". E clausula é atualmente de 200 milhões, que seria devolvida nos anos seguintes. Quando a Haas chegou, em 2016, Bernie Ecclestone disse que eles tinham de gastar até mil milhões de euros para "merecerem" ficar na Formula 1. 

A competição não quer mais regressar aos tempos do final dos anos 80, inicio dos 90 do século passado, com pré-qualificações e o desaparecimento de equipas como a Tyrrell e a Lotus. E o aparecimento de "gente folclórica", como Jean-Pierre Van Rossem (Onyx) ou Andrea Sassetti (Andrea Moda). Querem um clube fechado, ponto. E se querem entrar, comprem o lugar, não o iremos alargar. Daí a tal oferta de venda do senhor Stroll.

Mas depois pergunto: se é assim, está a vender a sua equipa por sabe-se-lá-quantos-mil-milhões? É para os sauditas comprarem, por exemplo?

Um razão bem forte para que a Formula 1 não queira mudar nada é porque se tornou num lugar apetecível. A Netflix atraiu milhões com o seu "Drive to Survive", os americanos colocaram mais duas corridas no seu calendário, incluindo uma em Las Vegas, e tirando a história das criptomoedas - que despenhou-se com estrondo - nunca entrou tanto dinheiro como agora. Aliás, corre o rumor de que a Apple + quer comprar a Formula 1 por "uma soma não divulgada" (aposto que será na ordem das dezenas de milhares de milhões) e fazer com que todos paguem centenas de dólares por ano. Como se existisse... sei lá, 50 milhões de pessoas dispostas a isso. 

Ou seja, o sonho é transformar a Formula 1 no desporto de muito ricos para ricos. E os outros que babem - e paguem muito bem - para os ver. Olha que não é assim que funciona. 

Contudo, a Formula 1 atual está ainda no tempo em que Bernie Ecclestone mandava na FOM e lhes deu imenso dinheiro a todos eles para que sobrevivessem e, de uma certa maneira, ficassem por ali. Isto, numa altura em que não existia qualquer limite orçamental. Agora temos esse limite - e não sabemos quem controla. Alguém acredita em auto-regulação? - e as equipas estão muito contra novos jogadores no pelotão. Querem 20, nem mais, nem menos. Até querem que a FOM faça dos lugares uma espécie de "franchisings" onde se alugariam ao melhor preço, na ordem das centenas de milhões de dólares, e assim ganhariam todos. 

E claro, que a FIA tenha o mesmo poder que o Rei de Inglaterra, que apenas facilite a vida em termos de calendário e regras. Não creio que Mohamed Ben Sulayem não queria ser o novo "sheikh" na cidade do automobilismo. Quer mais e melhor. Aposto que ele gostaria de ter o poder de Jean-Marie Balestre, há mais de 40 anos. Se for assim, suspeito, tenho de afirmar que o caminho está armadilhado. 

Posso estar enganado, mas fico a pensar: o que aconteceria se a FIA decidir impor a sua vontade às equipas? Quando isso aconteceu, em 2009, as equipas decidiram organizar-se e chegou ao ponto de, no GP britânico, terem anunciado uma competição paralela. A coisa resolveu-se com um compromisso, onde entraram três equipas em 2010 e Max Mosley saiu da organização. 

E claro, nem falo da guerra FOCA-FISA, de 1980-81, onde a Formula 1 quase acabou em duas competições paralelas. 

Não ficaria admirado. Não ficaria mesmo admirado se estamos a caminhar para esse tipo de conflito. Se assim for, ninguém ganha. 

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