Schumacher pode ser muito modesto, ou cauteloso demais, mas creio que ainda não tinha consciência de que tinha um carro bem melhor que julgava ter. Apesar de nessa altura, as suspeitas do seu Benetton B194 ter um controle de tração ilegal se avolumarem, ao ponto da FIA pensar em agir para saber o que há de realidade naquele carro.
Pode-se pensar que a postura cautelosa tenha a ver com essas suspeitas. Se fossem, nada transparecia nem na cara do alemão, nem em Ross Brawn, ou em Flávio Briatore, o diretor desportivo da marca. E grande facto é que todos esperavam uma coisa... e saiu outra.
E Senna, o acossado do momento? Como encararia Imola e os 20 pontos de atraso? Murray Walker também falou com ele no paddock para saber o seu estado de espírito. E ele disse o seguinte:
"Estamos nesta terceira ronda a começar do zero. Basicamente, o nosso campeonato começa aqui, 14 corridas, não 16. Não é uma posição confortável, aquela onde estamos, mas é a realidade, a equipa está consciente do desafio que temos para recuperar a desvantagem sobre a Benetton, bem como o desenvolvimento técnico que temos de fazer para melhorar a performance do nosso carro."
"Temos alguns problemas, é certo, mas acho que temos um bom carro. Temos um bom motor, também, temos de trabalhar nestes problemas, neste momento, e para isso, fizemos algumas modificações para Imola, que temos experimentar no fim de semana esperando melhorar parte das dificuldades que estamos a ter."
"Adoraria ganhar aqui" - respondendo a Murray Walker sobre o facto de Senna ter ganho em três ocasiões e se queria ganhar uma quarta ocasião.
Eram estes os estados de espírito quando chegaram à primeira corrida em solo europeu, uma sequência que só seria interrompida em junho para correr no Canadá, e depois só terminaria em setembro, ou no Estoril, ou em Jerez, porque ainda não se sabia bem se o lugar deixado vago pela Argentina, que não estava pronto para receber a Formula 1, mas estava no calendário inicial, e ali, sentia-se que existia uma fronteira entre um duelo entre dois pilotos ou um campeonato onde seria o desfile de um homem só. E não era aquele que todos esperavam.
De uma certa maneira, o ambiente de Imola parecia ser o de um "match-point" de uma final de ténis. E todos queriam saber se acontecia uma reação. E aqui temos dois estados de espírito constrastantes: Schumacher sereno e confiante, enquanto vemos um Senna preocupado e a sentir que está sob brasas, mas também a pensar também que basta ganhar uma corrida para regressar à luta pelo título. Tem consciência que o carro tem defeitos, foi mal desenhado, e tem de correr atrás do prejuízo. Só quer saber se tem tempo para recuperar alguma coisa. Ele mesmo diz ali, na frente de todos: "o campeonato começa em Imola". Sente a pressão de ganhar.
Naquela quarta-feira de há 30 anos, dois pilotos estão ansiosos para entrar nos seus carros e dar o seu melhor. É um estado de espírito que têm em comum.
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