A última vez que a Formula 1 teve um piloto com essa idade no seu pelotão foi em 1975. Aconteceu com Graham Hill, que nessa temporada tinha a sua própria equipa, guiando o seu carro, e com 18 temporadas atrás das suas costas, numa altura onde o risco de morte era bem grande.
Nessa altura, Graham Hill era uma excepção. Arrastava-se no fundo do pelotão, correndo apenas pelo prazer e a adrenalina da condução. Existiam cartoons com ele a levar uma longa barba, qual Matusalém, e todos sabiam que, se não tivesse montado a sua equipa, teria sido "expulso" dos Grandes Prémios. Apenas quando ele não se qualificou para o GP do Mónaco, a sua corrida favorita, é que decidiu pendurar o capacete e se dedicar à sua equipa. Ironicamente, não viveria muito mais tempo, porque a 29 de novembro desse ano, despenhou-se ao tripular o seu avião, nos arredores de Londres.
Ao contrário de Hill, Alonso é competitivo. Começou com 19 anos, e tirando a interrupção entre 2019 e 2020, tem 384 Grandes Prémios no seu palmarés. Tudo indica que será o primeiro piloto a chegar aos 400 Grandes Prémios, muito mais que os 176 que o piloto britânico conseguiu, demonstrando que hoje em dia, o calendário está bem mais recheado. Mas mais que isso, o facto de ter tido oito pódios em 2023, e o quarto lugar final da geral, demonstra essa sua competitividade. Ao ponto de bater constantemente o seu companheiro de equipa, que é 17 anos mais novo que ele.
Não deveria ser o contrário?
E isto deixa-nos a pensar sobre ele e a capacidade destes pilotos de guiar um carro onde os coloca constantemente sob pressões de 5 e 6 G's. Precisam de ser super-homens para aguentar estes carros, terem reflexos hiperhumanos, mas sobretudo, temos de falar sobre a longevidade desta gente. Parecendo que não, se ele se mantiver competitivo em 2026, a Aston Martin poderá querer renovar o contrato, colocando-o numa idade que não se vê desde os anos 50, com gente como Juan Manuel Fangio, que guiou um Formula 1 até quase aos 47 anos. Uma idade que Alonso alcançará no final de julho de 2028, e se calhar, com ideias de alcançar os 500 Grandes Prémios.
E depois penso em Lewis Hamilton ou até Max Verstappen. Parecendo que não, Hamilton fará 40 anos no inicio de 2025, altura em que sentará num Ferrari. Tem 336 Grandes Prémios, mas com mais duas ou três temporadas em cima, chegará e ultrapassará as 350 corridas na sua carreira. E se a Ferrari lhe der um carro capaz que o colocar de novo no pódio, é bem provável que ganhe motivação para correr até ao final da década, por exemplo. E nem falo de Max, que tendo apenas 26 anos, tem já 189 Grandes Prémios, e já vai na sua décima temporada. Três décadas antes, esses números seriam de veteranos, 12 ou 14 anos mais velhos que ele.
São gente excepcional, são sobrehumanos? Capaz. E pergunto-me: correrão "para sempre", ou seja, estarão dentro de um carro enquanto o corpo lhes permitir. Se sim, quando é que atingirão o limite? 50, 55, 60? Se calhar... sim. E mais além disso.
Basta olhar para nós mesmos: à medida que avançamos no tempo e começamos a ter hábitos mais saudáveis, os avanços na medicina e na genética começarão a beneficiar a nós, os "comuns mortais" - as pessoas que alcançam o seu centenário, apesar de serem uma elite, é uma tendência que irá aumentar - esta gente não quererá pendurar o capacete e fazer outras coisas na vida? Especialmente numa Formula 1 que quererá ser elitista, deixando apenas 20 lugares para preencher?
Aliás, pergunto a mim mesmo: será que a Formula 1 quer que eles fiquem, transformando uma competição com "lugares vitalícios"?
Pequena adenda: claro que não esqueci de gente como Emerson Fittipaldi, Mário Andretti ou A.J. Foyt, gente que correu até e para além dos 50 anos, mas eles andaram na IndyCar, que não é tão exigente como a Formula 1 e aqui, o que importa falar é da Formula 1, em termos específicos, e como gente mais velha está a ser capaz de aguentar estes bólidos, continuando no topo da forma.
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