quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Ayrton Senna saía do GP do Pacífico sob brasas. Apesar do acidente da primeira volta não ter sido por culpa dele - tinha sido tocado de traseira por Mika Hakkinen e depois, foi batido de lado pelo Ferrari de Nicola Larini - o facto do seu rival ter saído daquele Grande Prémio com duas vitórias e 20 pontos, deixando o segundo classificado, Rubens Barrichello... a 13, parecia deixá-lo atordoado por pensar não ter concorrência. 

Ao longo da corrida, Senna ficou no muro das boxes a ver passar Michael Schumacher, no seu Benetton. E não foi para ver passar os carros: já existiam rumores sobre a legalidade do Benetton B194, projetado por Ross Brawn. E porquê coloco aqui imagens de Nicola Larini? Pois bem, parece que os rumores tinham um fundo de verdade. 

Larini, piloto de testes da Scuderia, estava ali a substituir Jean Alesi, que se tinha lesionado no pescoço num acidente de testes. Ali, em Aida, disse à imprensa italiana que eles estavam a usar controlo de tração no seu carro numa das sessões de treinos. E isso tinha sido uma das ajudas que a FIA tinha banido antes da temporada começar. Claro, ele apressou-se a desmentir o que tinha dito, mas a polémica estava instalada.  

Toda a gente sabe que quando a FIA decidiu banir as ajudas eletrónicas, oram embora coisas como o controlo de tração e a suspensão ativa. Mas Max Mosley queria ir mais longe, chegou a pensar em banir as caixas de velocidades semiautomáticas, mas as equipas não deixaram que isso acontecesse. Bem vistas as coisas, dos items banidos no final de 1993, apenas o controlo de tração foi retomado, anos depois. E saber que isso reentrou nos carros demonstra que aquelas eram máquinas potentes e os pilotos tinham dificuldades em domá-los.   

Mas independentemente do que se passava, Senna estava confuso. E pior, foi apanhado de surpresa por Schumacher. 

Temos de entrar na mente de Senna para entender mais um pouco o cenário desta primavera de 1994: o próprio piloto sentia-se órfão de Alain Prost. A sua mente, ao longo de quase toda a sua carreira, sempre esteve dirigida a ele, era o seu ponto de referência. A temporada de 1994 era a primeira onde sabia que ele não regressaria mais, o capacete pendurado era definitivo, apesar da tentativa de Ron Dennis de o ter na McLaren, agora que tinha motores Peugeot.

Senna... não direi que estava perdido, mas subestimou Michael Schumacher. Sabia que era bom, mas não tinha reagido à "explosão" do alemão, que independentemente de poder ter um carro... controverso (as acusações nunca foram provadas), estava a demonstrar naquele momento aquilo que agora sabemos: um dos melhores pilotos de sempre. Mas Senna não reparou, foi apanhado de forma desprevenida, no meio de pensamentos sobre a "orfandade" por causa de Prost, e a luta para fazer no FW16 um carro que pudesse ser agradável, controlável, domável para ele. E não era nada disso.

E foi com esse estado de espírito que Senna partiu para Imola. Aqueles não eram tempos agradáveis. Ninguém entendia este cenário, e o primeiro a não entender era ele. 

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