segunda-feira, 29 de abril de 2024

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O brasileiro Rubens Barrichello chegou a Imola com a moral em alta. Tinha sido dos poucos que tinha pontuado nas duas primeiras corridas do ano, e ainda por cima, em Aida, tinha conseguido o seu primeiro pódio da carreira, e a primeira da Jordan. Aos 21 anos, e no inicio da sua segunda temporada completa, tinha um bom carro e a capacidade de fazer mais e melhor.  

Mais a razão pelo qual ele tinha todos os olhos em cima era que, num conjunto de circunstâncias, era o segundo classificado, com sete pontos. Mais sete que... Ayrton Senna. Digamos que era o "brasileiro errado" que estava numa posição superior, um pouco melhor que o esperado.

Com isso tudo, entrou na pista e... bateu forte na Variante Bassa, a chicane anterior à meta. Na sua primeira volta lançada. Nas imagens, vê-se que entrou com excesso de velocidade na chicane, tentou corrigir o erro, mas foi tarde. O impacto foi bem forte, e a berma não ajudou, porque lançou o carro rumo aos pneus. E se tivesse mais meio metro, teria sido lançado para as redes de proteção, fora da pista, e poderia ter sido muito pior. 

Lá estava ele, preso naquele Jordan capotado e destroçado, endireitado com intenso furor pelos seguranças. Inconsciente, com a língua dobrada. Afogando-se”, recordava o jornalista italiano Giorgio Terruzzi, um dos muitos que naquele fim de semana cobria aquele Grande Prémio.

Lembro-me de falarem do acidente no Telejornal daquela noite. O jornalista em questão referiu que "ele tinha escapado à morte. Achei um exagero, mas o que não sabia, no alto da minha idade adolescente, é que... tinha razão. Porque não sabia que tinha sofrido um choque de 90 G's. O Dr. Syd Watkins disse que, quando chegou, ele engolira a língua e não respirava. A manobra imediata foi tirá-la do lugar em que estava, para poder respirar normalmente, antes de o tirar do carro e transferi-lo para o centro médico. 

Em entrevista subsequente, Barrichello disse que ficou morto por seis minutos. Confirmou que a causa do acidente foi um excesso dele, que entrara rápido demais na Variante Bassa e quando quis corrigir, foi direito ao muro de pneus. 

Quando acordou, no centro médico, Senna estava lá, querendo saber do estado do seu compatriota. Tirando a comoção cerebral, o nariz partido e uma fratura num dos pulsos, ele estava bem, tanto que foi correr 15 dias depois, no Mónaco. Mas hoje em dia, se perguntarem diretamente sobre esse dia, não tem recordações. Sabe o que aconteceu, por aquilo que contou e pelas imagens que existem, mas dentro dele, não existe uma reconstrução mental desses eventos. A pancada foi suficientemente forte para que nada existisse no seu cérebro sobre esse momento. 

Mas claro, não impediu que tivesse uma carreira longa - correria até 2011, com passagens por Stewart, Ferrari, Honda, Brawn GP e Williams. Contudo, naquela sexta-feira de abril, uma parte dele ficou espalmado naqueles muros de proteção vermelhos e brancos. E claro, sempre afirma que naquele dia, nasceu de novo. 

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