sexta-feira, 5 de abril de 2024

Uma espada de Dâmocles


Que toda a gente sabe da situação periclitante da Williams, que não pode contar com um terceiro chassis até à corrida de Miami, mas quando os pilotos querem ir ao limite para se mostrar, apesar dos avisos, é um sinal de coragem... ou de perfeita idiotice. Foi o que aconteceu na primeira sessão de treinos livres do GP do Japão, em Suzuka, nesta sexta-feira, quando Logan Sargent perdeu o controle do seu carro entre as curvas Dunlop e a Degner, quando fazia uma volta rápida. 

O incidente causou danos no chassis, e a amostragem da bandeira vermelha, que condicionou uma sessão onde existiu ameaça de chuva, que aconteceu realmente na segunda sessão de treinos livres. Dewido aos danos, Sargent não participou no segundo treino liwre. 

Segundo James Vowles, apesar dos danos, as reparações efetuadas no chassis após o acidente de Alexander Albon em Melbourne aguentaram-se no incidente de Sargeant em Suzuka. Contudo, a mesma equipa confirmou que as atualizações introduzidas no FW46 para esta prova estavam montadas... no carro de Sargeant. Mas a equipa acredita que a sua participação no resto do fim de semana não está em causa. 

Já se falou um pouco sobre isto, e claro, especula-se. Sobre a real situação da Williams, de se algum dia irá regressar aos dias de glória de Frank Williams, entre 1979 e 2004, sobre quem foi o causador da decadência - se a Claire, se mais alguém - sobre o porque é que não cobriram esta parte, ainda por cima, numa altura em que os seus pilotos tem de dar tudo para serem competitivos, deixando de lado o risco de bater no muro. Mas eu creio que a Williams está nesta situação porque não se cuidou desta parte: de não ter um terceiro chassis pronto para estas emergências. Ou seja, Vowles e os seus associados em Grove e não pensaram na ideia dos seus pilotos não baterem logo na primeira sessão de treinos livres do primeiro GP do ano. E se não é assim... era quase. 

No fundo, são escolhas. É o "risco contra recompensa", um outro tipo de "win or wall". Construir um chassis não é só uma questão de dinheiro - cada um dos chassis custa 1,1 milhões de euros - mas é a duração que conta. São entre 300 a 500 horas para construir um chassis em fibra de carbono, e claro, é só uma parte do processo. Primeiro, projeta-se, depois coloca-se um "mockup" a escala reduzida num túnel de vento, para otimizar em termos aerodinâmicos, e claro, ocupa-se tempo. Que é limitado, por imposições da FIA. O chassis que é construído tem de estar com os cálculos perfeitos, não pode ter nenhum problema em termos de "downforce", por exemplo, porque isso poderá comprometer toda uma temporada. 

Em resumo, trabalhar numa equipa de Formula 1 é viver sob pressão constante, e uma falha é a "morte do artista". Não no sentido físico do termo, mas uma má classificação no campeonato de construtores significa menos algumas dezenas de milhões de euros no orçamento do ano seguinte. Ou seja, trabalhar dentro da fábrica é tão stressante quanto ir aos circuitos, 24 fins de semana por ano, de março a dezembro. Mas, como eles sabem, este é um problema que pode ser resolvido. E será resolvido, com ou sem agitações mais sérias até depois do primeiro Grande Prémio americano.  

PS: Enquanto escrevia este artigo, descobri que a Alpine também anda sem um terceiro chassis na sua equipa. E curiosamente, são as duas mais mal classificadas do pelotão de 2024. Como disse, são escolhas.

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