quarta-feira, 12 de junho de 2024

A imagem do dia


O que é que Francoise Hardy tem a ver com o automobilismo? Boa pergunta. Mas quem anda nas redes sociais relativas ao automobilismo, pareceram muitas fotos dela sentada num carro de Formula 1, ao lado de gente como Jack Brabham ou com um capacete colocado na sua cabeça. E não falo de agora, falo de ver isto há muito tempo, especialmente pelos mais velhos e nostálgicos de um tempo que existiu, mas nas cabeças deles, está mais... aumentado. 

Mas a cantora e atriz francesa, morta ontem aos 80 anos de idade, teve uma única aparição no automobilismo. E como já viram, foi o suficiente para ser colocada num pedestal do qual, se calhar, ganhou a eternidade. Então, é hora de contar a sua história. 

Estamos em 1966. Francoise Hardy, nascida em Paris a 17 de janeiro de 1944, tinha começado a aparecer muito jovem na cena musical local, a tal "geração yé-yé" que tinha gente como Sylvie Vartan, Johnny Halliday, France Gall ou Serge Gainsbourg, ídolos do rock e pop francês. Aos 21 anos, Hardy tinha álbuns de muito sucesso, espetáculos em lugares míticos como o Olympia, em Paris, e passagem frequente no mítico programa de rádio "Salut les Copains". Até tinha participado no Festival Eurovisão da Canção, representando... o Mónaco. (não, não é piada, artistas franceses poderiam representar países francófonos, como a Suíça, o Luxemburgo e a Bélgica). E claro, já tinha participado em alguns filmes. Muito relutantemente, ela afirmou anos depois, porque pensava que não tinha talento para isso. 

Um certo dia, pouco antes de 1966, ela estava numa discoteca em Londres quando se cruzou um John Frankenheimer. Realizador em ascensão no mundo de Hollywood, achou que ela seria ideal para ser um dos interesses amorosos de uma das personagens. Ela, que não queria estar num set de filmagens - tinha participado em alguns e detestou - foi convencida pelo seu manager da altura, Jean-Marie Périer, para participar, por dois motivos: imagem e dinheiro. 

E o orçamento era enorme pra a altura: nove milhões de dólares.

Totalmente filmado na Europa - Reino Unido, França, Bélgica, Itália e no Mónaco, seguido os circuitos - foi muito fiel ao espírito dos Grandes Prémios, com pilotos a serem consultores técnicos e até a terem pequenos papéis. Bruce McLaren até forneceu a sua equipa, recém-formada, para ser a ficcional equipa japonesa Yamura Racing, o que deu uma boa injeção para a sobrevivência da sua equipa nestes primeiros tempos. 

O papel de Hardy era o de Lisa, a namorada de Lino Barlini, o segundo piloto da Ferrari, um jovem arrogante com aspirações de ser o próximo Alberto Ascari. Tenta bater o piloto principal, Jean-Pierre Sarti, papel interpretado por Yves Montand (outro cantor francês que gostava de ser ator), e o auge acontece no GP de Itália, onde o vencedor poderia ser o campeão do mundo. E Lisa, de uma certa forma exasperada pelo egoísmo de Barlini, decide deixá-lo antes da corrida italiana. Barlini conseguiu o que queria, quando Sarti sofre um acidente mortal na oval de Monza e Barlini é obrigado a retirar-se quando a Ferrari sabe o que aconteceu ao seu piloto. No final, Pete Aron ganha e é o campeão do mundo. 

O filme tornou-se num enorme sucesso, as cenas dentro dos carros tornaram-se memoráveis - aliás, tornaram-se um preludio dos atuais "camera-cars" - e para além dos 20 milhões de dólares de lucro, ganhou três prémios da Academia de Hollywood, todos na área técnica. 

Quando à carreira dela... apesar de ter feito mais alguns filmes na década seguinte, não foi mais do que algumas cenas pequenas, nunca levando a ideia de atuar muito a sério, especialmente depois de 1976, o seu último filme. Por incrível que pareça, o seu auge cinematográfico foi num filme sobre automobilismo. 

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