Um deles era Randy Lanier. E se os Whittington irão ter a sua luz na ribalta, Lanier merece, por si só, um filme só dele (há um documentário na Netflix), pelo seu envolvimento, pela sua fuga rocambolesca e posterior captura, e uma pena de prisão perpétua, do qual cumpriu... 24 anos.
Atualmente com 70 anos, Lanier começou a correr em 1978, nas corridas de Sport sancionadas pela Sports Car Club of America, acabando por ganhar na classe E, de produção, com um Porsche 356. Em 1981, entrava nos GT's, e participou nas 24 Horas de Daytona de 1982, num carro da NART em conjunto com Bob Wollek e Edgar Dören, onde rodou em terceiro, até bater, danificando a suspensão.
A partir dali, passou a correr pela Preston Hehn, um colecionador de carros clássicos e dono de um concessionário na Florida, e começou a colecionar resultados de relevo, como pódios. E no inicio de 1984, decidiu dar o passo maior: montar a sua equipa, a Blue Thunder.
Ali, encomendou dois chassis à March, e foram correr na classe GTP. Com ele foi correr Bill Whittington, e ganharam seis corridas, conseguindo 11 pódios ao todo. Pequeno detalhe: eles corriam sem patrocínios, o que causou algumas desconfianças no paddock. Com o título no bolso, Lanier foi para a etapa segunte: a CART.
Correndo pela Arciero Wells, a bordo de um Lola, não conseguiu nenhum resultado, falhando até a qualificação para as 500 Milhas de Indianápolis. Na realidade, o chassis não era o ideal e pagou pela inexperiência nas ovais. Mas ele aprendia rápido e tinha fundos de maneio que... começavam a levantar suspeitas. Nos tempos livres, Lanier, que tinha barcos rápidos, trabalhava em conjunto com outros membros do gang - um deles era Ben Kramer, sobrinho-neto de Meyer Lansky, um dos patrões da Máfia nova-iorquina, na década de 20 do século XX - iam buscar a carga para poder contrabandear para terra, ganhando muito dinheiro com as transações. O esquema era grande e para além de barcos, também havia aviões e camiões, transportando a carga pela calada da noite e fora do radar das autoridades.
Em 1986, Lanier manteve-se na Arciero Wells, e os resultados melhoraram bastante. Foi sexto nas 500 Milhas de Indianápolis, um resultado honroso, e conseguiu até o prémio de "Rookie do Ano"!
Contudo, por essa altura, o FBI cerca os traficantes. Bill Whittington é preso e o nome de Lanier começa a ser falado. Por uma coincidência, ele faz uma grande carga e tem um acidente a mais de 330 km/hora em Michigan, acabando por fraturar o fêmur. Enquanto está em convalescença, o seu cunhado é preso e as autoridades negam-lhe a fiança. Lanier é acusado, aparece nas sessões de julgamento e até chega a acordo com as autoridades para testemunhar, mas recusa-o quando descobre que tem de testemunhar contra o seu sogro. E enquanto espera pela sentença... decide fugir.
A fuga é longa, demora mais de um ano. Primeiro, tenta enganar os agentes indo para Porto Rico, mas acabou por ir para e Europa, primeiro para França, depois para Monte Carlo, e acaba por regressar às Caraíbas, mais concretamente à Antígua. Tenta passar despercebido, mas o FBI não desistira dele - estava na lista dos mais procurados - e é apanhado a 26 de outubro de 1988, enquanto pescava. Extraditado para os Estados Unidos, é sentenciado a prisão perpétua, numa altura da história onde o governo americano estava em plena guerra contra os cartéis de droga, com os traficantes - este é o tempo de Pablo Escobar e outros - a receberem o mesmo tratamento de homicidas. Daí ele receber prisão perpétua sem chance de liberdade condicional. Então com 35 anos, todos pensavam que iria passar o resto dos seus dias na cadeia.
Então, um dia em 2014, 24 anos depois, ele é libertado. As razões tinham ficado seladas debaixo de um acordo secreto com o Estado, que seria parcialmente levantado depois em 2019, o seu cunhado ter interpelado um apelo nesse sentido, e do qual foi parcialmente concedido. Descobriu-se que ele era elegível a um acordo de redução de penas.
No meio disto tudo, Lanier regressou ao automobilismo, trabalhando com Preston Hehn, e escreveu a sua autobiografia, publicada em 2021 em conjunto com A.J. Baime, o mesmo autor de "Go Like Hell", que serviu de base para "Ford x Ferrari". Ah, e quando corre de quando em quando nos GT's, promove... cannabis medicinal! Ele apareceu 40 anos antes de tempo, tenho a certeza.
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