domingo, 3 de novembro de 2024

As imagens do dia





Este GP brasileiro foi arrancado a ferros, digamos assim. Mas Interlagos é uma grande pista, tem um grande público - e agora este ano, com os argentinos, será mais - e quando a chuva aparece, ainda consegue ser melhor. Em muitos aspetos, é um grande democrata, implica mais do piloto que do carro, e o que vimos hoje foi esse triunfo.

Mas também nesta tarde de domingo, queria mostrar alguns momentos que simbolizam esta corrida, e a Formula 1, em geral. Como retratos do momento, o contrário da frase "a imagem que vale por mil palavras", aqui explico alguns dos momentos desta corrida, que acabam por ser momentos que decidem este campeonato. E acho isso mesmo: hoje, o campeonato foi decidido debaixo de chuva, em solo brasileiro, e mostrou quem é melhor piloto, deixando os carros de lado. 

Momento 1: Lance Stroll saiu na volta de aquecimento, acabando na gravilha.

As imagens desse momento apareceram nas redes sociais, e claro, as pessoas são cruéis. Sempre foram, especialmente quando se trata de Lance Stroll, cujo pai comprou a Aston Martin e gastou centenas de milhões de dólares - o último dos quais, quando contratou Adrian Newey para trabalhar nos chassis, a partir de 2026. É o piloto menos adorado do pelotão e pior, tudo isto acontece no Brasil, que tem como piloto de reserva um brasileiro, Felipe Drugovich, campeão de Formula 2 em 2023.

Das bancadas, ouvia-se "Drugovich, Drugovich". E momentos depois, quando acabou na gravilha, os insultos viraram para "burro, burro, burro!

Os brasileiros, como outras nações automobilísticas por excelência, acham-se numa espécie de "direito divino" para ter os seus pilotos na Formula 1, e desde 2020, não tem. E quando reparam no talento desperdiçado por um filho de papá... não perdoam. 

Um amigo meu disse isto nas redes sociais: "Hamilton homenageou Senna antes da corrida, Stroll homenageou Prost na volta de apresentação." Sem dúvida, o piloto canadiano está sob pressão. 

Momento 2: A conferência de imprensa pós-corrida de Lando Norris.

Lando Norris, sexto classificado do Grande Prémio, falou o seguinte na conferência de imprensa pós-corrida: "Tu fazes uma aposta e lucras com isso. Isso não é só talento, é sorte". 

Sinceramente, quem viu a corrida, e depois ouviu isto, tende a pensar que é conversa de mau perdedor. Ele partiu da pole-position e perdeu-a na primeira volta para George Russell, ao mesmo tempo que MaxWerstappen ganhou cinco lugares na grelha, no começo de uma das melhores corridas da sua carreira. Norris errou algumas vezes na corrida, e acabou num pálido sexto lugar, perdendo pontos e se calhar, entregou o campeonato ao piloto neerlandês. 

Max é um tubarão, um assassino. As manobras de defesa que ele anda a fazer contra Norris nas corridas anteriores podem ser censuráveis, mas o britânico não tem esse "killer instinct". Pode ter outras coisas, ritmo e velocidade, agora que tem um excelente chassis e está na posição de conseguir dar o título de Construtores à McLaren, algo que não acontece desde 2008, mas é porque Oscar Piastri também colabora. E nos momentos decisivos, ele encolhe, ou sai perdedor. 

E há algo intrinsecamente errado na declaração dele. Para teres talento, tens de ter sorte. Max, em 2016, em Interlagos, e debaixo da chuva, teve uma manobre onde perdeu a traseira, e conseguiu controlar o carro, não só evitando bater no muro, como seguiu em frente e conseguiu regressar ao ritmo. Se fosse outro, teria batido no muro ou parado na pista e perdido tempo precioso. Sangue-frio? Sim. Mas também sorte. E com sorte, também ganhas corridas e campeonatos. 

E há outra coisa que está contra Norris: como é que faz pole-positions se no dia seguinte, não sabe arrancar bem e as perde na primeira curva? Nunca vi isso em Senna, Schumacher, Prost, Hakkinen, Montoya... nem sequer Gilles Villeneuve, que só conseguiu duas poles na sua vida. Se fosse eu, aconselharia o Norris a ver os filmes das partidas do canadiano e ver como ele conseguia passar seis ou oito carros para estar entre os da frente. Ou então, ver a partida do Max esta tarde, da 17ª posição.        

Eu temo que Norris seja em secundário, como Mark Webber ou David Coulthard. A sua chance é agora e irá perdê-la.   

Momento 3: A conferência de imprensa pós-corrida.

Max Verstappen, bem-disposto, questionou: “Estou curioso para saber onde andam os media britânicos por aqui. Será que tiveram que correr para pegar o voo?” 

A sala explodiu em gargalhadas.

Max poderá ter agora uma razão para se vingar da imprensa britânica. Aguentou durante todo este tempo a arrogância de - não da imprensa especializada - mas de uma certa imprensa tabloide que, nacionalista que é, sempre torceu para os seus pilotos, que acharam serem melhores que ele. Em muitos aspetos, aguentou as suas declarações - e a tensão entre ambos os lados começava a ser palpável ao longo dos meses - e hoje exerceu a sua vingança. E pode ter esse direito, e claro, no final, ganhará o campeonato.

Mas isto dá voltas. Apesar de hoje poder mandar a "boca", ganhou sarna para se coçar. Certa imprensa - voltem a ler, tabloides - não o perdoará. Guardará a humilhação para o dia onde se podem vingar. Isto não acaba aqui, se quiserem.

Mas hoje, claro, é o dia dele. 

Estes foram os momentos de um domingo de chuva em Interlagos. E é uma pegada, um momento na Formula 1, se calhar para mais tarde recordar.  

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