Contudo, ambos os Whittington têm algo do qual ninguém os irá tirar: eles ganharam as 24 Horas de Le Mans, num Porsche 935, ao lado do alemão Klaus Ludwig, que mais tarde terá uma carreira longa e proveitosa na DTM alemã. E ambos bateram outro Porsche 935 guiado por Rolf Stommelen e outros dois americanos, Dick Barbour e... Paul Newman. Esse mesmo, o ator de Hollywood.
Se anos depois, eles - mais gente como Randy Lanier e a dupla pai/filho John Paul - transformariam a IMSA na "International Marijuana Smugglers Association", em 1979, os irmãos Whittington (Don, nascido em 1946, e Bill, nascido em 1949) já tinham uma carreira no automobilismo, na Endurance, IndyCar e NASCAR, porque eles eram filhos de Don Whittington, Sr., que tinha ganho o campeonato USAC em 1957 e 59.
E quanto a Le Mans, já tinham lá estado em 1978, noutro 935, inscrito por eles mesmos, ao lado do austríaco Franz Konrad, onde não acabaram a corrida.
Em 1979, ambos já tinham um rico património: proprietários da pista de Road Atlanta, donos de uma coleção de aviões da II Guerra Mundial, chegaram a Le Mans inscritos pela Konrad, com um 935 à espera. Cada um deles iria pagar 20 mil dólares para guiar nas 24 Horas de Le Mans, mas alguns dias antes da corrida, ambos os lados - os Whittinghton e Erwin Kremer, dono e fundador da equipa - se desentenderam por causa de Ludwig, que era mais rápido que os dois e iria ser o primeiro a correr. Um deles perguntou quanto é que era preciso para inverter a decisão, ao que Kremer respondeu de forma ligeira: "o carro é vosso por 200 mil dólares".
Os irmãos responderam: "pode ir ao trailer e recolher os 200 mil, e nem mais um tostão". Kremer, que vendia os carros por um preço bem inferior, ficou em choque com a resposta. O dinheiro estava num saco trazido pelos irmãos para o efeito, com dinheiro para comprar mais carros, se fosse necessário (trouxeram três 935 para Road Atlanta, onde correram na IMSA daquela temporada). E claro, foram os primeiros a guiar.
O carro era antigo, de Grupo 5, e os mais novos - e favoritos - eram de Grupo 6, de Protótipos, onde estavam os Rondeau e os Lola, ambos com motores de 2 litros, e os Porsche 936, de fábrica, com cockpit aberto, que eram patrocinados pela Essex, de David Thiemme, que nesse ano, queria espalhar o seu nome nos quatro cantos do automobilismo, porque nessa altura também estava na Formula 1, a despejar dinheiro na Lotus. E entre os carros de outras categorias, estava um BMW M1 desenhado como "Art Car" por, nada mais, nada menos, que Andy Warhol, e na corrida foi guiado por uma dupla francesa, Hervé Poulain e Marcel Migot, e o jovem alemão Manfred Winkelhock.
Na qualificação, os 936 foram os mais rápidos, com Bob Wollek a ser o melhor, seguido por Jacky Ickx. Wollek sofreu um furo a alta velocidade nas Hunaudiéres, mas não houve mais do que um susto. Por causa disso, os carros da casa de Weissach receberam novas jantes, suficientemente seguros contra furos desse tipo. Klaus Ludwig conseguiu o terceiro melhor tempo no seu 935, o melhor dos Grupo 5.
O sábado da corrida começou com sol e calor, com os 936 a mandar na corrida nas primeiras horas, seguido dos dois Mirages de Grupo 6. Ickx perdeu tempo quando se descobriu que as novas jantes eram mais largas que as antigas e tocavam nos discos dos travões. Mais tarde, quando trocou de lugar com Brian Redman, este furou a alta velocidade, e apesar de não ter batido em lado algum, perdeu 17 voltas no processo, perdendo as chances de triunfo. Enquanto isso, o 935 da Kremer era quinto, ao final de duas horas de corrida.
Duas horas depois, problemas para o carro de Wollek: o motor não funcionava plenamente, e iriam perder mais de meia hora nas boxes, para substituir a bomba de combustível e respetivos injetores. E com isso, o outro Porsche estava fora da luta pela vitória.
Com isso, quem estavam na frente eram três 935, os dois primeiros da Gelo Racing, e no terceiro posto, o da Kremer, com os irmãos Whittington e Ludwig. Quinto era o 935 da Dick Barbour Racing, com o seu proprietário ao volante e o ator de Hollywood. Isso coincidiu com o inicio da noite, e nas quatro horas seguintes, os carros da Kremer e da Gelo começaram com a sua luta pelo comando da corrida. Apesar de alguns percalços - um dos carros da Kremer sofreu um incêndio nas boxes, mas regressou à pista - os 936 oficiais tentawam recuperar o tempo perdido. Tinham chegado ao terceiro lugar, com Wollek e o americano Hurley Haywood, mas a corrida de Ickx e Redman acabou prematuramente com um a correia do motor partida, e para piorar as coisas, receberam assistência exterior, acabando na sua desclassificação.
Pelas quatro da manhã, os 935 da Gelo desistiram, uns com alguns minutos do outro, e os Kremer ficaram na frente, com Ludwig na frente. Duas horas depois, a chuva caiu na região de Le Mans, e o carro da Dick Barbour Racing era segundo, ameaçado pelo 936 sobrevivente de Wollek e Haywood, que tinha recuperado ate à terceira posição. Este lá chegou, mas pouco depois das 8 da manhã, foi afetado por problemas de motor, que o arrastou até às boxes. Eles não foram resolvidos e pelas 10 da manhã, estavam fora da corrida.
Parecia que iria ser um passeio até à meta, mas perto das 11 da manhã, o carro parou nas Hunaudiéres, com Don Whittington ao volante. Tinha um problema na bomba de combustível, cuja correia tinha saído do lugar. Contudo, ele tinha um suplente no carro, para ocasiões como esta, colocou uma correia nova, suficiente para poder circular até às boxes. Ali, foram feitas reparações que incluíram um parafuso serrado para poder caber a nova bomba, maior que a anterior, mas no processo perderam 23 minutos, seis voltas. Quando regressaram, perto do meio dia, Rolf Stommelen acelerava para os apanhar, se calhar querendo dar um final de Hollywood para Le Mans. Mas a 20 minutos do final, e com o carro da Kremer "à vista", um pistão furado levou a que o 935 da Dick Barbour abrandasse e desistisse da perseguição. Depois de duas voltas, decidiu parar o carro antes da meta e esperou pelo momento em que eles cruzassem a meta para poder fazê-lo. No final, ambos ficaram com uma diferença de sete voltas.
Se Whittington foram os surpreendentes vencedores, o público aplaudia imenso os segundos classificados, apenas porque num dos carros estava um ator de Hollywood que adorava correr. E mais: ao contrário de Steve McQueen, que quase uma década antes queria correr ali e não tinham deixado, Newmann correu e colheu os frutos de uma quase vitória. Por causa dos problemas e da chuva, este foi a corrida mais lenta desde 1958.
Uma adenda final: ambos os carros voltaram a defrontar-se um mês depois, nas Seis Horas de Watkins Glen. As triplas eram as mesmas que em Le Mans, e a corrida foi muito mais competitiva, onde a liderança trocou entre eles por 12 ocasiões. E o final foi como em Le Mans, com Whittington e Ludwig a saírem vencedores.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...