Poderemos falar porque é que a Formula 1, neste dias de hoje, teme a chuva. A razão? Não está preparada, simples. Posso falar dos maus pneus da Pirelli, uma inutilidade, aparentemente - os azuis, não os verdes, os intermédios. Poderemos também falar da pista em si, que aparentemente, com as mais recente intervenções, o escoamento da chuva piorou, especialmente em tempestades como aquela. Circulou ontem - e ainda circula - um vídeo onde veículos de todo-o-terreno passam sobre uma poça de água grande, do qual esta se acumulou ali por ação da gravidade e nada fazia escoar. Uma falha grave, imperdoável se fosse num autódromo europeu, por exemplo.
Mas também lembro de Suzuka 2014. Uma corrida debaixo de um tufão, onde os organizadores não quiserem alterar os horários, e acabou em tragédia. Esta geração mais nova já não aceita a morte numa competição como esta, não só porque é imoral, como também dá um grande prejuízo à competição.
Resultado final: a qualificação acontecerá às 7:30 da manhã de domingo, e a corrida às 12:30. E as razões são bem simples: o tempo será pior neste domingo. A última vez que a Formula 1 começou bem cedo foi há 40 anos, em Dallas. E foi por causa de um asfalto que derretia com o calor, e tentaram correr sem acabarem por ser cozidos dentro dos seus cockpits...
Com as portas abertas bem cedo - com algum atraso, mas aconteceu - a qualificação começou com céu carregado a asfalto húmido. E por causa disso foram logo para a pista, marcar tempos e despachar, digamos assim. Mas isso da pressa, como sabem, é inimiga da perfeição, apesar de terem calçado os pneus de chuva.
E nos primeiros riscos, as saídas. Primeiro, Liam Lawson, depois Lance Stroll, que por muito pouco, poderia ter ficado preso na relva, mas continuou. Lando Norris queixava-se do "acquaplaning", e Valtteri Bottas arriscou, colocando intermédios. Primeiros tempos feitos... o primeiro despiste sério, o de Franco Colapinto, que acabou nas barreiras e fez acionar a bandeira vermelha.
Os minutos passados a tirar o carro do piloto argentino foram suficientes para que caísse uma carga de água no circuito, e claro, os que tinham pneus intermédios acabariam por calçar os de chuva, e aguentassem até esta abrandar. Essa gente, especialmente os que estavam na área de eliminação, só tinham uma coisa em mente: uma volta limpa, sem bandeiras amarelas.
Alguns conseguiram... mas outros não. Yuki Tsunoda e Alex Albon conseguiram, mas Lewis Hamilton não. George Russell estava aflito, mas conseguiu um tempo entre os da frente, bem como Max Verstappen e Lando Norris, passando para a fase seguinte. Quem não conseguiu, e foram faxer companhia a Colapinto foram Lewis Hamilton, Oliver Bearman, Nico Hulkenberg e o Sauber de Zhou Guanyou.
Poucos minutos depois, aconteceu a Q2, e o tempo não estava melhor. Oscar Piastri tentou a sua sorte com pneus intermédios, e deu-se bem. Pouco depois, os pilotos trocaram de compósitos e os tempos começaram a baixar. Max fez 1.27,771 - era o possível... antes de Oscar Piastri tirar seis décimos ao tempo do neerlandês.
Contudo, a dez minutos do final da sessão, Carlos Sainz Jr sai de pista e as bandeiras vermelhas foram mostradas pela segunda vez na sessão. Por essa altura, Piastri tinha melhorado para 1.25,179... mas os carros recolheriam às boxes por mais algum tempo, para tirar o Ferrari do lugar onde estava.
Mas o regresso não durou muito: a um minuto do final, quando todos tentavam a sua sorte, evitando ficar de fora da Q3, Lance Stroll foi para a pista... e saiu rapidamente. Bateu forte, a sessão foi interrompida. Aliás, foi prematuramente terminada, com os Red Bull de fora: Max em 12º - 17, por causa da penalização - e Pérez em 13º. A fazer companhia estava Carlos Sainz Jr, por causa da batida, o Sauber de Valtteri Bottas e o Alpine de Pierre Gasly. Por incrível que pareça, mesmo com a batida, Lance Stroll era... oitavo na grelha! Tinha passado para a Q3, como, por exemplo, os Racing Bulls de Liam Lawson e Yuki Tsunoda. Lando Norris era o melhor, com Fernando Alonso em segundo.
E agora, a Q3.
Que não começou muito bem. Primeiro, apesar de não chover, as chances eram muitas de cair água das nuvens eram grandes. Os pilotos se esforçavam para marcar tempos, com Lando Norris a marcar 1.24,158, seguido de longe por Alex Albon, no seu Williams. Fernando Alonso tinha marcado um tempo porque sim, e quando puxava pelo carro, perdeu o controlo e bateu no muro de pneus, causando a segunda interrupção por bandeira vermelha. E o segundo Aston Martin para arranjar, muito trabalho para os mecânicos, sem dúvida.
Removido o Aston Martin, com mais de uma hora de qualificação passada, e quando regressou, os pilotos começaram a marcar tempos para ficar o mais à frente possível na grelha, e com os intermédios calçados. Contudo, a três minutos e meio do final, nova amostragem das bandeiras vermelhas, com o acidente forte do Williams de Alex Albon. O piloto saiu do carro pelo seu pé, mas a Williams iria ter muito para reparar no pouco tempo que iriam ter até à corrida. Era a quinta bandeira vermelha da qualificação, o suficiente para algumas temporadas de Formula 1...
No regresso, a chuva não aumentou e os pilotos mantiveram os intermédios. Os McLaren foram para a pista, mas avisados para não exagerarem, enquanto Russell ficou nas boxes à espera do último momento para entrar em pista, com os pneus ainda nas mantas de aquecimento. Contudo, Norris foi ao ataque, e faz 1.23,405, contra... Russell, que marcaria 1.23,578. Piastri tentou, mas perdeu o controlo do carro, sem bater, como Charles Leclerc, e o sortudo da manhã foi... Yuki Tsunoda, que conseguia 1.24,111, e a melhor posição de um piloto japonês numa grelha de partida na história. Ocon era quarto, no seu Alpine, ele que também gosta de correr à chuva, na frente de Liam Lawson, no segundo Racing Bulls.
E assim acabou uma das mais complicadas qualificações da história do automobilismo. Um dia depois da data prevista, e com cinco bandeiras vermelhas. E agora é ver como será à tarde, à hora da corrida... com Lando Norris a ver o seu adversário bem atrás. Espero que tenha consciência que ele é muito bom à chuva.
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