Nós conatamos o "Herois do Mar, Nobre Povo", que marcha contra os canhões. Os brasileiros cantam "A Pátria Amada", os franceses exaltam ao povo para que pegue em armas, os ingleses cantam "God Save the Queen", e os americanos afirmam que a sua pátria é a casa dos livres e dos bravos, mas os espanhóis... bom, eles são diferentes. E porquê? O hino deles não tem letra!
Hoje em dia, o desporto transformou-se numa arma nacionalista. Agora que os povos não se guerreiam em batalhas, derramando sangue, existe outro tipo de combate, do qual o futebol é o melhor exemplo. As selecções nacionais lutam por uma qualificação para um campeonato do mundo ou do seu continente, e lutam para alcançar o triunfo final, que prova a sua superioridade sobre os adversários. Afinal de contas, é por causa do futebol que brasileiros e argentinos não se dão lá muito bem...
Mas enfim, volto ao assunto: a Espanha teve uma letra até 1975, altura em que Franco morreu. Mas essa letra glorificava os vencedores da Guerra Civil de 1936-39 ("Arriba España/Levantai los brazos, hijos del pueblo español/Que vuelve a ressurgir"). Depois de 1975, a bem da Transição e reconciliar as partes em confilto, a letra caiu em desuso, embora só em 1997, a Constituição reconheceu oficialmente que a "Marcha Real" não tem letra.
Só que os tempos mudaram. Se antes, fora do futebol, a Espanha era uma nulidade em termos desportivos, hoje em dia não é assim. E tudo se deve aos Jogos Olimpicos de Barcelona, em 1992. A catadupa de medalhas e os campeões que formaram fizeram com que se olhasse para o desporto de outra maneira. Depois, veio o resto: Fernando Alonso, Carlos Sainz, Miguel Indurain, Rafael Nadal (e os outros tenistas antes dele)...
O unico que destoa agora é o futebol. Apesar da Liga Espanhola competir com a Premiership inglesa e a Serie A italiana para o título de melhor Liga do mundo, em termos de selecção são considerados como a esperança que nunca se concretizou. Só foram uma vez semifinalistas de um Campeonato do Mundo (Portugal, que foi menos vezes, tem duas presenças), só ganharam um Campeonato da Europa, em 1964. As razxões para isso? talvez seja pelo facto da Espanha ser uma monarquia federal, que deu imenso poder às autonomias. Pode não ter selecções regionais, mas em termos gerais, a Selecção nacional é algo secundário, pois "la affición" perfere torcer pelo Athlethic Bilbao ou pelo Barcelona do que própriamente pela "roja".
Se o hino é momento de união e de força para alcançar a vitória, os espanhois perferem levar a coisa a brincar: segundo a edição de hoje do jornal português "Diário de Noticias": "É uma piada comum ouvi-los cantar "chunga chunga chunga" em cima da música. Essas são, até agora, as únicas palavras do hino espanhol."
Assim sendo, o Comité Olimpico Espanhol achou por bem dizer chega, e pediu para que se lançasse um concurso para que seja atribuida um poema para o hino. O seu presidente, Alejandro Blanco, diz: "São muitos os desportistas espanhóis que reclamam uma letra quando sobem ao pódio. Querem sentir-se tão orgulhosos como os ingleses ou os franceses. Quem pode negar-lhes esse direito?" A ideia é de escolher uma letra que exalte os valores da diversidade, das pessoas que querem viver em paz e liberdade, e dos valores de um país aberto e igual para todos.
De facto, o Deporto tornou-se numa arma poderosa.
Diria que o desporto é um embaixador "virtual" de um país. Não era normal há poucos anos, em paises menos evoluidos, conhecer-se portugal por Luis Figo?!
ResponderEliminarÉ verdade: ciclicamente, somos conhecidos por ser a pátria de futebolistas. Primeiro o Eusébio, depois o Figo, agora é o Cristiano Ronaldo... É assim.
ResponderEliminarSabe que a Rússia também passou por um problema desses como da Espanha, o hino também só tinha a melodia, não tinha letra... mas parece que a saída foi a mesma, de criarem uma letra para resolver o pepino...
ResponderEliminar... e depois voltaram a adoptar o hino soviético, mas com letra diferente! Conheço a história. Afinal, como posso esquecer de uma equipa ao qual já demos 7-1?
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