Na semana que antecede o Grande Prémio dos Estados Unidos, no circuito de Indianápolis, recordo os acontecimentos do Grande Prémio de há dois anos, que muitos chamaram de "Indygate", devido à controvérsia com os pneus Michelin, e que levou à retirada das equipas que usavam os pneus da marca francesa, levando à realização do Grande Prémio mais controverso desde o GP de San Marino 1982, onde apenas 14 carros alinharam à partida. Este Grande Prémio deveria ser apagado dos livros de história. Mas como aconteceu, temos o dever de lembrá-la, como símbolo do que não deveria acontecer na Formula 1.
Tudo começa na tarde de sexta-feira, durante os treinos livres: o Toyota de Ralf Schumacher despista-se na famigerada Curva 13, quase no mesmo local onde um ano antes tinha ficado lesionado nas costas, e que o faria falhar boa parte da temporada. A causa desse acidente tinha sido uma falha no pneu traseiro-esquerdo da marca Michelin. A Curva 13 é a Curva 1 no traçado usado pela CART/IRL nas 500 Milhas de Indianápolis, onde já houve alguns acidentes fatais no passado. Como ambos os acidentes aconteceram no mesmo local, com os mesmos pneus, os responsáveis da Michelin ficaram preocupados, pois viram que a pressão dos pneus no "banking" dessa curva é superior ao normal. Logo, pediram um novo conjunto de pneus à sede, em Clermont-Ferrand, que verificaram não serem adequados a aquele piso.
Sendo assim, pediram aois responsáveis da FIA se poderiam colocar uma chicane provisória na Curva 13, no sentido de diminuir a velocidade de ponta dos carros, no sentido de minimizar o perigo de novos acidentes. A FIA recusou, afirmando que qualquer alteração no traçado à ultima da hora implicaria que a prova não contasse para o campeonato.
À medida que se aproximava da hora da corrida, a tensão entre a Michelin e a FIA aumentava. As negociações continuavam, mas não se chegava a um acordo. E a ameaça da corrida ter apenas seis carros (os unicos equipados com pneus Bridgestone) era real. Houve várias tentativas de compromisso, e mesmo as equipas com pneus Bridgestone (Jordan e Minardi) concordaram com a instalação de uma chicane provisória na Curva 13, mas a FIA estava irredutível. A corrida era para se fazer. Sendo assim, a Michelin cumpriu a ameaça: não iria correr o GP americano.
Com os carros alinhados para a volta de aquecimento, pensava-se que a ameaça não iria ser cumprida. Mas quando todos os carros Michelin recolheram às boxes, esta cumpriu-se: somente os Ferrari, Minardi e Jordan estavam na grelha.
A corrida seguiu, e não teve história para se contar: Michael Schumacher ganhou a sua unica corrida daquele ano, Rubens Barrichello foi segundo e Tiago Monteiro conseguiu o seu único pódio da sua carreira na Formula 1, a última vez que um Jordan ia ao pódio.
Quando as várias cadeias televisivas viram que a ameaça foi por diante, decidiram pura e simplesmente não transmitir a corrida. A Rede Globo só transmitiu em parte, a TSN canadiana pura e simplesmente recusou a transmissão. Outros canais transmitiram a corrida na íntegra, como a britânica ITV ou a italiana RAI Uno, mas as críticas fizeram-se sentir. Os espectadores que pagaram centenas de dólares para assistir a corrida sentiram-se enganados e exigiram o dinheiro de volta. Mais tarde, a Michelin decidiu que iria compensar todo e qualquer espectador que exigisse o dinheiro de volta, dando em troca um ingresso para o Grande Prémio do ano seguinte. Vinte mil pessoas aceitaram a proposta.
No dia seguinte à corrida, enquanto que em Portugal se comemorava o pódio de Tiago Monteiro, o resto do Mundo tinha outros títulos: "Farsa", "Indygate" ou "Formula Zero" foram alguns dos mimos que foram publicados. Chegou-se a especular que Tony George, o proprietário de Indianápolis, iria rescindir imediatamente o contrato com a FIA e Bernie Ecclestone. Mas tal não aconteceu (bom senso ou muitos milhões?)
Uma semana mais tarde, os organizadores do GP de Cleveland, da ChampCar, ofereceram entradas livres a todos os espectadores que tinham ido a Indianápolis ver a corrida. Pelo menos cinco mil pessoas compareceram.
Foi uma das coisas mais toscas que já vi... e pior: quase que as duas Ferraris conseguem bater quando uma delas saía do pit-stop (não me recordo quem fez a barbeiragem, se Schummy ou Rubinho)...
ResponderEliminarÉ daquelas corridas qu ninguem esquece... fica sempre o sentimento agri-doce... QUem se recusou a correr reconhecheu, implicitamente, que não tinha condições...
ResponderEliminarEssa corrida foi vergonhosa
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