Apesar de ser um confesso fã da Lotus, admito que este bólide é um dos mais belos desse tempo. Saído da cabeça de Dan Gurney, este carro deu ao piloto americano a sua única vitória como construtor, num mítico Grande Prémio que fez 40 anos há pouco tempo, num outro circuito mítico: Spa-Francochamps.
Em fins de 1965, Dan Gurney guiava para o seu amigo Jack Brabham. Nessa altura, impressionado por aquilo que ele tinha feito, como construtor, queria também fazer o seu próprio chassis. Sabia que outro dos seus amigos do pelotão, o neozelandês Bruce McLaren, estava a fazer o mesmo. E quando soube que alguns dos seus compatriotas, entre os quais Carrol Shelby, o apoiariam no seu projecto, fundou a All American Racers, que apesar de estar situado nos Estados Unidos, a sua oficina seria na Grã-Bretanha, pois o objectivo de Gurney era de correr na Formula 1.
Mas Gurney também queria correr nos Estados Unidos, especialmente a Indy 500. Para isso contratou Lon Terry, antigo desenhador na Lotus, que tinha acabado de projectar o Lotus 38, que tinha ganho as 500 Milhas de Indianápolis de 1965 (com Jim Clark ao volante), e desenhou dois chassis: o Mk1 (para a Formula 1) e o Mk2 (para a Formula Indy). Mas o que interessa falar aqui é o do Mk1.
Foram feitos quatro chassis Mk1: os três primeiros eram feitos maioritariamente de alumínio, mas um quarto, em 1968, tinha componentes mais exóticos: componentes de titânio, leve e resistente, com um painel feito de magnésio, um metal também leve, mas perigoso. Em 1968, após o acidente fatal de Jo Schlesser em Rouen, a bordo de um Honda feito do mesmo material, Gurney disse que sempre que guiava o Eagle “era como guiar dentro de um isqueiro Ronson”…
De início, o Mk1 deveria levar o novo motor Weslake V12 de 3 litros, segundo a nova Formula que tinha entrado em vigor naquele ano. Contudo, esse motor não estava ainda pronto, e passaram para um motor Climax de 2,7 Litros, e quatro cilindros em linha, uma solução provisória, já que o fabricante tinha-se retirado no final de 1965. Mas em 1966, a Eagle (o nome que ficou nos anais) tinha que usar essa solução nos primeiros tempos.
A corrida de estreia foi o Grande Prémio da Bélgica de 1966. De imediato, o carro causou um enorme impacto visual, devido ao facto do carro ser azul-escuro, com uma lista branca no meio, uma forma de dizer que aquele carro era americano de origem. Apesar do impacto visual, o carro não chegou ao fim. O melhor que conseguiu naquele ano foi dois quintos lugares, em França e no México. Um segundo carro foi entregue a outro americano, Bob Bondurant, mas este não teve resultados.
Em Monza, Gurney finalmente recebeu o motor Weslake V12 de 3 litros. O motor, desnhado em Aubray Woods, a sede da Weslake, era bastante leve e compacto. O ronco do motor era suave, mas poderoso. O motor estava disposto num ângulo em V a 60º, e a sua potência rondava os 370 cavalos às 9500 rotações. Apesar da competitividade, era pouco fiável. Nesse Grande Prémio, Gurney abandonou a corrida à sexta volta com um problema de óleo.
Contudo, no final de 1966, o motor já desenvolvia 400 cavalos, especialmente para competir com outros V12, da Ferrari e da Honda, mas especialmente de um que estava a ser testado, e que iria marca toda uma época: o Cosworth V8.
Em 1967, o carro estava melhor, mas ainda não era fiável. Gurney corria com o seu companheiro Richie Ginther, e ambos entraram numa corrida extra-campeonato, o Race of Champions, em Brands Hatch. Gurney ganhou a corrida, enquanto que Ginther corria em segundo até que desistiu com problemas de travões. Gurney via que todo o seu trabalho estava a compensar. E o melhor estava para vir.
Entretanto, Ginther abandonava a Formula 1 após não se ter qualificado no GP do Mónaco. O seu substituto foi… Bruce McLaren, que na altura tinha dificuldades em desenvolver o seu chassis. No final da época, o italiano Ludovico Scarfiotti juntou-se à equipa.
Entretanto, o momento de glória estava a chegar: no Grande Prémio da Bélgica, a 18 de Junho, Gurney coloca o seu Eagle na segunda posição da grelha de partida. Na partida, o americano coloca o seu carro na liderança e não mais abandona. É o momento mais alto de Gurney e da Eagle na Formula 1. O americano ainda faz a volta mais rápida do circuito. O resto da época tem também outros pontos altos, como a volta mais rápida em Nurburgring, e um novo pódio para Gurney no Canadá. Mo final da época, a Eagle consegue 13 pontos, uma vitória e duas voltas mais rápidas.
Contudo, o dinheiro não é suficiente para aguentar duas operações em ambos os lados do Atlântico, apesar da Eagle começar a ter sucesso nas provas americanas. Por isso, o Mk1 não foi desenvolvido em 1968, e Gurney sofre com essa falta de desenvolvimento. Foi por isso que não pontuou durante essa época, e no final da temporada, Gurney pediu ajuda a… McLaren, que já estava a ter sucesso com o seu chassis, e tinha ganho o GP da Bélgica daquele ano, a mesma corrida que tinha ganho um ano antes. No final da época, Eagle e Gurney retiram-se da Formula 1 para se concentrar na Indy, onde será uma das equipas mais bem sucedidas da competição.
Hoje em dia, o mito do Eagle-Westlake está bem vivo, graças a um jogo: o Grand Prix Legends, que dá oportunidade aos apreciadores de jogos de Formula 1 como era difícil guiar um Formula 1 num tempo em que não havia aérofólios ou outros apêndices aerodinâmicos que hoje pululam nos carros de Formula 1 por tudo e por nada…
O palmarés: 26 corridas em três temporadas, uma vitória, dois pódios, duas voltas mais rápidas, 17 pontos no total.
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