terça-feira, 31 de julho de 2007

GP Memória: Alemanha 1968

Esta corrida, disputada no grande circuito alemão de Nurbrugring, com os seus 22 km de curvas, foi testemunha daquilo que foi provavelmente uma das melhores performances de sempre de um piloto: Jackie Stewart.


Mas vamos por partes: O ano de 1968 era muito agitado, em todos os sentidos. Se fora da atmosfera da Formula 1, assistia-se a revoltas estudantis em França e assassinatos politicos nos Estados Unidos (Martin Luther King e Bobby Kennedy), a Formula 1 também tinha a sua agitação. Em três meses, Jim Clark, Jo Schlesser e Mike Spence tinham morrido em acidentes de competição. Mas não era só isso que agitava a Formula 1. Os aerofólios e os patrocínios comerciais vieram para ficar, e todos procuravam tirar partido disso.


Os pilotos do momento eram dois: Graham Hill, que tentava juntar uma Lotus destroçada, era o lider do campeonato, depois de ter ganho em Espanha e no Monaco. Aproveitava um Lotus 49B, que era uma evolução do Lotus 49, com motor Cosworth, e continuava a ser um carro ganhador. O seu maior rival era Jackie Stewart, num Matra M80, chefiado por Ken Tyrrell, e que tinha ganho na Holanda, com o francês Jean-Pierre Beltoise em segundo.


Em Brands Hatch, a Formula 1 tinha ficado surpreendida com a vitória do suiço Jo Siffert, com o seu Lotus 49 privado, da equipa de Rob Walker. Seria a última vez que tal feito acontecia. A situação antes da chegada da Formula 1 ao mítico "Nordschleiffe" na tabela ser o seguinte: Hill liderava com 24 pontos, e o belga Jacky Icxx era segundo, com 20. Stewart era um mero terceiro, com 17 pontos.


Na altura, muitos não viam Stewart como um grande piloto. ele era mais visto como um grande paladino pela segurança nos circuitos, algo que nessa altura não era muito bem visto. A ideia de que 75 por cento dos pilotos de Formula 1 iriam morrer em cinco anos era geralmente bem aceite... mas não para Stewart, que tinha safado de boa no GP da Belgica de 1966.


E porque falo disso? Porque as condições do circuito nesse fim de semana eram horriveis: chuva e nevoeiro. Stewart fez uns treinos cautelosos, e saia em sexto na grelha de partida, atrás do "poleman", o belga (e grande especialista de Nurburgring) Jacky Icxx, seguido do seu companheiro na Ferrari, o neozelandês Chris Amon, o austriaco Jochen Rindt, Graham Hill e outro inglês, Vic Elford, no seu Cooper-Maserati.


No momento da largada, chovia copiosamente. Hill partiu bem e tomou a liderança, seguido por Amon, Rindt e Stewart. E no final da primeira volta, o escocês era o líder da corrida. Excelente! Mas as coisas não ficariam por aí... para além de ter passado quatro carros nos 22 km de circuito, em condições extremas, mas tinha aberto... nove segundos de diferença!


Nas 13 voltas seguintes, Stewart esteve imparável: os pneus Dunlop do seu Matra M80 estavam no seu melhor, e o escocês "voava", enquanto que a concorrência "patinava". Tudo isso num circuito que tinha zonas secas e molhadas, o que complicava ainda mais a tarefa dos pilotos. No final da corrida, Stewart cortava a meta com quatro minutos de avanço sobre os restantes concorrentes. Humilhando os seus adversários com uma exibição só paralela a de Tazio Nuvolari, em 1935, e a de Juan Manuel Fangio, em 1957... Graham Hill e Jochen Rindt acompanharam-no no pódio.


Anos depois, Stewart descreveu aquela corrida:


"A chuva era incrível - não se via nada! Não via os meus pontos de referência para as travagens, nem o carro à minha frente (...) nem queria pensar o que acontecia atrás de mim. O circuito é estreito e mesmo com boa visibilidade é dificil ver onde estamos.(...)"


"Depois (de chegar à liderança) foi andar o mais depressa possível. Duas voltas depois tinha uma vantagem de 34 segundos e continuei a aumentá-la, sempre com o cuidado de não pisar qualquer poça. A três voltas do fim, achuva aumentou. Havia rios cruzando a pista. Perto do Karrussel, o carro fugiu, o motor morreu, derrapei em direcção a um comissário, ao lado de uma árvore. Quando ele saltou para um lado, vi que o ia atropelar, mas aí os pneus aderiram e retomei o controlo do carro. Quando Graham Hill chegou a esse local, saíu de pista, mas o comissário tinha mudado de local..."


"(...)Foi uma vitória esfuziante para mim, mas fiqueio ainda mais feliz por acabar a corrida. Esta foi talvez a maior ambição quanto a ganhar em circuito. Aquela corrida jamais deveria ter sido realizada e tê-la ganho com tal vantagem deu-me credibilidade sempre que pedia algo a favor da segurança".


Jackie Stewart pode não ter ganho o mundial daquele ano, mas aquela exibição fez com que ele deixasse se ser encarado como uma mera promessa, mas sim como uma grande certeza no automobilsmo mundial. E os três títulos que ele iria ganhar, em 1969, 1971 e 1973, com Ken Tyrrell a seu lado, garantiram-lhe o seu lugar no Olimpo, e a sua campanha em prol de mais segurançano autombilismo tinha ganho credibilidade.

1 comentário:

  1. Há poucos dias, comentei essa corrida lá no Blog. Certamente, a performance do Stewart foi uma das melhores da história da Fórmula 1. Belo texto.

    Grande abraço!

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...