Hoje falo de alguém que foi apelidado como o “Príncipe da Formula 1”. Foi um dos maiores talentos do seu tempo, protegido de Jackie Stewart, um dos homens mais “sexys” da Europa (os seus olhos azuis faziam desmaiar muitas mulheres…), o seu acidente fatal precipitou a retirada de Stewart da competição, e o mundo da Formula 1 ficou privado de um dos mais promissores pilotos do seu tempo. Quem sabe, o título mundial francês poderia ser dele… 34 anos depois, homenageio Francois Cevért.
Albert François Cevert Goldenberg nasceu a 25 de Fevereiro de 1944, em Paris (teria agora 63 anos). Filho de um joalheiro judeu de origem russa, para não serem detectados pelos nazis, ele e as suas irmãs ficaram com o apelido de solteira da mãe. Alguns anos mais tarde, uma das suas irmãs, Jacqueline, conhece um tal de Jean-Pierre Beltoise, com quem veio a casar. Graças ao seu cunhado famoso, Cevért inscreve-se em 1964 numa escola de condução, em Montlhery. Nos dois anos seguintes, os seus planos ficam em suspenso devido ao serviço militar obrigatório. Só depois, em 1966, entra no Volant Shell e ganha o primeiro prémio, batendo outro futuro talento francês: Patrick Depailler.
O prémio para o primeiro classificado nesse concurso era uma temporada completa na Formula 3 francesa, a bordo de um Alipne-Renault. No final da época, impressionados pelos resultados, a equipa de fábrica ofereceu-lhe um lugar, mas Cevért preferiu correr com um chassis Tecno, que lhe deu o título francês em 1968. Em 1969, vai para a Formula 2, outra vez pela Tecno, onde ganha uma corrida em Reims. Nesse ano, tem o primeiro contacto com a Formula 1, em Nurburgring, mas com o carro de Formula 2.
No ano seguinte, Cevért continua a correr na Formula 2, e nos Matra de Sport-Protótipos, até que a meio da época, Ken Tyrrell chama-o para substituir o seu compatriota Johnny Servoz-Gavin (1942-2006), na sua equipa de Formula 1, com um chassis March. As suas performances foram boas, que culminaram com um sexto lugar em Monza. Esse ponto fez com que no final da época ficasse na 23ª posição do campeonato. Mas foi nessa altura que conheceu e estabeleceu uma sólida relação de amizade com Jackie Stewart, que dará origem a uma das mais conhecidas duplas da Formula 1 de todos os tempos.
Era uma relação de professor-aluno: Stewart era o primeiro piloto, enquanto de Cevért, o aprendiz, era o seu fiel escudeiro. A parceria deu resultados: Em Paul Ricard alcança o seu primeiro pódio, quando faz dupla com Stewart na segunda posição. Repete o feito na Alemanha, desta vez com a volta mais rápida no bolso, e fica em terceiro em Monza, numa das corridas mais apertadas de sempre, pois falhou a vitória por pouco mais do que um carro…
Em Watkins Glen, já com Stewart campeão, Francois Cevért têm a oportunidade de brilhar. Depois de largar na quinta posição, o francês livra-se de Stewart (que luta contra um mau jogo de pneus), para chegar à liderança. Contudo, a partir da volta 43, Cevért luta contra o mesmo problema que afligia o escocês, e vê Ickx aproximar-se. Mas na volta 49, o alternador do Ferrari quebra e faz um buraco na caixa de velocidades, derramando óleo. Quando Dennis Hulme passa sobre ele, despista-se e bate nos ralis de protecção, desistindo no local. Na volta seguinte, é a vez de Cevért passar no local, e despistar-se na mesma mancha de óleo, e bater também no “rail”. Mas os estragos são menores, e ele prossegue a corrida, a caminho da sua primeira e única vitória da carreira, que era também a primeira vitória de um piloto francês em 13 anos.
No final da corrida, ele disse: "Sinto-me bem com este prémio de 50,000 dólares. Eu segui Stewart desde o início e quando ele me disse que tinha problemas, deixou-me passar. Jackie Stewart é um excelente professor e um piloto muito sensível”. No final da temporada de 1971, Cevért fica na terceira posição do campeonato, com 26 pontos, uma vitória e uma volta mais rápida.
Em 1972, a Tyrrell teve problemas em contrariar o domínio do Lotus 72D e do Ferrari 312B. Sendo assim, o melhor que Cevért conseguiu foi dois segundos lugares, em Nivelles e em Watkins Glen. No final da temporada, o francês fica com 15 pontos, e a sexta posição no campeonato. Entretanto, Cevért faz parte da equipa oficial da Matra-Simca nas 24 Horas de Le Mans daquele ano. Fazendo parelha com o neozelandês Howden Ganley, termina a corrida na segunda posição, atrás do carro vencedor, guiado pelo inglês Graham Hill e o francês Henri Pescarolo.
Em 1973, Cevért está no seu auge. Era cada vez mais rápido e mais capaz de rivalizar com Stewart, agora com 34 anos. Vai ao pódio por sete vezes (seis delas na segunda posição), mostrando uma enorme consistência. Para além disso, faz a volta mais rápida em Zolder, numa corrida em que acabou em segundo. Consciente de que em breve o aluno superaria o seu mestre, Jackie Stewart decidiu planear a sua retirada da Formula 1. Tinha um terceiro título mundial, e Watkins Glen iria ser o palco do seu centésimo Grande Premio da sua carreira, era o sítio ideal para uma despedida em beleza. A única pessoa que sabia desses planos era o seu patrão e amigo, Ken Tyrrell.
No Sábado de manhã, 6 de Outubro de 1973, exactamente dois anos depois de ter alcançado a sua única vitória, o Tyrrell de Cevért lutava com o Lotus do sueco Ronnie Peterson pela "pole-position”. Nuns “esses” rápidos, o piloto francês saiu mais largo e bateu nas barreiras, fazendo com que o carro se despistasse e batesse no outro lado da pista, num ângulo de 90 graus, e capotasse para o outro lado. Aos 29 anos, o piloto de Paris teve morte imediata.
Jackie Stewart foi um dos primeiros a chegar ao local: “Os socorristas nem se deram ao trabalho de tirar os seus kits, porque via-se logo que estava morto”, afirmou mais tarde. Algumas horas depois, o escocês deu uma volta no circuito para descobrir o que tinha causado o acidente fatal. Descobriu que no seu estilo de condução, o facto de ele fazer a curva em quarta velocidade a fundo, para ganhar mais velocidade de ponta, e logo, mais uns centésimos, foi o factor decisivo para o acidente fatal, pois aí, o Tyrrell tinha dificuldades em lidar com aquela secção de pista. Depois disso, a equipa retirou os seus carros da corrida, e Jackie Stewart retirou-se de vez do automobilismo, como piloto. Cevért terminou essa época na quarta posição, com 47 pontos, resultantes de sete pódios e uma volta mais rápida.
A sua carreira na Formula 1? Em 47 Grandes Prémios, divididos por quatro épocas (1970-73), ganhou uma corrida, conseguiu duas voltas mais rápidas e 13 pódios, totalizando 89 pontos.
É fácil imaginar o que poderia ter feito de 1974 em diante. Tendo em conta que ele seria o primeiro piloto da Tyrrell nesse ano, poderia ter ganho mais alguns Grandes Prémios, e quem sabe um título mundial. O facto de nesse ano, o sul-africano Jody Scheckter ter ficado perto desse feito, demonstra bem a potencialidade do carro. Podia ter ganho as 24 Horas de Le Mans, e quem sabe, se ter aventurado nalguma das equipas francesas que surgiram na segunda parte da década, como a Renault ou a Ligier. E também não seria descabido que seria um potencial campeão do Mundo, muito antes de Alain Prost o ter conseguido…
Francois Cevért está agora enterrado no Cemitério Muncipal de Vaudelnay, no Maine-en-Loire. A sua campa está coberta por um mármore negro, encostado à parede do cemitério, onde está pendurado um baixo-relevo com a sua face. Já agora, para finalizar, eis um documentário em três partes (parte 1, parte 2, parte 3) que passou há algum tempo no Motors TV sobre "o Principe da Formula 1", e que encontrei há uns tempos atrás no Blog do Mulsanne, do Juliano "Kowalski" Barata.
Albert François Cevert Goldenberg nasceu a 25 de Fevereiro de 1944, em Paris (teria agora 63 anos). Filho de um joalheiro judeu de origem russa, para não serem detectados pelos nazis, ele e as suas irmãs ficaram com o apelido de solteira da mãe. Alguns anos mais tarde, uma das suas irmãs, Jacqueline, conhece um tal de Jean-Pierre Beltoise, com quem veio a casar. Graças ao seu cunhado famoso, Cevért inscreve-se em 1964 numa escola de condução, em Montlhery. Nos dois anos seguintes, os seus planos ficam em suspenso devido ao serviço militar obrigatório. Só depois, em 1966, entra no Volant Shell e ganha o primeiro prémio, batendo outro futuro talento francês: Patrick Depailler.
O prémio para o primeiro classificado nesse concurso era uma temporada completa na Formula 3 francesa, a bordo de um Alipne-Renault. No final da época, impressionados pelos resultados, a equipa de fábrica ofereceu-lhe um lugar, mas Cevért preferiu correr com um chassis Tecno, que lhe deu o título francês em 1968. Em 1969, vai para a Formula 2, outra vez pela Tecno, onde ganha uma corrida em Reims. Nesse ano, tem o primeiro contacto com a Formula 1, em Nurburgring, mas com o carro de Formula 2.
No ano seguinte, Cevért continua a correr na Formula 2, e nos Matra de Sport-Protótipos, até que a meio da época, Ken Tyrrell chama-o para substituir o seu compatriota Johnny Servoz-Gavin (1942-2006), na sua equipa de Formula 1, com um chassis March. As suas performances foram boas, que culminaram com um sexto lugar em Monza. Esse ponto fez com que no final da época ficasse na 23ª posição do campeonato. Mas foi nessa altura que conheceu e estabeleceu uma sólida relação de amizade com Jackie Stewart, que dará origem a uma das mais conhecidas duplas da Formula 1 de todos os tempos.
Era uma relação de professor-aluno: Stewart era o primeiro piloto, enquanto de Cevért, o aprendiz, era o seu fiel escudeiro. A parceria deu resultados: Em Paul Ricard alcança o seu primeiro pódio, quando faz dupla com Stewart na segunda posição. Repete o feito na Alemanha, desta vez com a volta mais rápida no bolso, e fica em terceiro em Monza, numa das corridas mais apertadas de sempre, pois falhou a vitória por pouco mais do que um carro…
Em Watkins Glen, já com Stewart campeão, Francois Cevért têm a oportunidade de brilhar. Depois de largar na quinta posição, o francês livra-se de Stewart (que luta contra um mau jogo de pneus), para chegar à liderança. Contudo, a partir da volta 43, Cevért luta contra o mesmo problema que afligia o escocês, e vê Ickx aproximar-se. Mas na volta 49, o alternador do Ferrari quebra e faz um buraco na caixa de velocidades, derramando óleo. Quando Dennis Hulme passa sobre ele, despista-se e bate nos ralis de protecção, desistindo no local. Na volta seguinte, é a vez de Cevért passar no local, e despistar-se na mesma mancha de óleo, e bater também no “rail”. Mas os estragos são menores, e ele prossegue a corrida, a caminho da sua primeira e única vitória da carreira, que era também a primeira vitória de um piloto francês em 13 anos.
No final da corrida, ele disse: "Sinto-me bem com este prémio de 50,000 dólares. Eu segui Stewart desde o início e quando ele me disse que tinha problemas, deixou-me passar. Jackie Stewart é um excelente professor e um piloto muito sensível”. No final da temporada de 1971, Cevért fica na terceira posição do campeonato, com 26 pontos, uma vitória e uma volta mais rápida.
Em 1972, a Tyrrell teve problemas em contrariar o domínio do Lotus 72D e do Ferrari 312B. Sendo assim, o melhor que Cevért conseguiu foi dois segundos lugares, em Nivelles e em Watkins Glen. No final da temporada, o francês fica com 15 pontos, e a sexta posição no campeonato. Entretanto, Cevért faz parte da equipa oficial da Matra-Simca nas 24 Horas de Le Mans daquele ano. Fazendo parelha com o neozelandês Howden Ganley, termina a corrida na segunda posição, atrás do carro vencedor, guiado pelo inglês Graham Hill e o francês Henri Pescarolo.
Em 1973, Cevért está no seu auge. Era cada vez mais rápido e mais capaz de rivalizar com Stewart, agora com 34 anos. Vai ao pódio por sete vezes (seis delas na segunda posição), mostrando uma enorme consistência. Para além disso, faz a volta mais rápida em Zolder, numa corrida em que acabou em segundo. Consciente de que em breve o aluno superaria o seu mestre, Jackie Stewart decidiu planear a sua retirada da Formula 1. Tinha um terceiro título mundial, e Watkins Glen iria ser o palco do seu centésimo Grande Premio da sua carreira, era o sítio ideal para uma despedida em beleza. A única pessoa que sabia desses planos era o seu patrão e amigo, Ken Tyrrell.
No Sábado de manhã, 6 de Outubro de 1973, exactamente dois anos depois de ter alcançado a sua única vitória, o Tyrrell de Cevért lutava com o Lotus do sueco Ronnie Peterson pela "pole-position”. Nuns “esses” rápidos, o piloto francês saiu mais largo e bateu nas barreiras, fazendo com que o carro se despistasse e batesse no outro lado da pista, num ângulo de 90 graus, e capotasse para o outro lado. Aos 29 anos, o piloto de Paris teve morte imediata.
Jackie Stewart foi um dos primeiros a chegar ao local: “Os socorristas nem se deram ao trabalho de tirar os seus kits, porque via-se logo que estava morto”, afirmou mais tarde. Algumas horas depois, o escocês deu uma volta no circuito para descobrir o que tinha causado o acidente fatal. Descobriu que no seu estilo de condução, o facto de ele fazer a curva em quarta velocidade a fundo, para ganhar mais velocidade de ponta, e logo, mais uns centésimos, foi o factor decisivo para o acidente fatal, pois aí, o Tyrrell tinha dificuldades em lidar com aquela secção de pista. Depois disso, a equipa retirou os seus carros da corrida, e Jackie Stewart retirou-se de vez do automobilismo, como piloto. Cevért terminou essa época na quarta posição, com 47 pontos, resultantes de sete pódios e uma volta mais rápida.
A sua carreira na Formula 1? Em 47 Grandes Prémios, divididos por quatro épocas (1970-73), ganhou uma corrida, conseguiu duas voltas mais rápidas e 13 pódios, totalizando 89 pontos.
É fácil imaginar o que poderia ter feito de 1974 em diante. Tendo em conta que ele seria o primeiro piloto da Tyrrell nesse ano, poderia ter ganho mais alguns Grandes Prémios, e quem sabe um título mundial. O facto de nesse ano, o sul-africano Jody Scheckter ter ficado perto desse feito, demonstra bem a potencialidade do carro. Podia ter ganho as 24 Horas de Le Mans, e quem sabe, se ter aventurado nalguma das equipas francesas que surgiram na segunda parte da década, como a Renault ou a Ligier. E também não seria descabido que seria um potencial campeão do Mundo, muito antes de Alain Prost o ter conseguido…
Francois Cevért está agora enterrado no Cemitério Muncipal de Vaudelnay, no Maine-en-Loire. A sua campa está coberta por um mármore negro, encostado à parede do cemitério, onde está pendurado um baixo-relevo com a sua face. Já agora, para finalizar, eis um documentário em três partes (parte 1, parte 2, parte 3) que passou há algum tempo no Motors TV sobre "o Principe da Formula 1", e que encontrei há uns tempos atrás no Blog do Mulsanne, do Juliano "Kowalski" Barata.
A morte do Cevert mudou a história da F1.
ResponderEliminar