Se estivesse vivo, faria hoje 76 anos. E provavelmente teria passado à história como o primeiro campeão do mundo de Formula 1 vindo da Grã-Bretanha, e tinha sido capaz de competir até ao inicio dos anos 70, guiando Lotus e Coopers... mas não. O acidente que sofreu durante os treinos do Grande Prémio da Alemanha de 1958 impediu esse sonho, matando-o aos 26 anos. E foi pena, pois tinha ganho algumas semanas antes o GP de Inglaterra, e tudo indicava que era um sério candidato ao título mundial daquele ano, quando tinha como rival... outro britânico, Mike Hawthorn. Hoje falo de Peter Collins.
Nasceu a 6 de Novembro de 1931 em Kiddermaster, no Worcestershire. Era filho de um vendedor de automóveis bem sucedido, e começou a sua carreira logo depois do final da II Guerra Mundial. Sendo contemporâneo de Stirling Moss, ambos começaram na Formula 3, categoria onde dominavam os motores de 500 cc, montados por vários construtores como Cooper ou HWM. Foi aliás com esta última equipa que Collins começou a tentar a sua sorte na Formula 1 aos 21 anos, em 1952, sem resultados de relevo. Em 1954, foi para a Vanwall, mas os resultados também foram precários, sem colocar o seu carro nos pontos. A mesma coisa aconteceu em 1955, desta vez a bordo de um Maserati 250, inscrito pela BRM.
Contudo, os seus dotes de pilotagem fizeram com que fosse contratado por Enzo Ferrari para guiar um dos seus carros para a temporada de 1956. E foi aí que Collins mostrou todos os seus dotes de pilotagem... e quase foi campeão do mundo! começou por ser segundo no Mónaco, para logo depois ganhar na Belgica e em França, vitórias essas que só não foram surpreendentes para quem conhecia os seus dotes de condução.
Após isso, Collins foi segundo em Silverstone, e chegou à ultima prova do campeonato, em monza, numa posição em que poderia ser campeão do Mundo. Nessa corrida, Fangio estava a liderar, quando teve um problema na coluna de direcção, e teve que encostar à box. A equipa ordenou a Luigi Musso para que cedesse o lugar a Fangio, mas o italiano recusou. Contudo, o piloto argentino teve carro para prosseguir a corrida e alcançar o título. Cedido por quem? Não mais do que... o seu rival, Peter Collins.
Mais tarde, quando a corrida terminou, e Fangio celebrava o seu segundo lugar da corrida (vencida por Stirling Moss) e conseguia os pontos suficientes para ser campeão do mundo pela quarta vez, perguntiou-se a Collins o porquê deste gesto de aparente "fair-play". A resposta foi simples: "Sou demasiado novo para ser Campeão do Mundo". Caso tivessem sido aplicadas as regras de hoje, Collins teria sido o campeão do mundo mais novo de sempre até 2005, altura em que Fernando Alonso conquistou o seu primeiro título mundial... Nesse ano, Collins obteve duas vitórias, cinco pódios e 25 pontos no campeonato, terminado no terceiro lugar.
Em 1957, Collins tem um novo companheiro de equipa: o seu compatriota Mike Hawthorn. Os dois establecem de imediato uma empatia nas pistas e fora delas, uma amizade que durará até ao fim. Hawthorn chamava-o de "mon ami mate". Pela mesma altura, Collins conhece e casa-se com uma herdeira americana, de seu nome Louise King, e viviam juntos uma vida de "jet set No Mónaco, onde o casal tinha um iate. Contudo, a temporada de 1957 foi má, em comparação com a anterior. O melhor que Collins teve foram dois terceiros lugares em Reims e Aintree. no final da temporada, Collins foi nono no campeonato, com oito pontos, e dois pódios.
Em 1958, a Ferrari conseguiu um modelo melhor: o Dino 246. Collins e Hawthorn sabiam que tinham um carro para competir com os Vanwall e os emergentes Cooper de motor traseiro, que tinham surpreendido o mundo da Formula 1 ao ganhar as duas primeiras corridas do campeonato, em Buenos Aires e no Mónaco, com Stirling Moss e Maurice Trintignant ao volante. Tinha sido terceiro no Mónaco, e só voltou a pontuar em Reims, acabando a corrida na quinta posição.
E em Silverstone, com Collins no sexto lugar da grelha, disparou logo para a primeira posição, e não mais a largou até ao final da corrida. Era a sua terceira vitória na sua carreira, e tudo indicava que poderia ser o clique que precisava para disputar pela segunda vez na sua carreira o título mundial, com o seu maior rival, o "mon ami mate", Mike Hawthorn.
A prova seguinte era no temido "Inferno Verde", o circuito alemão de Nurburgring. Nos treinos, Collins foi quarto, e no dia da corrida, a 3 de Agosto de 1958, Collins e Hawthorn perseguiram até à décima volta o Vanwall do seu compatriota Tony Brooks, uma perseguição incessante que terminou em tragédia. Nessa décima volta, Brooks liderava, com Collins em segundo e Hawthorn em terceiro. Então, quando os três pilotos chegaram a Pflanzgarten, o carro de Collins fez a curva demasiado largo e bateu numa vala, desaparecendo da vista de Hawthorn, que ia logo atrás. O inglês foi cuspido para fora do carro e embateu contra uma árvore, causando traumatismos graves na cabeça. Transportado de imediato para Colónia, o inglês morreria no final dessa tarde, aos 26 anos.
Apesar de não ter terminado a temporada de 1958, nesse ano ganhou uma corrida e conseguiu dois pódios, terminando na sexta posição, totalizando 14 pontos. Quanto à sua carreira na Formula 1, o resumo é este: 35 Grandes Prémios, em sete temporadas (1952-58), três vitórias, nove pódios, 47 pontos no total.
Peter Collins era um excelente piloto, e tinha tudo que era necessário para ser Campeão do Mundo. Essa tinha sido a segunda morte do ano no pelotão da Formula 1, algumas semanas depois de Luigi Musso, em Reims, na França. E foi nesse dia que Mike Hawthorn, que tinha visto "mon ami mate" morrer à sua frente, decidiu abandonar a Formula 1 no final da época, independentemente de conseguir ou não o título mundial. Cumpriu a promessa.
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