Os acontecimentos da última semana no Tibete causaram preocupação em todo o mundo, e em ano de Jogos Olimpicos na capital chinesa, num país que ostenta os piores registros em matéria de direitos humanos (execuções sumárias, prisões arbitrárias, condições de trabalho deploráveis...), começam a aparecer vozes, de organizações não-governamentais, a apelar para que os governos ocidentais ameaçem com boicote os Jogos Olimpicos de Pequim, caso as autoridades chinesas não parem com a violência no Tibete.
O "Tecto do Mundo" foi durante muitos anos um país mais ou menos independente desde a queda da Monarquia, em 1911, até à chegada ao poder dos comunistas de Mao Zedong, em 1949. Era governado, em termos espirituais, pelo Dalai-Lama, e o actual foi educado desde cedo para governar. Um dos seus conselheiros foi Henrrich Harrer (1912-2006), o homem que mais tarde foi interpretado por Brad Pitt no filme "Sete Anos no Tibete".
Em 1950, os tropas chinesas invadiram Tibete, "reclamando o que era deles", e lá ficaram até aos dias de hoje. São uma república autónoma, mas ocorrem revoltas de quando em quando. Na primeira das revoltas, em 1959, o Dalai-Lama teve que se exilar na India, onde está até agora, mas outras aconteceram, em 1988 e 89, antes da revolta estudantil que desencadeou no Massacre em Tienamen.
Passados quase vinte anos, olhamos para a China como um milagre económico e um mercado de um bilião de consumidores. As multinacionais consideram que negociar com os chineses é muito melhor do que sentar com ele e discutir a actual situação dos Direitos Humanos. Até deixam os chineses interferir e censurar. Querem um exemplo? Escrever palavras como "Tibete" Direitos Humanos", "Falungong", Massacre de Tienamen 1989" estão barradas no Google e outros motores de busca na China. Há "policias da Internet" na China, zelosos para que encontrem "bloggers" dissidentes, e comunicam à policia, para que estes os prendam...
As sociedades ocidentais, que se tornaram apoliticas, já olham para a China com alguma indiferença, embora por vezes se incomodem com as brutais condições de trabalho e o "lado negro" do rápido crescimento da economia: expropriações selvagens, ocupação de terras agrícolas para rápida construção de casas, estradas, fábricas e outras infra-estruturas, para não falar dos fortes impactos ambientais (em poucos anos, a China será a nação mais poluidora do mundo)
Mas agora, com a revolta no Tibete, as coisas são mais críticas: estamos em ano olimpico, e Pequim investiu milhões nestes Jogos Olimpicos, fazendo tudo para que sejam "os melhores de sempre". A poucos meses do inicio da festa, tudo pode ir por água abaixo. Se a poluição era um problema grave, isto põe tudo em causa. E já se pede o boicote a Pequim, tal como foi feito há 28 anos atrás com Moscovo.
Agora chegamos "à pergunta de um milhão de euros": boicote a Pequim? Primeiro que tudo, porque é que deixaram que Pequim fosse a escolhida para sediar os Jogos Olimpicos? Sabiam que, se eles nada fizessem de significativo nesses campos antes de 2008, iriam ter problemas, pois haveria sempre quem aproveitasse politicamente esta ocasião. E agora que a China está no centro das atenções, a pressão mundial começa-se a sentir.
Agora vamos à parte pessoal: não apoio boicotes governamentais aos jogos. Vi o que foi Moscovo, e foi um fracasso politico, pois de pouco ou nada serviu. Os organismos internacionais não gostam muito da mistura entre desporto e politica. Tiveram o exemplo dos Jogos Olimpicos de Berlim, em 1936, que não fizeram mais do que exaltar a "superioridade ariana", mas que no fim tiveram um atleta negro, Jesse Owens, a ganhar quatro medalhas de ouro...
Perfiro mais o exemplo de Tommie Smith e John Carlos, que nos Jogos Olimpicos de 1968, ergueram o braço, com uma luva negra, simbolo do "Black Power". Eu perfiro isso. Perfiro que um Roger Federer, ou um Tyson Gay, ou os jogadores da NBA andarem com camisolas a dizer "Free Tibet" ou a usarem a bandeira do Tibete do que propriamente a serem indiferentes e preocuparem-se com o "merchandising". Assim, a mensagem passaria melhor. Afinal, se suportam causas como os deficientes, os meninos com HIV/SIDA, o combate à tuberculose, malária, etc... porque não um Tibete Livre? Teria mais impacto do que poicotes politicos, de impacto imediato, mas vazios de consequências...
Até pq o boicote só prejudica mesmo o atleta!
ResponderEliminarrealmente a questao aki é: porque é que pequim ganhou o direito a organizar os jogos?
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