terça-feira, 6 de maio de 2008

A vida de Gilles Villeneuve - 5ª parte, a época de 1978

Na quinta parte desta excelente biografia escrita pelo forista Villickx, aborda-se com detalhe a época de 1978 na Formula 1, onde o fabuloso piloto canadiano alcancou os seus primeiros resultados de relevo, culminando com a sua primeira vitória no Circuito de Notre-Dâme, em Montreal.


GILLES, o meu tributo. - 5ª Parte


1978 e a primeira vitória.


Terminado o campeonato de 1977, Gilles tinha agora algum tempo para aprender algo mais sobre o que era um F1 e como ser veloz nele. Mas ele era agora um piloto Ferrari, e as pessoas pareciam esquecer-se que ainda há poucos meses guiava - brilhantemente diga-se - um Formula Atlantic, que era muito menos potente e sofisticado.


As reacções ao seu acidente no Japão foram brutais, e as criticas choveram de todo o lado. Rapidamente a imprensa generalista, e não só, tentaram crucificar Gilles, e em toda a parte já se falava da sua substituição na Scuderia. Os seus colegas Niki Lauda, Ronnie Peterson e Carlos Reuteman, não se coibiram de apontar a falta de experiência, aliada a um excesso de voluntariedade, como áreas problemáticas a resolver. Só quando Enzo Ferrari, do alto da sua autoridade, reafirmou a sua confiança em Gilles e o seu empenho em faze-lo crescer como piloto, é que as coisas acalmaram.

Gilles mudou-se então para a Europa com a família, tendo escolhido a Cotê de Azur, no Sul de França, para morar. Não só porque lhe tinha sido recomendada por Walter Wolf, que lá possuía uma luxuosa residência, e por Patrick Tambay que também era um "habitué" da zona, mas principalmente porque Joann e ele não quiseram alterar a língua escolar dos pequenos Jacques e Melanie.


Nas primeiras semanas, ficaram instalados na "villa" de Patrick Tambay, que amavelmente lhes cedeu a casa pelo tempo que necessitassem, e Gilles, que estava muito perto de Maranello, deslocava-se nessas viagens a bordo de um pequeno Fiat, de serviço, cedido pela Ferrari. Normalmente, Gilles fazia sessões de 3 dias seguidos de testes em Maranello, e foi ai com a sua enorme simplicidade que deu o primeiro passo para se tornar num ídolo incontestável da nação Ferrarista.


Gilles, como pessoa, era a antítese do frio, calculista, arrogante e, principalmente traidor, de Niki Lauda, que tinha abandonado a Scuderia em troca de um punhado de dolares (era assim que a imprensa e os tifosi italianos naquela época o definiam), pois além de estar sempre disponível para os jornalistas e fans, era essencialmente uma pessoa muito charmosa pela sua ingenuidade e simplicidade.


Gilles, sozinho em Itália após as sessões de treinos, normalmente ficava em alegre cavaqueira com os jornalistas alocados permanentemente a Maranello e as suas conversas eram essencialmente sobre a sua família e a saudade que tinha da América. Ia reportando semanalmente, aos seus novos amigos, a evolução do pequeno Jacques (6 anos) ao volante do carro de família em França e o quanto orgulhoso ele estava, pois o puto, ao seu colo, já conseguia guiar a 100 km/h!


As suas histórias correram a Itália inteira, e assim foi nascendo a maior empatia já vista entre um piloto e todos aqueles que transformaram numa religião a sua paixão pela Ferrari. A primeira ideia da evolução de Gilles como piloto foi no circuito de Vallelunga, para onde a Ferrari decidiu ir testar nesse Inverno e onde se encontrava também a testar... Lauda, no seu novo Brabham-Alfa Romeo.


Lauda marcou como melhor tempo 1.06.68, que era um recorde da pista. Contudo, Carlos Reutemann rapidamente elevou a fasquia com um 1.05.83, para delírio dos milhares de tifosi que não sabiam se exaltavam Reutemann ou se ofendiam Lauda. Mas quando Gilles fez um respeitável 1.06.25, depois de mais um habitual pião (!), explodiram em uníssono: "VILLANOVA, VILLANOVA". Também ele era mais rápido que o "traidor austríaco"...



Forghieri e Tomaini estavam muito contentes com a evolução de Gilles, não se inibindo de lhe prognosticar um futuro auspicioso. Gilles estava confiante e apesar de reconhecer que ainda tinha muito a aprender, apontava o meio da época como a altura em que esperava ganhar o seu primeiro GP.

A Ferrari, nesse ano, tinha decidido trocar o seu tradicional fornecedor de pneus Goodyear pela Michelin, na esperança de encontrar uma vantagem com relação aos seus concorrentes, mas para tanto teve que desenhar e construir um novo carro: o 312T3. Contudo, não estaria pronto para o inicio da época e assim foi com o "híbrido" 312T2/78 que Reutmann e Villeneuve se apresentaram em Buenos Aires para o inicio do campeonato.


"Carlos Reutemann era um piloto genial, a quem a natureza não ajudou dando-lhe uma personalidade complicada", assim o definiu Enzo, e eu concordo totalmente, mas no dia certo era rapidíssimo e um competidor seríssimo para qualquer um, e na sua Argentina natal, tudo lhe correu bem ,conseguindo por o dificílimo e caprichoso Ferrari na primeira linha da grelha, ao lado do Lotus 78 de Mario Andretti.



Gilles não conseguiu passar do 7º lugar, a pouco mais de 1 segundo de Andretti tendo nesse percurso... feito vários piões e andado a comer relva. Enfim, o costume.

Na corrida, não se portou mal e conseguiu terminar em 8º lugar, após uma longa batalha com o seu amigo Patrick Tambay, que foi sexto. Reuteman foi sétimo, Andretti primeiro e Lauda segundo. Gilles, na terceira volta da corrida, fez a volta mais rápida da corrida. Prometia.

No Brasil, mais problemas e confusões aguardavam Gilles. Nos treinos, Peterson com o seu Lotus fez a "Pole-Position", seguido de Hunt, Andretti, Reutemann, Tambay, Villeneuve, Fitipaldi, Jones, Stuck e Lauda.

Na corrida, Reutemann saltou para a frente e foi-se embora, e até á bandeirada final não foi mais incomodado. Gilles perdeu uma posição na largada para Fitipaldi, mas ao fim de poucas voltas já tinha recuperado essa posição e ultrapassado também Tambay. Na 15ª volta, apanhou Peterson e tentou passa-lo, o sueco defendeu-se. e... chocaram outra vez! Peterson desistiu na hora e Gilles foi á box trocar uma roda, mas com a corrida arruinada, voltou a rodar tendo desta vez desistido.

Peterson, irritadíssimo com o seu "fã", voltou a critica-lo duramente dizendo que Gilles era "... no mínimo, uma ameaça pública".

Seguiu-se o GP da Africa do Sul, onde Gilles pela primeira vez bateu o seu colega de equipa nos treinos, ganhando um almoço a Tambay, com quem tinha apostado sobre quem bateria primeiro o seu colega de equipa, mostrando-se cada vez mais adaptado ao Ferrari e á Formula 1. Mas, ao contrário do que era habitual, o V12 Ferrari tinha dificuldades de respiração na altitude de Kyalami e assim ocuparam o 8º e 9º lugares da grelha de partida.


A corrida era para esquecer, pois os Ferraris eram lentos. Alem das dificuldades de potência, também a Michelin tinha uns compostos que desde o primeiro minuto não se adaptaram bem. E para piorar as coisas... novo incidente. Na 55ª volta, teve uma fuga de óleo, que ao entrar em contacto com os escapes, provocou uma fumarada dos diabos. Gilles em vez de imediatamente estacionar, percorreu quase uma volta inteira ao circuito a derramar óleo só parando com o motor gripado. Na volta seguinte, Reutmann... derrapou no óleo de Gilles, despistou-se e o seu Ferrari pegou fogo. Caiu o "Carmo e a Trindade", com os "especialistas" a quererem que Enzo substitui-se Gilles pela jovem esperança italiana que brilhava na Formula 3 e Formula 2, um tal Elio de Angelis...

Na corrida, ganhou Peterson, com uma ultrapassagem a Patrick Depailler na última volta.

A próxima etapa do campeonato correu-se no circuito citadino de Long Beach, na Califórnia. Os pneus Michelin adaptaram-se bem ao circuito e a grande meia recta da "shoreline drive" favorecia muito a potencia dos V12 Ferrari. Assim sendo, não foi com surpresa que "Lole" Reutemann colocou o Ferrari nº 11 na Pole-Position. Surpresa foi o nº 12 de Gilles estar a seu lado a 0,2seg, enquanto que Lauda foi terceiro seguido de Andretti, Watson, Peterson, Hunt, Jones, Patrese e Scheckter.

Na largada, os dois Ferraris e os dois Alfas atacaram a 1ª curva ao mesmo tempo, mas só havia espaço para um. Watson ao travar tarde demais "empurrou" Reutemann e Lauda para o lado sujo da pista e desta vez Gilles, com sorte, aproveitou-se e conseguiu agarrar o primeiro lugar. Enquanto Reutemann lutava com Lauda e Watson, Gilles conseguia manter-se facilmente na liderança, mas após a ascensão do seu colega ao 2º lugar percebeu que Reutemann era mais rápido e forçou o ritmo.



Nos circuitos citadinos, Gilles estava no seu ambiente e as suas derrapagens controladas e estilo super agressivo eram espectaculares e incendiava o espírito de quem quer que estivesse a assistir. Gilles em pista causava essa impressão ás pessoas, era único. Mas esta característica de Gilles tinha o seu outro lado da moeda, que era o excesso de impetuosidade e na 38ª volta, demonstrou-o.


Nessa volta, viu o Shadow de Clay Regazzoni, e imprudentemente confundiu a menor rapidez do suiço com um sinal para passar num lugar onde ... não cabiam dois. Acabou contra o muro após sobrevoar o piloto da Shadow, chegando até a embater com o seu pneu no capacete do Clay. Resultado: mais gritos e críticas, vindos dos seus colegas, que não o pouparam. Reutemann disse que Gilles tinha que controlar o seu temperamento e que a experiência o ajudaria muito... quando a tivesse.

Watson disse depois que a atitude de Villeneuve ao tentar ultrapassar Clay naquele lugar tinha sido "uma idiotice". Não estava nada fácil para o pequeno canadiano. Parecia que todos se estavam a esquecer que no seu 6º GP ele tinha liderado a sua primeira corrida, e já era uma certeza que conseguia rodar competitivamente com os grandes nomes da categoria.



Mónaco veio a seguir, e Gilles, que vinha, no mínimo, com fama de cowboy doido para a sua primeira corrida na Europa, não conhecia o circuito, mas a sua técnica de condução rapidamente chamou a atenção pois não foi uma nem duas vezes que os seus pneus roçaram os "guard-rails" monegascos e rapidamente as pessoas começaram a movimentar-se à procura daqueles lugares onde ele dava mais espectáculo. As suas passagens, especialmente na curva do Casino, eram já ovacionadas e rapidamente Gilles era aclamado em todo o circuito, especialmente pela legião de fans italianos que tomam tradicionalmente conta de Mónaco no fim-de-semana do GP. Contudo, desta vez já sabiam o nome dele e agora era, "GILLES, GILLES".

Nos treinos conseguiu o 8º lugar, sendo que Reutemann fez a Pole-Position. Imediatamente ao lado de Gilles estava Peterson e atrás dele Scheckter e Jones. Na partida, Villeneuve... portou-se bem e sem se envolver em incidentes foi subindo na classificação, sendo que já rodava em 4º lugar a 13 voltas do final, á frente de Lauda que terminou em segundo. Contudo, na zona do túnel, o local mais rápido do circuito, o seu Ferrari surpreendentemente foge da sua trajectória habitual e embate nos rails de protecção. Foi dos grandes.

Desgovernado, o carro vai brutalmente a varrer a pista de lado a lado embatendo violentamente nos guard-rails dos dois lados da pista em puro "Villeneuve style", tendo se imobilizado, totalmente destruído, no exacto lugar onde anos antes, em 67, Lorenzo Bandini tinha morrido queimado dentro do seu Ferrari, naquele que foi o primeiro GP que aqui o pretenso "autor", assistiu pela TV.

Gilles já era adorado pelos fans, mas os "especialistas" olhavam aos números e a verdade era que em 7 corridas pela Ferrari na F1, ele só tinha terminado uma e já eram vários os carros totalmente destruídos. Mauro Forghieri já não escondia a sua irritação e Gilles sentiu que as coisas não estavam fáceis. António Tomaini, que era com quem Gilles se dava melhor no plano pessoal na equipa avisou-o da situação e "pediu-lhe" que terminasse os GP´s. Ao menos isso, disse-lhe ele.

Gilles pediu ao seu manager, Gaston Parent, que fosse sondar Enzo sobre a sua situação mas Enzo era teimoso e um grande admirador de Gilles e tranquilizou-o dizendo: "Olhe, Villeneuve é um campeão e ninguém pode ser campeão de F1 se não correr riscos. Villeneuve está a corre-los porque tem essa capacidade. Assim é claro que não o tiraremos da equipa".

O GP da Bélgica era a corrida seguinte, e Villeneuve FINALMENTE termina o GP. Nos treinos, obtêm um 4º lugar, sendo que a "Pole-Position" foi conseguida por Andretti no seu novo "wing car" Lotus 79, quase 1 seg mais rápido que Reutemann. Lauda era terceiro.

Na corrida, Andretti saiu como um foguete, mas Reutemann falhou uma mudança e por isso, atrás dele, várias colisões aconteceram, sendo que Lauda, Hunt e Fitipaldi ficaram logo por ali. Villeneuve passou e assumiu a 2ª posição, até que seu pneu frente esquerda ter explodido na volta 39, forçando a sua ida à box. Com a paragem, Gilles cai para 6º lugar, mas não desiste. Nas últimas 30 voltas, consegue retirar mais de 20 segundos a Reutemann e alcança o 4º lugar final, atrás dos dois Lotus e do seu companheiro.


Foi nesta altura que Gilles deu mais um passo para a sua enorme popularidade, quando surge no paddock o seu motorhome, recém-chegado do Canadá. Os pilotos de F1 nessa altura já eram prima-donas assumidas, e já há muito tempo que só se instalavam em hotéis de 5 estrelas e dirigiam carros de topo das marcas desportivas. Assim aquela "volta as origens" foi muito comentada e admirada pelos puristas aficionados da Formula 1.


Gilles explicou dizendo que não se importava nem um pouco de passar três dias fechado no paddock, pois depois das dez da noite não havia barulho. Que podia dormir na sua própria cama, que era bem melhor que a dos hotéis. Que podia levantar-se mais tarde e ir para a cama quando queria. Que podia fazer ali os seus churrascos sem que o chateassem, pois já andava farto de comida de restaurantes. Mas principalmente porque assim podia ver os seus filhos a crescer. O aplauso foi geral.


Os Grandes Premios seguintes (Espanha, Suécia, França) foram para esquecer na Ferrari e para os seus pneus Michelin. Tirando o enorme acidente de Reutemann em Espanha e a vitória de Lauda no Brabham aspirador na Suécia, pouco mais há de interesse para esta história e assim passemos ao GP da Inglaterra, no circuito de Brands Hatch, onde a Michelin trouxe pneus novos só para Lole, que miraculosamente e naquela que ele considerou "a melhor corrida da minha vida" ganhou. Gilles, sem pneus novos, ao fim de 10 voltas estava a troca-los nas boxes e 9 voltas depois desistia com uma avaria mecânica.


Na Alemanha, para grande preocupação de Gilles, Jody Scheckter reuniu a imprensa para anunciar que tinha aceite o convite de Enzo Ferrari, para em 79 guiar para a Scuderia mas ... não sabia em lugar de quem. Gilles, a quem Enzo nada tinha dito sobre a situação, achou que seria ele o piloto a ser substituído pois afinal de contas as performances de Reuteman tinham sido melhores que as suas e assim era natural que fosse ele a sair. Não teve fé.


A corrida também nada teve de interessante, tendo Reutemann abandonado e Gilles chegado em oitavo. Esta fase do campeonato era dominada completamente pelos Lotus 79 e já só Lauda, Peterson e Andretti poderiam discutir o titulo, apesar que o conhecimento geral era de que nada tiraria o titulo a Andretti, pois assim Chapman o tinha decidido.

Na Áustria, finalmente Gilles corre o seu primeiro GP sob chuva e termina em terceiro. A corrida foi interrompida na 7ª volta, quando um dilúvio se abateu sobre as montanhas Styrian e no reinicio, ainda com chuva e apesar de fazer um pião, Gilles recupera, e ao fim de 16 voltas está na liderança da corrida ultrapassando em pista nomes como Jacques Lafitte, Vittorio Brambilla, Emerson Fitipaldi, Didier Pironi, Derek Daly, Hans-Joachim Stuck, Patrick Depailler, Niki Lauda, Carlos Reutemann e Ronnie Peterson. Nada mau, hem??



Com a pista a secar e com a volta dos pneus slicks, voltaram os problemas e Gilles tem que ceder a Peterson, que ganha, e a Depailler. A Holanda é o GP seguinte e Gilles, com a sua carreira em jogo e animado pela excelente corrida na Áustria, atacou Zandvoort de uma forma fantástica e com um carro inferior consegue um 6º lugar ,á frente do seu companheiro de equipa.


Antes de Monza, Enzo chama Gilles para uma reunião e renova-lhe o contrato para e época de 1979. Diz-se que o velho homem, devido á grande controvérsia que girava à volta de Gilles, pediu a todos os membros da equipa que dessem a sua opinião sobre qual piloto deveria ficar. Unanimemente, escolheram Gilles.


Monza aproximava-se, e Gilles quis imediatamente pagar a Enzo a confiança em si depositada. Nos treinos, possesso, fez o 2º tempo, somente atrás de Andretti e cerca de 1,1 segundos mais rápido que Reutemann, para êxtase dos 120.000 espectadores que afluem regularmente a Monza, no dia de Grande Prémio. Na largada, Gilles imediatamente salta para a liderança seguido por Andretti.

Mas mais atrás, a tragédia instala-se, pois vários carros chocam numa incrivel carambola, e o Lotus de Peterson pega fogo. James Hunt e Clay Regazzoni conseguem retirar o sueco do carro, que tinha as pernas partidas. Ele e Brambilla, que tinha levado com uma roda perdida na cabeça, foram transportados para o Hospital de Milão. Na segunda largada, Gilles salta "depressa demais" para a frente e Andretti segue-o. Algum tempo depois os comissários de pista penalizaram-os com 1 minuto ao seu tempo de corrida.

Gilles atacou o quanto pode, mas o Lotus naquele ano era um carro muito superior e a 6 voltas do final, Andretti passa-o. Andretti ganha e Gilles foi segundo mas ao retirarem-lhes esse minuto ao seu tempo final, caem para sexto e sétimo da classificação geral. Mario Andretti, com o ponto obtido, sagra-se matematicamente campeão do mundo.


Na manhã seguinte, a notícia da morte de Ronnie Peterson, causada por um aneurisma cerebral decorrente de pequenos fragmentos dos ossos da sua perna, aquando da sua operação de urgência, terem interrompido a normal irrigação sanguínea, chocou a comunidade da Formula 1 e o mundo em geral.



O piloto sueco era muito querido e respeitado pelos seus pares e admiradíssimo por todos os amantes do desporto que eram unânimes em considera-lo um dos melhores desta geração. A sua morte deixou um grande vazio e muitas saudades em todos aqueles que conseguiam distinguir uma técnica superior de condução. Em relação a isso, Gilles declarou o seguinte: " A morte de Ronnie surpreendeu-me e bateu-me fundo. Eu sempre o admirei muito e considerava-o como o mais rápido piloto do pelotão".

Foi nos EUA que se correu o Grande Prémio seguinte. Andretti já era campeão mas queria-o mostrar na sua terra e foi com um tempo fantástico que colocou o Lotus na "Pole-Position", a 1 segundo do segundo, Reutemann. Jones foi terceiro e Gilles quarto. Na corrida, ao fim de duas voltas, Reutemann e Gilles passam Andretti e instalam-se comodamente na liderança. Mas a meio da corrida, o Ferrari de Gilles, "entrega a alma ao criador", impedindo o pequeno Canadiano de mais pódios e pontos. Reutemann ganha, seguido de Alan Jones e Jody Scheckter.


Seguia-se agora o último GP da época de 1978, e iria correr-se em "casa" de Gilles, no novo circuito da Ilha de Notre-Dame, em Montreal, no seu Quebéc. Os treinos assistiram a uma sensacional pole-position arrecadada pelo francês Jean Pierre Jarier, aos comandos do Lotus que tinha sido de Ronnie Peterson, fazendo jus á enorme rapidez e enorme talento deste piloto, que nunca teve resultados de acordo com as credenciais que tinha. Scheckter, no Wolf canadiano, foi segundo, e Gilles foi terceiro.


Na largada, Jarier salta para a frente, seguido de Alan Jones que ultrapassa Gilles e Jody. O dia estava frio, mas a gigantesca moldura humana liderada pelo 1º ministro do Canadá, Pierre Trudeau, estava ao rubro para seguir as peripécias do seu "menino" de Berthierville, que se definia como alguém que somente gostava de andar rápido. Na 19ª volta, Gilles ataca Jones e passa-o para logo de seguida apertar o ritmo e chegar-se a Jody Scheckter ,superando-o na 25ª volta, deixando os 70.000 espectadores á beira de um ataque de nervos.



Gilles via o que se estava a passar nas bancadas e decidiu que, apesar de estar a quase 30 segundos de Jarier, tinha que dar o seu melhor e deu-o, começando de uma forma gradual a diminuir a distância para o francês. Contudo, o Lotus era o carro do momento e caso nada tivesse acontecido não seria expectável que a classificação se alterasse.



Mas nesse dia... Deus era canadiano, e com problemas de travões, na 50ª volta Jarier desistiu, e Gilles assumiu a liderança do GP. Faltavam 20 longas voltas para a bandeirada final, e podemos imaginar o que se passou na cabeça de Gilles. Guiava um Ferrari, no seu circuito natal, em frente aos seus compatriotas e a vitória era possível. Tudo fez nessas voltas foi poupar a mecânica do Ferrari, e na 70ª e última volta, recebeu a bandeira quadriculada em 1º lugar!



"Foi o dia mais feliz da minha vida" declarou o extasiado Gilles depois das cerimónias do pódio. O seu companheiro, Carlos Reutemann, disse também que estava muito feliz por ele, e que também estava feliz por não ter ganho aquela corrida. Disse também que Gilles era um excelente piloto e que em breve seria um campeão do mundo, e que Jody Scheckter não teria trabalho fácil no futuro frente a Gilles... a ver vamos.



(A continuar)

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