quarta-feira, 7 de maio de 2008

Crónica: É altura de pensar no futuro

Começo isto com o post que o Ivan Capelli escreveu hoje sobre a história e o fim da Super Aguri:

"Uma equipe de Fórmula 1 decide criar um time-satélite, como forma de manter o piloto-ídolo de seu país em atividade. Não faz muito sentido, mas vá lá, a decisão foi tomada. O novo time é risível. A menos de um mês do campeonato, tem apenas um carro com 4 anos de defasagem para correr, não tem pilotos confirmados, há quem duvide que seu nascimento seja viável. Mas ele nasce. Coloca dois japoneses ao volante, um deles bizarro, que é prontamente substituído. Um novo carro chega da equipe principal e o time vai melhorando.



Em seu segundo ano de vida, contudo, comete o maior dos pecados: ousa desafiar o pai. Perdida com um projeto ridículo, a equipe principal se vê humilhada pela satélite. Enquanto sofre nas últimas posições das corridas, o time pequeno - veja só - briga por pontos. Mesmo com menos dinheiro e com equipamento de segunda mão, mostra competência, organização e o principal: resultados. Começou a ficar chato.



A retaliação veio rápido. Ainda durante a segunda temporada, o time-filho se vê proibido de usar melhorias aerodinâmicas. As torneiras financeiras são fechadas. O time começa a morrer de inanição.



Na última semana, o golpe final. O time-pai avisa a FIA que seu descendente não irá correr e seus caminhões são proibidos de entrar no autódromo. Hoje, o golpe final.



Tchau, Super Aguri. Sua trajetória foi curta, mas valorosa."



Pensavamos que iriamos rir disto, mas no final acabamos com uma lágrima furtiva no olho e a aplaudir em respeito por aquilo que Aguri-san fez em manter a sua equipa. E também ficamos com a sensação de que o "criatura virou-se contra o criador", e que atabalhoadamente, decidiu minguá-la primeiro e extingui-la agora.


Enquanto dizemos adeus a mais uma equipa de Formula 1, pensemos nisto: temos uma grelha reduzida perigosamente a 20 carros, num ano em que se prometia o acréscimo para 24. A Formula 1, o topo da carreira automobilistica por excelência, está a ficar cada vez mais elitista. Para piorar as coisas, nos últimos cinco anos, são mais as equipas que se extinguem do que as que entram. Os custos são cada vez mais astronómicos, e tirando os construtores, os milionários com espirito garagista fogem cada vez mais de um desporto que apesar de ser cada vez mais rico, é um sorvedouro de custos.


Bernie Ecclestone e Max Mosley têm apostado nos últimos anos numa formula que julgam ser vencedora: reunir o maior numero de construtores, pois assim eles lucram com a exposição das suas marcas na maior montra do desporto automóvel. Lá conseguiram: BMW, Ferrari, Renault, Mercedes, Honda, Toyota, estão todos lá.
Mas isso tem as suas fragilidades: todos estas marcas querem ganhar, e ficar no meio da tabela não é algo que gramem muito, e mais cedo ou mais tarde, eles se irão embora. Estas equipas não tem paciência infinita, e se isto tem uma parcela muito pequena nos seus orçamentos, isso tem impacto nas suas vendas. E para piorar as coisas, temos uma crise mundial à porta, onde tudo aumenta: os alimentos, o petróleo... Estas multinacionais também sofrem, ou julgam que não?

Onde é que eu quero chegar com isto? Esta formula não vai durar para sempre. Ao menosprezar os "garagistas" estão a enxotar os verdadeiros fãs da Formula 1. Alterações nos regulamentos, impedindo "equipas B", prejudicam a concorrência e afastam investidores, em vez de os atraír. A semana passada, Tony Teixeira, o patrão da A1GP, disse que tinha desistido da Formula 1 porque não podia montar uma "equipa B", como fez Dieter Maeschitz e a sua Red Bull/Toro Rosso. E a Prodrive, de David Richards, também não foi para a frente devido a essa proíbição.
E preparem-se: se Maeschitz não encontrar comprador até ao fim deste ano, ou inicio de 2009, vai pura e simplesmente extinguir a STR. E assim passamos a 18 carros. Caso aconteça, podemos encarar a ideia do fim da Formula 1? Se investirem exclusivamente nos construtores, sim.

A história do automobilismo teve ciclos destes: quando as marcas eram as unicas a participar, a competição acabava na primeira crise que aparecia. A Formula 1, desde o seu inicio, teve sempre equipas privadas, com pilotos privados. Alguns garagistas, como Ken Tyrrell e Frank Williams, começaram assim: comprando chassis de outras equipas, e depois montaram os seus próprios chassis.

Começo a acreditar que a grande solução para a revitalização da Formula 1, pelo menos em termos de grelha, seria a abolição de algumas das normas existentes, a saber:

- Abolição da obrigatoriedade de haver equipas com dois carros.
- Proíbição de comprar chassis.
- Uma taxa de inscrição para entradas novas. No mínimo, uma taxa mais baixa, ou simbólica.
- Maior distribuição das receitas de publiciade e TV.
- Cortes nos custos, como a eliminação dos apêndices aerodinâmicos, entre outros.


No final, seria um regresso aos anos 70. Era uma era de liberdade total e de total loucura, por certo. Mas muitos adquiriram o gosto por esta modalidade nessa altura, recordam esses tempos com saudade. Sei que vai haver uma revisão do Pacto de Concórdia em 2009, acho que devia ser isso que deveria ir a plenário, mas honestamente, não acredito.


Não acredito porque? Ora, ainda temos no poder um conjunto de pessoas que, no mínimo, estão há tempo demais. Não falo do Max Mosley, que toda a gente sabe que não tem poder nehum e tem os dias contados. Falo do Bernie Ecclestone. Tem 78 anos, e não acredito que esteja vivo daqui a dez. Mas se ele viver até lá, duvidarei que a Formula 1 ainda exista. Pode ser que ainda exista, mas não com estas regras. Quando as coisas chegarem a 16 ou 14 carros, talvez chegue ao ponto que deve-se fazer alguma coisa para fazer sobreviver. E não é com petrodólares (o preço não vai ficar assim para sempre) ou "negócios da China", porque um dia, ambos acabam.


Pense nisso, Tio Bernie. E faça alguma coisa, antes que aquilo que andou toda a vida a construir, morra antes de si.

4 comentários:

  1. É Paulo... A crônica de uma morte anunciada. É bom abrir mesmo os olhos, mrs Mosley and Ecclestone

    ResponderEliminar
  2. Grande Paulo

    Valeu a visita e apareça sempre por lá para trocarmos idéias.
    Com relação a Super Aguri,é uma pena mesmo,é mais uma equipe que se vai e não deve ser a única,caso não ocorra uma mudança de postura de todos que comandam o espetáculo.

    ResponderEliminar
  3. Excelente, Speeder. Até motivou um texto meu... Vou postá-lo em breve. Abraços. (LAP)

    ResponderEliminar
  4. o outro dia um dono de equipe, não lembro se foi Villaj ou Dietrich, disse que precissava 4 carros por escuderia. não é totalmente má a ideia:
    estou me referindo ao contrario, a montar 4 ou 6 escuderias lanternas com um carro somente. isso daria fólego aos garagistas
    o recorte de custos é urgente, na IRL tem um número máximo de funcionarios de pit-stop, na formula 1 o desperdicio de dinheiro está ficando absurdo.

    outra coisa a apontar é o fato de que a industria automovilistica mudou e isso tambem prejudica pequenas empressas. já não vemos essas magníficas empresas de esportivos ingleses de baixo custo que nos anos 60 e 70 faziam sonhos de carro
    parabéns speeder pelo artigo, fiquei empolgado lendo, é bom discutir essses fatos

    falou

    ResponderEliminar

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...