domingo, 2 de novembro de 2008

Formula 1 - Ronda 18, Brasil (Revista da Blogosfera)

Que a vida é cheia de surpresas, lá isso é verdade. Mas nunca pensei eu, que vejo Formula 1 há mais de 25 anos, assistisse à entrega de um título mundial a 200 metros da meta, quando o vencedor da corrida já comemorava um título que julgava que era seu. E foi... por pouco mais de um minuto.


Como a maioria dos blogueiros que andam por aqui são do Brasil, decerto que a maioria dos comentários sejam de desilusão. Mas mesmo assim, tenho a curiosidade em saber como é que eles reagiram a esta decisão "hitchcockiana" do Mundial de 2008... mas eu posso dizer isto: vale a pena ver Formula 1!

Se Alfred Hitchcock e Steven Spielberg se juntassem um dia e dissessem um para o outro "Vamos produzir um final de campeonato de Formula 1?", talvez não conseguissem fazer o que aconteceu agora a pouco. Se qualquer um dos protagonistas vencessem o campeonato, a conquista seria histórica. Felipe Massa, por ter virado um campeonato tão impossível como no ano passado, na frente de seu público, que deu um colorido todo especial a esse final de campeonato. Hamilton, por ser o mais jovem piloto a ser Campeão Mundial e por confirmar um talento que já podia ter se consagrado ano passado. Mas a decisão desse ano foi ainda mais histórico pela forma como Hamilton conquistou o título. 'Sem palvras', disse o primeiro negro a conquistar a Formula 1. E foi um final de campeonato que ficará marcado para sempre nos olhos de quem teve o prazer assistir uma das corridas mais dramáticas da história.

(...)

Como tinha acontecido em Spa, a chuva apareceu no seu finalzinho. Porém, a confusão foi menor. Todos os líderes entraram nos boxes, inclusive Massa e Hamilton. Mas havia um pequeno detalhe. Glock, que chegou a pressionar Hamilton em determinado momento da corrida, resolveu não parar. Hamilton estava no limite do campeonato, na quinta posição, mas tinha Vettel nos seus calcanhares. Faltando duas voltas, Kubica passou os dois e Vettel aproveitou a deixa para deixar Hamilton na ponta do abismo. O sexto lugar lhe tirava o título. Da mesma maneira como tinha acontecido em 2007. A torcida urrou como um gol. Como uma vitória... de Senna! Aquele título de Massa parecia com as inesquecíveis conquistas do eterno ídolo brasileiro. Hamilton tentava, mas Vettel se distanciava. "Come on, baby", gemia sua linda namorada. Mas tudo parecia perdido. No conforto do chão da sala da minha casa, já dizia o "O Massa é campeão!". Porém, havia outro detalhe. Glock, que chegou a ser o mais rápido na pista quando a chuva ainda era tímida, viu a chuva aumentar de intensidade. Enquanto Massa recebia a bandeirada, Hamilton via seu título escorrer por entre seus dedos enquanto mergulhava rumo a Junção. Então vi aquele carro branco e o capacete predominantemente vermelho. Era Glock! Que se arrastava na curva da Junção. Vettel já o tinha deixado para trás, enquanto Hamilton ultrapassou o alemão na última curva, ganhando um campeonato que parecia de Massa 500 metros antes.


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Como deu para perceber, muitos fatores poderiam ter definido o campeonato, como a ultrapassagem da cambaleante BMW de Robert Kubica no final da prova em Hamilton na penúltima volta. Ainda poderia ter acontecido muito mais nesse histórico Grande Prêmio do Brasil de 2008, mas tudo que se passou já entrou para a história da Formula 1. Poucas vezes dá para perceber tão claramente que fizemos parte da história e hoje foi o caso. Não será preciso passar anos para vermos algo tão claro. Hamilton, em sua ultrapassagem consagradora sobre Glock, tirando o título de Felipe Massa na última curva. Simplesmente histórico!


João Carlos Viana, jcspeedway



Decisões na Fórmula 1 costumam ser dramáticas. Pela própria dinâmica do esporte: a ciência exata calculada por inúmeras simulações de computador entra em completo desequilíbrio quando a corrida começa e o fator humano passa a ser primordial. Basta olharmos para a corrida final do ano passado para confirmar isto. Mas a prova de hoje em Interlagos superou todas as expectativas. E por muito. No dia em que Felipe Massa precisava de um milagre, a ajuda divina apareceu justamente para quem teve o título nas mãos praticamente o tempo inteiro. Uma perversa injustiça, mas daquelas que torna o esporte a motor tão fascinante.

O herói dessa epopéia trágica foi o brasileiro Massa. Com a chance única, quase privilégio, de ir para uma decisão em casa, ele esbanjou tranqüilidade a semana toda. O objetivo era o de vencer em Interlagos e jogar para Lewis Hamilton a responsabilidade de conquistar o resultado que lhe cabia para o inglês se tornar o mais jovem campeão da história. (...)

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(...) A dois minutos do início da corrida, uma forte pancada de chuva molhou completamente o asfalto. E, dizia a lenda, Massa se daria muito mal em condições como aquela. Não foi o que aconteceu: ele imprimiu um bom ritmo no início e cimentou sua segunda vitória no Brasil com uma corrida sólida.Enquanto isso, Hamilton e a McLaren adotaram uma tática conservadora que começou a naufragar por uma série de erros. O primeiro foi da equipe, que o chamou com uma volta de atraso para trocar pneus no começo da prova. Isto jogou o piloto para o sétimo lugar na corrida e, temporariamente, o título nas mãos de Felipe Massa.

Hamilton se recuperou em seguida e, ocupando o quarto posto a maior parte da prova, voltou a adotar uma postura conservadora. Mas a chuva deu as caras de novo em Interlagos nas voltas finais e quase todos os pilotos pararam nos boxes para pneus intermediários, inclusive os dois personagens deste épico.

A três voltas do final, foi a vez do inglês errar na saída da junção e jogar o titulo fora ao permitir a ultrapassagem de Sebastian Vettel. Interlagos explodiu em festa e segurou a respiração acompanhando os contra-ataques frustrados de Hamilton. Massa cruzou a linha de chegada como campeão, mas o título resolveu cair no colo do adversário porque Timo Glock, com pneus secos e muito gastos, mal conseguia se segurar em uma pista cada vez mais molhada. Ironicamente, os dois coadjuvantes da prova mais dramática de Massa eram compatriotas de um personagem central na sua carreira: Michael Schumacher.

No final, o fenômeno Lewis Hamilton conquistou o título pelo conjunto da obra, com uma equipe que fez um trabalho competente em um carro que não quebrou nenhuma vez. No final das contas, o melhor time saiu com o título de pilotos. E o melhor piloto foi instrumental para dar à Ferrari o primeiro lugar entre os Construtores. (...)

Luiz Fernando Ramos, Blog do Ico


No ano passado a decisão do título tinha sido uma perfeita loucura, mas a deste ano superou tudo o que já vi até hoje.

Era mais que provável que o Hamilton levasse o caneco no final da corrida brasileira, mas fazê-lo na última curva da última volta, era certamente algo que ninguém podia imaginar. Para quem sofria do coração ou fosse adepto do Massa, a última volta foi uma completa maldade.

Não acredito que alguma vez um título mundial se decida de forma tão renhida como aconteceu hoje no Brasil.


São Paulo, Brasil - É até difícil saber por onde começar o texto. Foram tantos acontecimentos em uma corrida histórica, tantas possibilidades, tanta emoção, emoção elevada ao extremo nas últimas voltas, até a linha de chegada... a indecisão, a tensão, as comemorações distintas, a quase incredulidade em comemorar um título que escapa das mãos a 500 metros da linha de chegada...

Comecemos assim: Lewis Hamilton é o novo campeão mundial de Fórmula-1. O mais jovem campeão da história da categoria, um piloto dotado de um talento excepcional, que fez uma corrida quase perfeita para suas pretensões, mas que novamente errou em um momento decisivo. Se Hamilton foi o campeão, o título está em excelentes mãos e a vitória é justamente merecida, tanto quanto seria se Felipe Massa fosse o campeão. Mas se o brasileiro pode colocar a derrota por um mísero ponto na conta da Ferrari, Hamilton pode creditar seu primeiro título à Toyota.

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Na largada, os pilotos demonstraram extrema cautela e mantiveram as posições, à exceção de Kovalainen, que definitivamente não é um piloto de ponta e perdeu posição para Fernando Alonso, um dos grandes nomes da prova. Ambos trocaram posições pelo menos duas vezes, com o espanhol sempre levando a melhor.

A última prova da carreira de David Coulthard durou apenas uma curva: o escocês chocou-se com Kazuki Nakajima e abandonou a prova na saída do "S" do Senna. Mais à frente, já na Reta Oposta, quem saiu da pista foi Nelson Piquet, que também abandonou. Hamilton vinha com visível cuidado, na 4ª posição, posto que lhe garantiria o título.

(...)

A corrida seguiu assim. Pista seca, ameaça de chuva, posições mantidas, pouca emoção. Apenas a ansiedade por algum evento que pudesse decidir o campeonato.

Vettel ainda voltou a ameaçar Massa novamente, mas o mesmo cenário do primeiro duelo se repetiu: por ter de fazer seu pit-stop antes do brasileiro, o piloto da Toro Rosso não chegou a ameaçar a ultrapassagem.

Felipe seguia soberano na liderança. A vitória era dele. Hamilton estava perto do limite, mas ainda assim seguia também tranqüilo para conquistar seu título, sem sofrer sustos.

Choveu nas últimas 4 voltas. Uma chuva que começou tímida, mas incômoda o suficiente para os pilotos começarem a trocar seus pneus secos para pneus intermediários - Heidfeld foi o primeiro deles.

Quase todos os pilotos foram aos boxes. Era aparentemente impossível seguir na pista com pneus de seco.Massa, Hamilton, Räikkönen, Kovalainen... três voltas para o final, e tudo ficou embaralhado, imprevisível, surreal.

Lewis Hamilton acabou perdendo uma posição após o pit-stop: estava agora em 5º, à frente de Vettel, o fenômeno. A diferença parecia ser segura, embora pequena, mas o arrojo e a perícia de Vettel sob chuva e a desordem absoluta entre os carros na pista, com diversos retardatários povoando as primeiras posições, fizeram Hamilton errar. Um pequeno erro, na Curva do Café. Erro que Vettel, excepcional, não cometeu.

Era inacreditável. Definitivamente inacreditável, e continua sendo. Vettel assumiu a 5ª posição. Com Hamilton em 6º, faltando míseras duas voltas para o final, Massa era o campeão.

Última volta. Interlagos vinha abaixo, em êxtase absoluto, inacreditável, inimaginável. Era o sonho se tornando realidade, era o inimaginável acontecendo.

Massa venceu a prova. Vettel vinha a frente de Hamilton, que tentava de todas as formas ultrapassar o alemão que, por sua vez, mostrou uma frieza absoluta para se manter à frente de um postulante ao título, sem cometer um único erro.Junção, Curva do Café... faltava apenas a Subida dos Boxes...

E eis que a segunda Toyota entrou em cena: Timo Glock, 4º colocado, errou. A euforia e a incredulidade eram tantas, que quase ninguém viu. Os olhos buscavam apenas Vettel e Hamilton, e Vettel continuava a frente de Hamilton! Vettel entrou na reta à frente de Hamilton!

Quando ambos cruzaram a linha de chegada, o autódromo, a Ferrari e a família de Felipe Massa comemoravam o título mundial de Felipe Massa. Foi então que a confirmação dos tempos indicou Hamilton em 5º. Os olhos continuavam incrédulos, contando três, quatro vezes, a posição de Hamilton. Sim, ele era o 5º. Era o campeão mundial.

Massa foi às lágrimas, publicamente, pela primeira vez. O título lhe escapou por 500 metros. Por pouco mais de 10 segundos.

E depois de uma corrida dessas, de um campeonato desses, está difícil controlar a absurda confusão de sentimentos, um misto de emoção, decepção, alegria, reconhecimento, êxtase, frustração...Por que inacreditável. Definitivamente inacreditável, e continua sendo...

Hugo Becker, Motorhome

Incrível, estupendo, emocionante, histórico. Sobrarão adjetivos para classificar o mundial desse ano. Faltarão para classificar a corrida de hoje em Interlagos.

Quando eu imaginei, semana passada, que a última corrida do ano seria de tirar o fôlego, não esperava algo como hoje. Foi especial, sem a menor sombra de dúvidas, a melhor decisão de título que já vi. Uma das corridas que não serão esquecidas nunca.

Acordei hoje e a primeira coisa que pensei foi: “É hoje!” A F-1 ditou meus passos e pensamentos, não só hoje, como durante toda a última semana. E quando a hora da corrida chegou, foi um bate-coração terrível.

Depois da largada rola aquele instante de relaxamento. Correu tudo bem, Felipe levava a Ferrari tranqüilo na ponta, Hamilton era o 4º. O inglês ainda era campeão, mas a torcida por uma quebra ou por um erro de Lewis persistia. Afinal, “ainda restavam mais de 60 voltas para o final”, afinal, “corrida não se decide na 1ª volta.”

Mas a corrida prosseguiu, nada de Hamilton errar e o título parecia decidido.

Parecia.

Foi quando a chuva caiu, Glock surgiu em 4º e Vettel ultrapassou Hamilton. Me levantei do sofá, tremendo, com o coração na boca. Soltaria o grito de campeão que jamais soltei para um piloto brasileiro, veria a Ferrari mais uma vez campeã de pilotos e construtores.

Quando Felipe abriu a última volta, havia nada menos do que histeria aqui em casa e na vizinhança. Eu de pé, minha mãe idem, os dois abraçados e tremendo de nervosismo.Dava pra ouvir o burburinho nas casas vizinhas. O morador de uma das casas aqui ao lado berrava. Eu o acompanhava como quem dialoga num tom de voz ensurdecedor: “vai Vettel! Vai Vettel!”

Me larga que eu vou gritar” – adverti minha mãe.

Felipe cruza a linha em primeiro, seguro o grito porque ainda falta confirmar a posição de Hamilton.

O coração ameaça parar, sinto uma dorzinha fina no peito. Finalmente, chegou a hora.

Aí a imagem é cortada para a Junção. Glock, o teimoso do pneu de seco, perde velocidade de forma incrível. Hamilton o ultrapassa e é 5º. Campeão.

"Como assim?"

É, assim.

Fico feliz pelo título de Hamilton. Apesar de não ser o meu favorito, tem todos os méritos pelo belo campeonato que fez. Fico feliz pelo 16º mundial de construtores da Ferrari, equipe do coração.

Mas é difícil esconder a frustração. O que era histeria torna-se um silencio duro e seco. Não só dentro de casa, mas entre os antes agitados vizinhos.Era para ser e não foi. Já estava na mão e escapou. Uma broxada terrível depois de uma ejaculação precoce. O final de campeonato mais emocionante da minha vida, daqueles que eu vou contar para os netos.

O ano de 2008 fechado com chave de ouro. Um temporada divertida desde a etapa inicial na Austrália até a penúltima curva do Brasil.

Ron Groo decretou e faço minhas suas palavras: "Já estou com saudades."

Fabio Andrade, De Olho na Formula 1

2 comentários:

  1. Eita, valeu pela citação, Speeder. Foi assim que senti esse domingo inesquecível...

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  2. Acho que eu nunca senti tanta coisa diferente em um espaço tão curto de tempo... consegui sentir, ao mesmo tempo, emoção por ver Hamilton - de quem sou fã - comemorando o título, e uma tristeza indescritível por ver um autódromo que, segundos antes, parecia querer explodir, e agora estava subitamente calado, como em um silêncio sepulcral.

    Nunca será possível descrever o que aconteceu hoje. Foi especial. As palavras não são suficientes. Somente nós, que amamos Fórmula-1, podemos entender o que significou a corrida de hoje...

    Obrigado pela citação, Speeder.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...