quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O piloto do dia - Michael Schumacher, 40 anos! (6ª e última parte)

(continuação do capitulo anterior)

Depois dos cinco títulos consecutivos por parte da Ferrari e de Michael Schumacher, era certo que mais cedo ou mais tarde, a concorrência iria reagir e o seu dominio iria chegar ao seu final. Isso aconteceu em 2005, quando a FIA, em mais uma mudança das regras para tornar a Formula 1 mais competitiva (o melhor eufemismo que se pode arranjar para não dizer que se quer evitar o dominio de um homem...), decidiu que os pneus deveriam durar toda a corrida, algo que favorecia as equipas que calçavam os Michelin (como a Renault) em deterimento dos Bridgestone (que calçavam os Ferrari). Com isso, o dominio dos Ferrari desapareceu, e Schumacher tinha muito mais dificulades em ganhar.

A sua unica vitória do ano foi em Indianápolis, palco do GP dos Estados Unidos, onde alinharam... seis carros. O boicote das equipas com penus Michelin, na volta inicial do Grande Prémio, devido a problemas de segurança com o seu conjunto de pneus, levou à revolta dos adeptos e a uma dobradinha da Ferrari, com Schumacher e Rubens Barrichello nos dois primeiros lugares. Mas esse não foi a unica vez que Schumacher foi ao pódio. O alemão foi segundo em Imola (depois de atacar a liderança de Fernando Alonso até ao fim), terceiro em Magny-Cours e segundo na Hungria, depois de fazer a pole-position, a unica do ano para ele. No final da temporada, o alemão foi terceiro no campeonato, com 62 pontos, mas menos de metade dos alcançados pelo piloto espanhol, na caminhada para o seu primeiro título mundial.

Em 2006, a troca de pneus foi de novo permitida, e a Ferrari voltou à sua antiga forma. Schumacher tinha agora outro companheiro de equipa, o brasileiro Felipe Massa, vindo da Sauber, e um jovem com potencial de futuro. O alemão deu-se bem com ele, e aos 37 anos, partiu para a sua 15ª temporada consecutiva, tentando alcançar um ainda mais inédito oitavo título mundial. Mas ele já estava a combater contra uma nova geração de pilotos, e a frescura de Schumacher já não era a mesma que tinha em 1993...


Começou o ano a fazer a pole-position no Bahrein, mas perdeu a corrida a favor de Fernando Alonso, venceu a sua primeira prova do ano em Imola, a quarta prova do ano, depois de no dia anterior ter feito a sua 66ª "pole-position" e bater o recorde de Ayrton Senna. Repetiu a vitória em Nurgurgring, mas nas quatro provas seguintes, ficou na segunda posição por três vezes, antes de voltar a entrar em polémica, quando depois de ter feito o melhor tempo nos treinos do GP do Mónaco, parou o seu carro na curva La Rascasse no preciso momento em que Fernando Alonso estava a fazer a sua volta mais rápida. Os comissários, depois de avaliar as imagens, decidiram retirar-lhe a "pole-position" e o obrigaram a partir do final da grelha. Terminou em quinto.

Voltou a ganhar em Indianápolis, a primeira das suas três vitórias consecutivas nesse ano (ganhou também em Magny-Cours e Hockenheim), e torna-se no principal rival de Fernando Alonso para o título mundial, reduzindo a diferença para onze pontos. A diferença manteve-se até Monza, altura em que Alonso desistiu com um motor partido, e Schumacher ganha. No final da sua 90ª vitória da sua carreira, anunciou que aquela seria a sua última temporada na Formula 1. Uma nova vitória na China o colocou definitivamente na liderança, e se nada acontecesse, o alemão conquistaria o seu oitavo título mundial.

Mas em Suzuka, palco do GP do Japão, Schumacher sofreu algo já raro: uma quebra do motor. Isso aconteceu a 16 voltas do final da corrida, onde o alemão liderava confortavelmente. Alonso venceu e tornou-se no virtual campeão do Mundo. Contudo, ainda tinha chances na última prova do ano, em Interlagos. Eram mínimas, mas tinha que tentar. Mas estas se esfumaram nos treinos quando um problema na pressão de combustivel no inicio da Q3 o forçou a partir da décima posição da grelha. Sendo assim, concedeu a derrota.

Antes da partida, Schumacher foi homenageado com um troféu oferecido por Pelé, e tentou fazer uma corrida de recuperação. Cedo chegou ao sexto lugar, mas um furo num dos pneus, quando ultrapassava o Renault de Giancarlo Fisichella, o obrigou a parar e cair para o 19º posto. Aí fez outra corrida memorável, vindo de trás para a frente, fazendo uma performance que para muitos, foi considerada como a melhor da sua carreira. No final da corrida, terminou no quarto lugar, mas tinha sido o homem da corrida. No final da temporada, tinha sido vice-campeão do Mundo com 121 pontos, com sete vitórias, quatro "pole-positions" e sete voltas mais rápidas.

Retirado finalmente da competição, Schumacher ficou ligado à Ferrari como colaborador. Ajudou a desenvolver os novos chassis e componentes para Massa e o seu sucessor na equipa, o finlandês Kimi Raikonnen, é conselheiro na equipa técnica, embora muitos falem que o seu verdadeiro lugar seria o de Director Desportivo, como sucessor de Jean Todt, que se reformou no inicio de 2008. Para além disso, diverte-se: correu algumas provas de Superbikes alemãs, levando à especulação de que iria começar uma segunda carreira nas motos, algo que sempre recusou. Fez até um cameo (com Jean Todt) como condutor de uma quadriga vermelha no filme "Asterix nos Jogos Olimpicos"...




Actualmente é um desportista muito rico. Em 2005, um ano antes de se retirar, a revista Eurobusiness classificou-o como o "primeiro desportista bilionário". Para além de um salário anual de 80 milhões de dólares pagos pela Ferrari, assinou contratos de publicidade para outras companhias. Um bom exemplo: para que a Deutsche Vermögensberatung (uma firma de maketing e consultadoria) patrocinasse o seu boné até 2010, assinou um contrato anual de oito milhões de dólares.




E sendo um desportista rico, é frequente doar muito desse dinheiro: em 2004, depois do Tsunami do Oceano Indico, doou dez milhões de dólares, a maior doação feita por um desportista até então. Foi também um dos doadores da Fundação Bill Clinton, e as suas contribuições ao longo da sua carreira andaram entre os cinco e os dez milhões de dólares. É embaixador da UNESCO, e já doou mais de um milhão e meio de milhões de dólares para a organização, e já ajudou a construir uma escola em Dakar, no Senegal, bem como uma instituição em Lima, na capital do Peru, chamado "Palácio dos Pobres". Nâo se sabe muito bem o montante de todas essas doações, mas acredita-se que nos últimos quatro anos da sua carreira, deve ter doado mais de 50 milhões de dólares para as várias instituições um pouco por todo o mundo. E também na parte que lhe toca, contribui: participa na campanha da FIA "Make Roads Safe", no sentido de reduzir a sinistralidade rodoviária nas estradas europeias, e contribui para outra campanha, da Baccardi, para a responsabilidade social no consumo de alcool nas saídas à noite.


Quanto ao nivel desportivo, o seu impacto dentro e fora da Formula 1 foi enorme. Para além de ser considerado por muitos como um dos melhores de sempre, e por estar no topo da maioria dos principais recordes (vitórias, títulos, pole-positions e voltas mais rápidas), foi galardoado por diversas vezes. Venceu o "Autosport Driver of The Year" em 1995, 2000, 2001 e 2002, foi eleito o Melhor Desportista Alemão do Ano em 1995 e 2004, ganhou o Prémio Lorenzo Bandini em 2003, venceu por duas vezes o Prémio Laureus de Melhor Desportista do Ano (2002 e 2004) e venceu o Prémio Principe das Asturas de Desporto em 2007, um ano depois do seu rival Fernando Alonso, e uma parte do novo circuito de Nurburgring, as Curvas 8 e 9, foram rebatizadas de "S de Schumacher".

Agora que chegou à idade dos quarenta anos, Michael Schumacher parece ainda ter muito pela frente, e eventualmente não definiu muito o que poderá fazer no futuro, se continuar no meio que o tornou famoso, ou se perseguirá outros objectivos na vida. Mas uma coisa é certa: o seu lugar na História, para o bem e para o mal, é incontornável.

1 comentário:

  1. Sabe quando você termina de ler algo e diz: "ufa!"? Foi assim comigo!

    Tenho dezenas de jornais velhos com algumas dessas corridas retratadas no armário da minha casa. E toda vez que pego a edição de "O Globo" do dia 23 de outubro de 2006 tenho lágrimas nos olhos. O homem despediu-se em grande estilo.

    Enfim, sou suspeito pra falar...

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...