(continuação do capitulo anterior)
Em 1961, depois de ver que Colin Champman está mais interessado num jovem escocês chamado Jim Clark do que nele próprio, decide iniciar a sua carreira a tempo inteiro na Formula 1 a bordo de um chassis Cooper, através da Yeoman Credit Racing Team, a equipa de Reg Parnell que tinha sido comprada no ano anetrior por essa entidade bancária e adptado o seu nome. O chassis, que no ano anterior tinha dado a Jack Brabham e Bruce McLaren o título de construtores, sofria da falta de desenvolvimento, e Surtees não conseguiu melhor do que quatro pontos em todo o campeonato.
Em 1962, a equipa pede à Lola para que construa um chassis, com o habitual motor Coventry-Climax. O resultado foi o Lola MK4, e tornou num dos chassis mais bem sucedidos da marca na Formula 1. Guiado por Surtees e Roy Salvadori, ganhou uma corrida extra-campeonato em Mallory Park, através de Surtees, enquanto que em provas oficiais, foi segundo em Aintree e no Nurburgring, sempre atrás dos dois maiores rivais ao título desse ano: Jim Clark e Graham Hill. No final do ano, Surtees acabava em quarto lugar no campeonato, com 19 pontos, e recebia o convite para correr na Ferrari em 1963, numa altura em que a equipa timha sofrido uma sangria devido à saída de vários técnicos da Scuderia e dois dos seus pilotos principais (Phil Hill e Giancarlo Baghetti), para fazerem parte da A.T.S. (Automobili turismo & Sport)
O primeiro ano foi de adaptação, mas os resultados foram os melhores até então. Apesar da temporada ter sido dominada por Jim Clark, o seu Lotus 25, o primeiro chassis monocoque, Surtees teve a sua chance de ganhar corridas, e conseguiu a sua primeira vitória oficial na Formula 1 no mais difícil dos circuitos: o Nurburgring Nordschlieife. No final do ano, foi quarto classificado, com 23 pontos, e um bom ponto de partida para a temporada seguinte.
Nesse ano, começa com uma desistêncvia no Mónaco, e um segundo lugar em Zandvoort. Depois, mais duas desistências em Spa-Francochamps e Rouen, e um terceiro lugar em Brands Hatch, atrás de Jim Clark e Graham Hill. Mas ao contrário do que acontecera no ano anterior, este era um campeonato equilibrado. O Lotus 25 estava a chegar ao final da sua vida útil, e Chapman projectava o seu sucessor, o modelo 33. Na BRM, Graham Hill estreava o modelo P261, e estava a ser muito mais consistente do que Surtees, mas nessa altura, não se contavam todos os resultados, e Hill tinha que deitar pontos fora no final da época.
Isso beneficiou Surtees, especialmente quando ganhou pela segunda vez no Nurburgring, e obteve uma segunda vitória em Monza (pelo meio, o seu companheiro Lorenzo Bandini venceu na Austria), e como Surtees tinha menos, mas melhores resultados, era um legitimo candidato ao título mundial. Depois de ter sido segundo classificado em Watkins Glen, atrás de Hill, bastava ficar à frente do seu compatriota da BRM, na última prova do ano, no México, para arrecadar o ceptro.
Na corrida, ambos tiveram problemas no inicio, mas recuperaram. Até que na volta 31, uma manobra polémica entre Hill e Bandini fez com que o inglês perdesse muito tempo e acabasse a duas voltas do vencedor, o americano Dan Gurney. No final da corrida, Bandini cedeu o segundo lugar a Surtees, para que este pudesse somar os pontos necessários para ser campeão do mundo. E assim foi: Surtees conseguiu 40 pontos, enquanto que Hill só podia somar oficialmente 39... e tornava-se no unico campeão do mundo da história a conseguir os céptros nas duas e nas quatro rodas. Um feito inédito até aos dias de hoje.
A passagem para a Ferrari tinha dado resultados para ambos, mas a partir de 1966, entrava um novo regulamento de motores, de 3 Litros, e o Commendatore decidira construir um motor V12 para as suas máquinas. Surtees perferia os mais confiáveris motores V8, e cedo os atritos surgiram. Começou o ano com bons resultados, mas a partir de Silverstone, circuito onde começou a andar com o novo motor Flat-12, não conseguiu mais do que um terceiro lugar. E para piorar as coisas, um grave acidente numa prova de Can-Am no circuito canadiano de Mosport o atirou para a cama de um hospital durante algumas semanas, impedindo-o de participar nas duas últimas provas do ano. No final da temporada, era quinto, com 17 pontos.
Recuperado para 1966, as divergências com a Ferrari não tinham acalmado, antes acentuavam-se. Apesar de terem um motor V12 de 3 Litros, capaz de vencer o título, em circunstâncias normais, as relações entre Surtees e Eugenio Dragoni, o director desportivo, eram tensas. Na primeira prova do campeonato, no Mónaco, Surtees desistira devido a problemas com o diferencial, algo que foi aproveitado por Dragoni para o recriminar:
"Foi aqui que começou a primeira grande cena com Dragoni", contou Surtees anos depois ao livro "Grand Prix". "Eu achava que tinhamos ido ao Mónaco para ganhar e não para mostrar que já tinhamos um carro de três litros. Sempre achei que o Dino 246 [pilotado por Bandini] tinha mais hipóteses", disse.
Na corrida seguinte, Surtees faz uma prova magistral num Spa-Francochamps disputada debaixo de chuva a partir do meio da corrida. Surtees dominou a máquina perante as condições dificeis, e venceu, dando à Scuderia a primeira vitória na era de 3 Litros.
Mas esta era a ultima prova de Surtees na marca. Quando soube que não alinharia ao lado do seu compatriota Mike Parkes nas 24 Horas de Le Mans daquele ano, mas sim com o italiano Ludovico Scarfiotti, Surtees decidiu que esta seria a "gota de água" e abandonou a equipa. Anos depois, no livro Grand Prix, contou as expectativas que tinha para essa temporada:
"Eu encarei o ano de 1966 como sendo de dividendos no investimento que eu tinha feito em tempo e esforço nos tempos da Formula de 1.5 litros, e foi isso que manteve a Ferrari, apesar das minhas discordâncias com a gestão da equipa. Mas infelizmente, essas outras pessoas viram o que a Formula de 3 Litros representava para mim e o possivel sucesso que eu poderia ter, e aproveitaram a oportunidade para criar situações impossiveis", contou.
Sem lugar na Brabham e não querendo correr na Lotus, decidiu então ir para a Cooper, então uma pálida sombra daquilo que tinha sido no passado, mas que tinha um bom carro para a Formula de 3 litros, com um motor Maserati V12. Surtees entrou para a equipa em França, mas só começou a obter resultados na Alemanha, onde foi segundo e fez a volta mais rápida. Repetiu o feito em Watkins Glen, chegando ao terceiro lugar e fazendo a volta mais rápida pela segunda vez na temporada. Mas a "chave de ouro" conseguiu-a no México, palco da sua consagração dois anos antes: fazendo a pole-position, depois de ter sido ultrapassado por Jack Brabham no inicio da corrida, ultrapassou-o à sexta volta e nunca mais foi alcançado! Era um final apoteótico para Surtees, mostrando que caso não fosse a politica, o bi-campeonato poderia ter seu. Mas no final, era vice-campeão do Mundo, com 28 pontos.
(continua amanhã)
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