Com toda esta polémica da saida da Ferrari da Formula 1, cada vez mais se fala da história de um campeonato rebelde, que seria inédito em quase 60 anos de história. A revista Autosport publicou esta semana uma matéria que fala - com algum fundamento, diga-se - sobre o tal campeonato rebelde que estaria de pé em 2010. O jornalista Luis Vasconcelos refere os aliados de peso e os prós e contras de tal campeonato, nomeadamente os trunfos que a FOTA tem, alguns deles surpreendentes...
Esta não é a primeira vez que se fala de um camperonato paralelo na Formula 1. Em 1981, a então FOCA tentou levar a sua avante e chegou mesmo a organizar o GP da Africa do Sul, ganho por Carlos Reutmann, mas sem a Ferrari, Renault e Alfa Romeo a seu lado, acabou por chegar a um acordo com Balestre e com a FISA, no que foi a base do primeiro Acordo de concordia.
Há sete anos, quando a GPMA se formou, também se aflorou a possibilidade dos construtores deixarem o campeonato da FIA e organizarem a sua própria competição. Mas a falta das equipas independentes dificultou o projecto, antes da deserção da Ferrari, paga a peso de ouro por Max Mosley - com cem milhões de euros por ano e direito de veto para alterações do regulamento técnico - fazer a organização soçobrar.
Desta vez, no entanto, a FOTA tem-se mantido unida, apesar da anunciada 'traição' da Williams - ligada à FIA por outros contratos e em sérias dificuldades financeiras - e com nove equipas determinadas em fazer valer os argumentos, o campeonato rebelde tem uma boa base para se lançar. Por isso, e face ao finca-pé de mosley num tecto orçamental que levaria cerca de três mil pessoas para o desemprego, em Genebra trabalha-se de forma intensa na planificação dum campeonato para as nove equipas e mais três que se lhes queiram juntar, deixando sempre à Williams a possibilidade de regressar, pois não há uma data-limite para as inscrições.
O objectivo é o de ter 24 carros à partida de cada Grande Prémio.
Se a presença da Ferrari no novo campeonato seria sempre fundamental para que o projecto tivesse pernas para andar, Luca di Montezemolo sabia perfeitamente que só com a inscrição do GP do Mónaco no seu campeonato teria o ás de trunfo na mão. Fontes próximas do processo garantiram-nos há mais de uma semana - e outras fontes confirmaram essa informação mais recentemente - que o Principe Alberto deu o seu acordo a ligar o GP do Mónaco ao campeonato que a Ferrari estiver a disputar a partir de 2010, pois a ausência da Scuderia do campeonato da FIA é razão suficiente para poder abandonar o contrato com Ecclestone!
Tendo a Ferrari e o GP do Mónaco do seu lado, a FOTA ficou imediatamente em posição de força e os contactos com os diversos circuitos começaram a decorrer de forma mais intensa, depois de contactos informais terem decorridos nos meses de Março e Abril. Para ter mais trunfos do seu lado, a FOTA está disponivel a correr gratuitamente em Indianápolis entre 2010 a 2014, tornando a prespectiva demasiado atraente para Tony George recusar. E para que toda a gente lucre com o novo campeonato, os preços exigidos aos restantes circuitos vão ser bastante inferiores aos que Ecclestone cobra.
Actualmente, nos Grandes Prémios europeus tradicionais - Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha, Belgica e Itália - Ecclestone e a FOM cobram entre 12 a 15 milhões de dólares por ano, mas Valencia acordou um pagamento de 23 milhões de dólares por ano e Donnington assinou um acordo que obriga os promotores a pagarem 22 milhões de dólares por ano ao inglês. Este tem exigido 18 a 22 milhões de euros aos novos candidatos europeus, mas é fora do Velho Continente que Ecclestone exagera.
A China deverá ter pago 44 milhões de euros à FOM este ano e 47 em 2010, mas só pagou metade em 2009 e deverá renunciar à corrida no próximo ano, por falta de patrocinador. O organizador do GP de Singapura tem um contrato que o obriga a pagar cerca de 58 milhões de euros por ano, e os organizadores árabes também desembolsam mais de 35 milhões de euros cada, por ano, pelo previlégio de organizarem um Grande Prémio de Formula 1.
Por isso não é de estranhar que todas as organizações percam bastante dinheiro, desde o promotor em Spa. que perdeu quatro milhões de euros em 2008, até ao governo do Estado de Victoria, na Austrália, que perdeu mais de 25 milhões de euros com a prova deste ano. A FOTA está disponivel para fazer preços muito mais competitivos aos organizadores, mas em contrapartida, os bilhetes nunca poderão ultrapassar os 120 euros pelos três dias de prova, pois as equipas estão determinadas a encher os autódromos em que correrem, para não termos as bancadas tristemente vazias como na Malásia, Bahrein e China. O suficiente, mesmo assim, para os promotores lucrarem, desde que tenham um patrocinador que lhes pague seis milhões de euros para darem o nome à prova.
Se com Mosley a questão é a politica e de controlo dos regulamentos, pois a FIA muda as regras todos os anos, sem rumo definido e de forma arbitrária, com Ecclestone, os problemas da FOTA resumem-se a uma questão: dinheiro.
Pelas contas publicadas relativas a 2008, sabe-se que a FOM teve receitas de um pouco mais de mil milhões de euros, para custos operacionais de 285 milhões de euros. o que quer dizer que os lucros liquidos foram na ordem dos 715 milhões de euros! Destes, 300 milhões foram divididos pelas dez equipas, enquanto que a FOM, de Ecclestone, ficou com 415 milhões! E é essa distribuição leonina que a FOTA quer acabar, pois pode montar a sua própria estrutura por um preço mais em conta do que o de Ecclestone e desfazer-se do inglês, dividindo o lucro total por dez ou doze equipas, garantindo muito mais do que os 30 milhões que cada uma está a receber este ano.
Actualmente, os contratos televisivos, de rádio e os (poucos) de Internet rendem 400 milhões de euros/ano a Ecclestone, com a RAI, RTL e Fuji TV a pagarem 40 milhões de euros cada. Os promotores de Grandes Prémios também renderam 400 milhões de euros à FOM em 2008, com os restantes 200 milhões a virem da publicidade nos circuitos, do merchandising e das vendas de bilhetes do Paddock Club.
Reduzindo as receitas para 700 milhões de euros e os custos operacionais para 200 milhões, as dez equipas ficarão com 500 milhões de euros para distribuir por si, ficando com direito a 50 milhões cada uma, um aumento de 66 por cento em relação ao que recebem de Berine Ecclestone. Para além disso, poderão escolher onde e como correm sem estarem sujeitas às erráticas opções de Max Mosley, pois as sucessivas alterações de regulamentos tem custado centenas de milhões de euros às equipas.
Estabilidade, governação responsável, perspectivas comerciais mais animadoras, maior abertura aos média e ao público, são estes os motes da FOTA, que se prepara de forma intensa para seguir o seu próprio caminho se na Place da la Condorde de Paris continuar a reinar o 'nonsense'."
Luis Vasconcelos
Ouvi essa história mais recentemente, sobre a Ferrari e o GP de Mônaco estarem juntos na cisão com a FIA. Esse artigo realmente pinta um retrato bastante otimista da possibilidade de um campeonato paralelo.... Começo a achar que não seria tão ruim assim uma insurreição das equipes.
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