sábado, 18 de julho de 2009

The End: Walter Cronkite (1916-2009)

Foi o homem que os americanos mais confiavam, batendo presidentes, politicos e lideres religiosos. As suas aparições na CBS Evening News, entre 1962 e 1981 eram seguidas por milhões, e a sua opinião incisiva fez tremer presidentes. Foi um modelo de rigor e profissionalismo, e marcou um jornalismo que, numa era de imediatismo, parece estar em vias de extinção. O jornalismo americano da segunda metade do século XX nunca será entendido completamente sem ele. Este senhor chamava-se Walter Cronkite e morreu esta noite, aos 92 anos de idade.

De origem holandesa, Cronkite foi jornalista de profissão durante anos, cobriu batalhas na II Guerra Mundial pela agência de noticias UPI (United Press International), e depois de uma cirta passagem por Moscovo como correspondente, em 1946, entrou para a televisão no final dos anos 40, ainda este era um meio novo em todos os aspectos. Fora recrutado por uma lenda da rádio, Edward P. Murrow, em 1950, para fazer parte da CBS, estação da qual só saiu 31 anos depois, quando o seu nome ficou definitivamente cravado na história da televisão americana. O termo "âncora" (anchorman no original), foi cunhado em 1952, quando Cronkite era o apresentador das Convenções Democrata e Republicana, que ocorreram nesse Verão. Dez anos depois, em 1962, substituiu Douglas Edwards (1917-1990) como o apresentador do CBS Evening News, e ficou por lá nos dezanove anos seguintes.


Durante esse tempo todo, Cronkite noticiou em directo, acontecimentos importantes na história da segunda metade do século XX. No especial sobre o assassinato de John F. Kennedy, foi ele que deu a noticia oficial: "De Dallas, no Texas, a noticia aparentemente oficial: Presidente Kennedy morreu às 13 horas locais, 14 Horas na costa Leste, há uns 38 minutos atrás". Emocionado, tirou os óculos por um momento, e fez uma pausa, enquanto tentava manter a compostura, para referir logo a seguir: "O Vice-Presidente Johnson já abandonou o hospital em Dallas, mas desconhece-se onde de dirige. Presumivelmente, vai tomar em breve o juramento e tornar-se-à no 36º Presidente dos Estados Unidos". Dois dias depois, a transmissão das cerimónias fúnebres fora de novo interrompida para que desse a noticia da morte de Lee Harvey Oswald, o assassino de Kennedy, por Jack Ruby.


Quando sabia que era preciso, não coibiu de dar a sua opinão sobre a guerra do Vietname. Muitos afirmam que a viragem na percepção que os americanos tinham sobre a guerra foi quando disse que esta não podia ser ganha no terreno, após a sua visita à frente de combate, durante a ofensiva do Tet. Para ele, aquilo era uma caixa de Pandora, e o escalamento dos combates "poderia significar um conflito de proporções cósmicas", e que deveria ser resolvido na mesa de negociações. Quando o presidente Lyndon Johnson ouviu isso, afirmou: "Se perdi o Cronkite, então perdi a América". Poucos dias depois, anunciou que não iria recandidatar-se.


Mas Cronkite esteve também no maior feito cientifico do século XX: a chegada do Homem à Lua. Entusiasta (chegou a fazer testes na NASA), seguiu a conquista espacial passo a passo, e esteve por várias vezes no Cabo Canaveral para fazer directos dos lançamentos do programa Apollo. No lançamento do Apollo 11, em Julho de 1969, seguiu a missão a par e passo, e quando Neil Armstrong pisou a Lua e afirmou a frase "Um pequeno passo para o Homem, Um grande salto para a Humanidade", não conteve o seu entusiasmo.


Entrevistou presidentes desde Eisenhower a Clinton, foi o primeiro a dar cobertura nacional ao escândalo Watergate, falou sobre mundanices, relatou golpes de estado e revoluções. Na hora do CBS Evening News, uma média de 20 milhões de espectadores o seguia atentamente. Foi eleito como o "Homem Mais Confiável da América" e muitos o tratavam de "Tio Walter". A sua frase que encerrava os telejornais, "That's the way it is" (É assim, tal como foi), tornou-se na sua marca. Por alturas da cirse dos reféns, na Embaixada Americana no Irão, entre 1979 e 1981, acrescentava "dia xx da crise dos reféns no Irão".


Após 21 anos de serviço como "pivot", despediu-se dos americanos a 6 de Março de 1981, com a seguinte frase: "Os velhos pivots não se vão embora, voltam sempre". E foi o que fez nos anos seguintes, apresentando programas especiais, dando ainda mais destaque ao seu papel de "Velho Sábio", defendendo a Liberdade e a Democracia, promovendo o Espaço e demonstrando a sua oposição à Guerra no Iraque, permanecendo activo até para além dos 90 anos.


Para o fim, uma nota pessoal: uma boa razão para que eu me tornasse jornalista foi devido a este homem. Pela sua postura, confiança e integridade, pela sua postura calma e confiante, pelo facto da sua objectividade ser um padrão, uma ética de trabalho, inspirou-me a seguir esta profissão. Certamente, tal como aconteceu a mim, muitos dos que andam por aí escolheram esta profissão ou devem muito deles a este senhor. E quando se olhar para a história da segunda metade do Século XX, através das imagens televisivas, Walter Cronkite será um nome incontornável, e provavelmente, um exemplo para as gerações futuras.


"And that's the way it is". Pois foi, caro Walter. Ars lunga, vita brevis.

2 comentários:

  1. Genial a matéria Speeder...e a frase que vc muito bem coloca na matéria, "Um pequeno passo para o Homem, Um grande salto para a Humanidade", foi comentada quando fazíamos a apuração da matéria do niver da descida na Lua!

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  2. Inicia-se aí uma lenda, Speeder.
    Com certeza, ele permanecerá para sempre na história, nas nossas boas (e às vezes nem tanto) lembranças.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...