O automobilismo, como qualquer desporto, funciona um pouco como o teatro: tem um enredo, tem uma história, momentos de suspense, e por vezes, um final inesperado. Todos nós temos ainda na meméria a maneira como o campeonato terminou no Brasil, com um campeão do mundo a ser decidido a 300 metros da meta, em prejuízo dos anfitriões e o vencedor a comemorar uma "vitória de Pirro". Num sitio tão carregado de história como Monza, onde tudo o que acontece fica automáticamente registado na memória das pessoas para ser contados aos filhos, netos e bisnetos, o cenário para o espectáculo desta tarde estava montado para mais um capitulo desta "never ending story".
O último desses capítulos acontecera no ano passado, quando uma carga de água, inédita em 58 anos de história, encharcou Monza e deu a Sebastien Vettel e à Toro Rosso a sua primeira vitória na história da competição, depois de na véspera ter dado uma "pole-position". Este fim de semana existia essa hipótese, mas isso só aconteceu ontem à tarde, na corrida da GP2. Mas hoje, em pista seca, as emoções ficariam um pouco mais contidas, dado que esta é uma pista onde as decisões acontecem essencialmente nas boxes. Com Lewis Hamilton na pole-position e Adrian Sutil a prolongar o estado de graça na Force India, o inglês tinha todas as hipóteses de fazer bonito. Mas os Brawn GP de Jenson Button e Rubens Barrichello, que tinha apanhado um susto ontem à noite devido à sua caixa de velocidades, que esteve para ser trocada (e perderia 5 lugares na grelha, caso acontecesse) após reflectir, arriscou. E resultou!
Barrichello decidiu parar uma unica vez nas boxes, enquanto que Hamilton parou duas e puxou pelo seu carro, a um ritmo alucinante, tentando conservar o primeiro posto. O brasileiro conseguiu superar Button na partida e ficou na terceira posição. Na tal paragem nas boxes, passa Sutil e depois Hamilton quando este parou uma segunda vez e caiu para a terceira posição. E logo a seguir, o brasileiro rumou à vitória e a mais uma dobradinha para a Brawn GP. Com as polaridades trocadas.
Mais atrás, Kimi Raikonnen lutava com Sutil para o quarto posto, uma luta forte e constante enttre mais um elemento da armada Mercedes (definitivamente, o melhor motor do pelotão) e o carro do Cavalino Rampante, o unico a estar nos oito primeiros lugares desta grelha e a lutar constantemente pelos pontos. Se Sutil ficou com a volta mais rápida (mais uma estreia para a Force India), Raikonnen no final levava a melhor. Com mais uma prenda inesperada na última volta.
Pois é, igual como nos filmes: quando Hamilton tenta uma última chance de chegar a Button e ao segundo lugar, perde o controlo do seu carro na primeira das Lesmos e despista-se, dando de bandeja a "medalha de bronze" ao piloto finlandês, para gáudio dos "tiffosi". Fazia lembrar Ayrton Senna e a sua final de corrida de 1988, mas os paralelismos terminavam ali.
Com Sutil no quarto posto, dando mais cinco pontos à Force India, os restantes lugares pontuáveis tiveram Fernando Alonso no quinto posto, o segundo McLaren de Heiki Kovalainen no sexto lugar, o BMW de Nick Heidfeld no sétimo posto e um Sebastien Vettel a herdar o último ponto que faltava à Red Bull, com Giancarlo Fisichella, agora convertido à "Rossa", colado nos seus escapes.
Quando se olha para o pódio, com uma dobradinha "trocada" da Brawn, e Rubens Barrichello a vencer pela terceira vez na sua carreira na Catedral de Monza, igualando Stirling Moss, Ronnie Peterson, Juan Manuel Fangio e Alain Prost, pela segunda vez este ano no lugar mais alto e tirando dois pontos ao seu companheiro Button, fazendo agora com que sejam 14 os pontos de diferença. Começa-se a desenhar o título de construtores à Brawn GP, mas em termos de pilotos, desenha-se um cenário em que... será possivel? O "patinho feio" dos brasileiros se tornar num inesperado campeão do mundo? Confesso que daria uma grande virada, mais uma daquelas que a Formula 1 foi fértil ao longo da sua história. Em suma: o argumento desta temporada ainda não está fechado!
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