domingo, 20 de setembro de 2009

O piloto do dia - Stirling Moss (4ª e última parte)

(continuação do capitulo anterior)

A temporada de 1961 era a primeira onde se estreava o novo regulamento dos 1.5 litros, e Moss recebeu o mesmo modelo, mas com o motor novo. Contudo, este era um motor pouco potente em relação aos Ferrari modelo 156 “Squalo”, que iriam dominar aquela temporada. Mas com um carro menos potente, em certas circunstâncias, como o Mónaco, onde o circuito era mais sinuoso e tinha uma melhor maneabilidade do que os Ferrari, Moss demonstrou o seu génio. Primeiro, fez a pole-position e depois na corrida, apesar de ter sido superado inicialmente pelo Ferrari do americano Richie Ginther, na 13ª volta voltou para a liderança e manteve uma condução fenomenal, mantendo-se constante e sem falhas, para terminar a corrida com uma diferença de 3,6 segundos sobre Ginther. Moss, num carro com um ano de idade, tinha feito a melhor corrida da sua carreira.


"A corrida durava então 100 voltas. Tinha conseguido qualificar na pole-position o Lótus 18 inscrito pela Rob Walker, um carro com um ano de idade, e na corrida, perdi a primeira posição para um dos Ferrari, mas recuperei-a ao fim de 12 voltas. Tive que andar ao nível do meu tempo da pole em todas aquelas cem voltas, sob pressão dos Ferrari que estavam atrás de mim, e sabia que tinham um pouco mais de potência do que o meu carro. E no final, venci com 40 segundos de diferença [na realidade, essa foi a diferença para o terceiro classificado, Phil Hill]. Só para ver a dureza que foi fazer aquela corrida.


Depois disso, foi quarto na Holanda, mas não teve muitas mais oportunidades de brilhar até que a Formula 1 chegou à Alemanha, mais concretamente ao lendário circuito de Nurburgring. Perante mais de 300 mil espectadores, que torciam para uma vitória de Wolfgang von Trips, as condições meteorológicas jogaram a seu favor, principalmente quando o seu manager, Ken Gregory, decidiu colocar pneus moles de chuva, que funcionariam melhor numa pista que tinha recebido uma carga de água nos momentos anteriores à corrida. A chuva tinha parado no momento da partida, e Moss aproveitou para pular na frente. À medida que a corria continuava, a chuva tinha voltado a pista e Moss conseguiu aguentar os Ferrari de Von Trips e Phil Hill, que ficaram logo atrás dele, obtendo a sua 16ª vitória na Formula 1, um recorde britânico.


Em Itália, o seu carro era mais lento do que os Ferrari, e Innes Ireland, o piloto oficial da Lótus, decidiu emprestar o seu carro para que ele pudesse ter alguma hipótese de lutar pelo título, mas isso pouco lhe serviu, pois desistiu na corrida. Colin Chapman não gostou muito deste gesto e decidiu despedir Ireland no final da época, apesar de ele ter-lhe dado a primeira vitória oficial da marca, em Watkins Glen. Aí, Moss não foi longe, pois desistiu com problemas de motor, na volta 58. Seria a sua última corrida oficial na Formula 1, e no final dessa temporada conseguiu 21 pontos e o terceiro lugar no campeonato.


A sua carreira na Formula 1: 67 Grandes Prémios, em dez temporadas (1952-61), 16 vitórias, 24 pódios, 16 pole-positions e 19 voltas mais rápidas, no total de 185,64 pontos.


No início de 1962, Stirling Moss tinha 32 anos e corria há mais de uma década. Tinha tido vários acidentes, dos quais recuperara bem, e muito do seu talento continuava lá. Esperava que essa seria uma boa temporada para si, mas sabia que o pelotão estava a mudar seriamente. Uma nova geração de pilotos estavam aí, entre os quais os seus compatriotas Jim Clark e Graham Hill, bem como outros bons pilotos estavam a caminho, como o campeão das quatro rodas John Surtees. Da geração com quem correu no meio da década passada, poucos restavam, entre mortos e retirados. Moss ainda queria demonstrar a eles todos que ainda era dos melhores, bastava ter o carro ideal para isso. E ia tê-lo: um Ferrari 156 Squalo, mandado por Enzo Ferrari. Iria ser o primeiro piloto não-oficial a tê-lo.


Contudo, no Domingo de Páscoa de 1962, Moss foi disputar o Glover Trophy, no circuito de Goodwood, a bordo do Lótus 18/21 da equipa BRP (British Racing Partnership). O Ferrari não ficara pronto a tempo de competir, e assim correu com o carro antigo. Fez a pole-position, e andou na frente até ter problemas com a caixa de velocidades, no qual perdeu três voltas na box. Quando voltou, continuou a andar rápido até que na volta 30, na curva St. Mary, ele foi de frente e bateu forte na barreira. Nunca se soube muito bem qual foi a causa do acidente, pois não havia nada quebrado em termos mecânicos no Lótus, e quanto a Moss, a sua memória daquele momento foi permanentemente varrida.


Eu me lembro de sair do hotel onde estava hospedado, em Chichester, no meu Lótus Elite, estacionei-o no parque, vi um tipo porreiro chamado Paul Bates, que era paraplégico, e lembro de ter conhecido uma bela sul-africana na noite anterior. Para além disso… nada. A coisa que me lembro a seguir é de acordar no hospital, um mês mais tarde, e ver flores por todo o meu quarto. E disse: 'Caramba, devem ter pensado que ia mesmo morrer'. E não gostei muito de saber que estive perto disso.”


Retirado do carro após meia hora pelos comissários, tivera sérias ferias na cabeça, ombros, joelhos e costelas, e ficou vários meses no hospital em convalescença. Ficou paralisado durante mais de seis meses, até voltar a andar normalmente. Quando assim o fez, no final de 1963, testou num Lótus 19 de Turismo, e fez tempos aceitáveis. Contudo, para ele, os movimentos já não eram aquilo que era, e decidiu retirar-se permanentemente da competição.


Ainda fez umas corridas em 1980 para o campeonato britânico de Turismos, ao volante de um Audi 80, mas para ele foi uma frustração: “Foi um grande erro. Correr com pneus slicks e tracção à frente era novo para mim. Nunca gostei muito”, afirmou anos depois.


Depois de ver passar os seus dias de glória nas corridas, Moss tornou-se com o tempo um dos “Elder Statesmen” da Formula 1, e agora um dos poucos sobreviventes de uma era dita clássica. Participa activamente nas várias corridas históricas um pouco por todo o mundo, e é avidamente procurado para que dê uma opinião sobre o automobilismo actual, geralmente muito crítico em relação à segurança das pistas e dos carros, um movimento que teve inicio com Jackie Stewart, em meados dos anos 60. Mas isso não o impede de participar de vez em quando nos “paddocks” da Formula 1, especialmente no Mónaco e na Grã-Bretanha.


E as honrarias têm aparecido regularmente. Eleito “Personalidade Desportiva do Ano” pela BBC em 1961, e vencedor também do Hawthorn Memorial Trophy nesse ano, entrou no International Motorsports Hall of Fame em 1990, e algum tempo depois, foi nomeado Cavaleiro do Império Britânico, um dos três pilotos ingleses com esse título. Os outros dois são Jack Brabham e Jackie Stewart. E no final do ano passado, a Mercedes baptizou um dos seus modelos Mercedes-Benz-McLaren SLR de “Stirling Moss”, um carro no qual serão construídas apenas 75 unidades, que ao contrário dos outros modelos, não terá nem tecto, nem vidro protector na parte da frente, tal como no modelo que participou nas Mille Miglia, quase 55 anos antes.


Fontes:


Santos, Francisco – Grand Prix – A História da Formula 1, Ed Público, Lisboa, 2003.

http://www.stirlingmoss.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Stirling_Moss
http://www.ddavid.com/formula1/moss_bio.htm
http://www.grandprix.com/gpe/drv-mossir.html
http://jcspeedway.blogspot.com/2009/09/o-campeao-sem-taca.html

2 comentários:

  1. Estive com muito trabalho nestes últimos dias, mas não poderia deixar de colocar minha satisfação em ler um material tão completo sobre um de meus pilotos preferidos.

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  2. Obrigado Daniel. A piada destes trabalhos é esta: ver que todo este trabalho é recompansado com este tipo de elogios. Abraços!

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