sábado, 19 de janeiro de 2008

GP Memória - Argentina 1958

A Formula 1 teve, ao longo da sua história de quase 60 anos de competição, muitos momentos decisivos. Se para muitos, o ano de 1968 é um momento decisivo, pois foi um ano revolucionário (aleirons, motor Cosworth...), dez anos antes, outra revolução aconteceu na competição: a primeira vitória de um motor traseiro, obtida por Stirling Moss. Isto marcou o final de uma era, pois nesse ano, Juan Manuel Fangio preparava a sua retirada das pistas, e os carros italianos (Ferrari e Maserati) começavam a ser desafiados pelos britânicos (Vanwall, BRM e... Cooper).


A 19 de Janeiro de 1958, o campeonato começava com o Grande Prémio da Argentina. Disputada no Verão austral, foi corrida por poucas equipas, devido não só à distância, e o calor inclemente, mas também devido aos novos regulamentos de então, que permitiam o uso de um combustível de baixa octanagem. Ora, as equipas inglesas consideraram e decidiram que não valia a pena o esforço de ir tão longe e acabarem na valeta, com motores partidos, e então ficaram na Europa.


Todos... menos Cooper e Stirling Moss. O piloto inglês estava na Vanwall, mas pediu a Tony Vanerwell, seu patrão, para que o libertasse por esta corrida e fosse correr com um Cooper inscrito pelo herdeiro escocês da marca de whisky Johnny Walker, Rob Walker. Mais leve do que os Maserati e os Ferrari, era contudo, menos potente em cerca de 100 cavalos. Tinha motor traseiro, ao contrário dos outros, com motor à frente.


Sabendo da ausência dos carros ingleses, os organizadores queriam tanto Stirling Moss que se dispuseram a pagar as despesas de transporte do Cooper, pois só assim que ele pode participar na corrida. Mas quando viram o carro, estes ficaram furiosos. Como é que "la cosa" poderia bater os Ferrari e os Maserati?


Contudo, as aparências iludem: Moss fez um brilhante terceiro tempo nos primeiros treinos, caindo depois para a sétima posição na grelha final, onde o "poleman" foi, pela última vez na sua carreira, Juan Manuel Fangio. Logo a seguir foram os Ferrari de Mike Hawthorn e Peter Collins. Na partida, o francês Jean Behra, quarto na grelha, foi para a frente, mas cedo foi superado por Hawthorn, com o Ferrari do italiano Luigi Musso logo atrás. Na volta 10, quem vai para a frente é Fangio, para gaudio do público local. O campeão do mundo ainda dava cartas, aos 47 anos...


Contudo, Stirling Moss observava estas lutas de uma forma distanciada, poupando nos pneus. Ele e Rob Walker decidiram jogar uma estratégia arriscada: não iriam parar para reabastecer, nem para trocar de pneus. A ideia era que ele poupasse no inicio, e gerisse a corrida quando a concorrência fosse para reabastecer. Mas Moss não sabia que estava a viver um milagre: a sua embreagem estava partida desde a volta 2, e Moss corria em segunda velocidade. Uma volta mais tarde, porém, uma pedra tinha entrado no mecanismo de forma a mantê-la aberta e assim poder trocar marchas sem usar a embreagem. O primeiro milagre estava a acontecer...


Entretanto, na corrida, o inglês recuperava posições. Primeiro, passou Behra, e depois lutou com Hawthorn pela segunda posição. Somente na volta 30, ele livra-se do seu compatriota, para ir atrás de Fangio. Na volta 34, quando o argentino vai à box trocar de pneus, Moss herda a primeira posição.


Todos esperavam que o pequeno Cooper parasse para reabastecer. Mas à medida que as voltas passavam e nada viam, os observadores viram que tinham sido enganados pela manha de Moss, Walker e Alf Francis, o director desportivo da Cooper. Sabendo disto, a concorrência partiu para o ataque: Luigi Musso partiu para a segunda posição e tudo fez para apanhar Moss, mas já era tarde: o piloto inglês ganhou com 2,7 segundos de vantagem sobre Musso e 12,6 segundos sobre Mike Hawthorn. Juan Manuel Fangio foi quarto, fazendo a volta mais rápida.


Era a primeira vitória de sempre da Cooper na Formula 1, a primeira vitória de Rob Walker na competição, e a alta competição estava a ver história: o principio do fim dos motores à frente. No ano seguinte, a Cooper dominaria a competição, com o australiano Jack Brabham ao volante, e em 1961, todos os carros no pelotão da Formula 1 tinham motor traseiro. E tudo começou com uma estratégia arriscada de um grande piloto inglês...




Fontes:
Grand Prix - A História da Formula 1, Ed. Público, 2003
http://gpinsider.wordpress.com/2008/01/19/ha-50-anos-moss-inicia-uma-nova-era/
http://jcspeedway.blogspot.com/2008/01/histria-50-anos-do-grande-prmio-da.html

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