(continuação do capitulo anterior)
6 – Africa do Sul
1983
Depois dos seus problemas iniciais, a segunda parte da
temporada foi bastante melhor para a Alfa Romeo, com De Cesaris a conseguir um
segundo lugar no GP da Alemanha, logo atrás do Ferrari de René Arnoux, e no GP
da Europa, em Brands Hatch, terminar a corrida no quarto lugar, a última prova
do ano, na África do Sul, mostrou que os Alfa Romeo eram uma excelente máquina
no final daquela temporada.
Largando do nono lugar na grelha (Tambay fez a
pole-position, seguido por Piquet), De Cesaris larga muito bem e salta para o
quarto lugar na primeira curva, passado Prost, e na volta seguinte, passou
Tambay para ficar com o terceiro posto. Enquanto que na frente estavam os Brabham
de Piquet e Patrese, Prost andou sempre à briga com De Cesaris pelo terceiro
posto, e apesar de o ter passado na sétima volta, nunca incomodou nem assustou
o brasileiro, e na volta 35, a sua candidatura ao título acabou nas boxes, com
problemas no seu Turbo. Com o assunto resolvido, Piquet descontraiu a sabendo
que precisava apenas de um quarto lugar para ser campeão do mundo, rolou o
suficiente para ser passado por Patrese.
Quanto a De Cesaris, apesar de ter perdido lugares para
Prost e Lauda, beneficiou com os problemas deles e ficou com o terceiro lugar.
Com o carro a render na parte final, conseguiu apanhar Piquet a duas voltas do
fim e ficou a apenas nove segundos de Patrese quando este cortou a meta,
igualando o seu melhor resultado de sempre, e encerrando com chave de ouro
aquele que iria ser a sua melhor temporada, com 15 pontos e o oitavo lugar da
classificação geral.
7 – Áustria 1985
Em 1985, Andrea de Cesaris estava na Ligier desde a
temporada anterior. Os resultados não tinham sido brilhantes, excepto no
Mónaco, onde tinha conseguido um quarto lugar, e muitas das suas corridas
tinham acabado a meio devido a acidentes. Em claro contraste, o seu companheiro
de equipa, o francês Jacques Laffite, veterano já com 41 anos de idade, já
tinha conquistado dois terceiros lugares, na Grã-Bretanha e na Alemanha, tendo
ao todo dez pontos.
Em Zeltweg, palco do GP da Áustria, De Cesaris era apenas o
18º da grelha, quatro lugares mais abaixo do que Laffite, e tentou recuperar
posições após a partida. Contudo, na volta 13, prdeu o controle do seu carro na
Curva Panorama e capotou varias vezes, danificando o carro. Felizmente, o carro
ficou virado para cima e De Cesaris saiu apenas com lama no fato de competição.
Chegado à boxe, disse aos mecânicos que o motor tinha morrido e não conseguiu
voltar a funcionar.
Contudo, quando viram as imagens e a real razão da sua
desistência, ficaram chocados. E para Guy Ligier, foi a gota de água: decidiu
despedi-lo depois do GP da Holanda, alegando que “não tinha dinheiro para o
suportar financeiramente”. A grande ironia era que Ligier - apoiado
pelos franceses da Gitanes – não pagava o salário do italiano, pois era apoiado…
pela Marlboro!
Anos depois, De Cesaris deu a sua versão da história: “As
pessoas dizem que fui despedido pelo Guy Ligier, mas isso também é treta.
Herbie Blash ofereceu-me um lugar na Brabham. Disse-me que o Marc Surer ia
abandonar, então disse à Ligier que ia embora. Ninguém sabe disto! Depois, o
Bernie Ecclestone teve de manter o Surer porque era piloto da BMW, e quando
decidi ir embora, o Herbie disse que o acordo tinha ficado sem efeito. É assim
a Formula 1”, comentou com uma gargalhada.
8 – Mónaco 1989
Em 1989, De Cesaris tinha saído da Rial para correr na
Dallara, ao lado de Alex Caffi. E o chassis até era bom o suficiente para que a
equipa pudesse andar no meio do pelotão, em lugares pontuáveis. Graças à sua
experiencia nas ruas monegascas, De Cesaris consegue o décimo lugar numa grelha
de 26 carros, num pelotão que naquele ano tinha… 40 carros. Contudo, não era o
melhor dos Dallara, pois Alex Caffi estava mesmo à sua frente, no nono posto.
A corrida foi de desgaste. Se Ayrton Senna dava cabo dos
seus adversários e apenas Alain Prost o acompanhava, o resto do pelotão ficava
bem atrás. E as coisas até que iam muito bem para a Dallara, que estavam na
zona dos pontos na volta 33, altura em que De Cesaris decide ultrapassar o
Lotus de Nelson Piquet, que já estava atrasado no pelotão… na curva do hotel
Loews. Resultado final: ambos ficaram presos, com o italiano visivelmente
zangado com o brasileiro, que era seu amigo pessoal! Piquet desistiu na hora,
enquanto que ele continuou, acabando no 13º posto, três voltas atrás do
vencedor.
Desta vez, ele não foi o mau da fita. “Olha, estava muito zangado. Ele
fez uma coisa muito má, se fosse hoje em dia, ele teria sido desclassificado.
Ele segurou-me por duas voltas, as bandeiras azuis estavam a ser agitadas por
todo o lado, e no Gancho Loews, ele mete-o para dentro e enganchou-me. Aquele
era o lugar onde poderia ter ido bem com aquele Dallara.”
“Aquele carro não era potente e no final da
corrida disse-lhe: ‘Porque é que
me fizeste isso, porquê?’ e respondeu-me
pedindo desculpa, mas também me disse que ‘estava farto daquela corrida de
m****’. Era campeão do mundo, estava a
ser dobrado, era um período negro da sua carreira e pura e simplesmente não se
importou. Tenho a cerreza que teria acabado no pódio”, contou.
9 – Estados
Unidos 1989
A seguir ao Mónaco, veio a série de três corridas pela
América do Norte, começando em paragens mexicanas. De Cesaris não chegou ao fim
nessa corrida, antes de irem para a desconhecida Phoenix, um circuito desenhado
nas ruas da capital do estado do Arizona. A corrida aconteceu no inicio de
junho, e isso, no calor do deserto americano, era um convite às altas
temperaturas, pois esperavam-se mais de 35 graus nesse fim de semana.
E a corrida foi de desgaste. Aos poucos, os carros desistiam,
vítimas de problemas mecânicos, pois as mecânicas não aguentavam o calor. E
quem andava bem era Alex Caffi, que era segundo classificado quando Senna se
retirou na volta 44, vítima de problemas elétricos. Os Pirelli andavam bem no
asfalto abrasador das ruas americanas, mas depois de parar, tinha caído para o
quinto lugar. De Cesaris estava mais atrasado, e ele preparava para o dobrar na
volta 52 quando… ele o fechou. Não houve colisão entre os dois, mas Caffi, para
evitar bater nele, bateu no muro, estragando a chance de conseguir um possível
pódio.
No final, De Cesaris afirmou que não viu Caffi nos
espelhos, e disse até que sofria de uma “visão de túnel”. Mas depois compensou
a equipa ao lhes dar o primeiro pódio, quando na corrida seguinte, no Canadá,
conseguiu acabar na terceira posição.
10 – Belgica 1991
Em 1991, De Cesaris tinha 32 anos, mas já ia para a sua 11ª
temporada, tornando-o um dos mais veteranos do pelotão. Saindo da Dallara no
final de 1990, foi para a novata Jordan, que tinha montado um esquema simples
mas eficaz, com motores Cosworth HB, um bom chassis e dois pilotos com
experiência, na figura de De Cesaris e no belga Bertrand Gachot.
Apesar de não ter conseguido a qualificação na primeira
corrida do ano, em Phoenix, conseguiu depois resultados excelentes nas corridas
seguintes, nomeadamente dois quartos lugares no Canadá e no México, e um quinto
lugar na Alemanha. Mas entretanto, antes do GP belga, Gachot é preso por causa
de uma altercação que acontecera em Londres meses antes com um taxista e do
qual foi condenado a uma pena de três anos de prisão.
Precisando desesperadamente de um substituto, arranjou um
jovem alemão de 23 anos que corria na equipa de Sport-Prototipos da Mercedes,
chamado Michael Schumacher. E ele surpreendeu, conseguindo superar o veterano
italiano e fazendo o oitavo melhor tempo. Ainda por cima – e isto soube-se
depois – Schumacher nunca tinha andado em Spa ao volante de um bólido!
A aventura de Schumacher foi breve, durando apenas meia
volta, quando a transmissão se quebrou, mas o piloto italiano estava confiante, pois o carro estava ótimo e cavalgava posições até chegar aos pontos. Na volta 31, ele tinha passado Nelson Piquet, no seu Benetton, e estava nos lugares do pódio, e continuava a aproximar-se de Ayrton Senna, e a três voltas do fim, aguentava os ataques de Riccardo Patrese e Gerhard Berger, enquanto que Senna tinha problemas com a caixa de velocidades.
Contudo, na volta 42, na zona de Pouhon, o motor do seu Jordan explodiu e foi obrigado a encostar, terminando o sonho de dar o primeiro pódio - e quem sabe, mais alguma coisa. Anos depois, Ian Phillips, o diretor desportivo da marca, contou sobre esse momento:
"Na corrida, ele correu como um demônio e que ele estava no segundo, a apanhar o McLaren de [Ayrton] Senna, quando aquele maldito motor rebentou por falta de óleo. A Cosworth esqueceu de nos dizer sobre o alto consumo do seu V8. Foi um desastre absoluto. Estávamos arrasados, não apenas por nós, mas por causa de Andrea".
Aquela corrida poderia ter sido memorável, de facto.