Hoje falo no primeiro modelo Ferrari que levou motor Turbo, e que marcou uma era na
Scuderia Ferrari, que se tornou numa máquina vencedora, que poderia ser ainda mais marcante, caso o factor humano tivesse sido mais controlado... durante quatro épocas, seis pilotos conduziram este carro, e ajudaram a ganhar dois títulos de construtores ao
Cavalino Rampante.
Era uma vez... estamos em 1980. A Ferrari vive a sua pior temporada em muitos anos, depois de ter ganho a temporada anterior, com Jody Scheckter e Gilles Villeneuve. O modelo 312T, que é modificado constantemente desde 1975, já é um carro obsoleto, e é preciso um carro novo para albergar o novo motor V6 Turbo. Entretanto, o sul-africano Scheckter decide abandonar a competição no final desse ano, o que deixa o rápido e carismático Villeneuve no comando da equipa. Entretanto, Mauro Forgheri projecta o primeiro carro que alberga esse motor V6 Turbo: o modelo 126.
O modelo estreou-se nos treinos do
Grande Prémio de Itália de 1980, que nesse ano se realizou no circuito de Imola. Contudo, Gilles Villeneuve perfere usar o carro antigo, e é nesse que têm o seu acidente espectacular na curva que têm agora o seu nome... Sendo assim, o modelo só se estreou verdadeiramente no
Grande Prémio de Long Beach, com o seu novo companheiro de equipa, o francês
Didier Pironi.
O modelo
126CK tinha um motor Turbo V6, de 1496cc, desenvolvendo 548 cavalos, ajudados por dois turbocompressores KKK, que o ajudavam a desenvolver 600 cavalos. Era rápido, mas pouco fiável e era rígido em termos de manobrabilidade. Em suma, era um carro muito mau, mas graças à perícia de Gilles Villeneuve, a Ferrari comemorou duas vitórias, no
Mónaco e em
Jarama, levando o canadiano ao sétimo lugar do mundial. Quanto a Didier Pironi, este teve mais dificuldades em impôr-se, falhando a ida ao pódio.
Grandes Prémios em 1981: 15
Vitórias: 2 (Villeneuve)
Poles: 1 (Villeneuve)
Voltas Mais Rápidas 2: (Villeneuve 1, Pironi 1)
Pontos: 34 (Villeneuve 25, Pironi 9)
Em
1982, entra na equipa o inglês
Harvey Poselthwaite (1944-1999), que refaz o modelo 126 C, criando a
Versão 2. Era um carro completamente diferente, para melhor. Mais pequeno e mais eficaz, torna-se no primeiro Ferrari construido em monocoque (algo que a
Lotus tinha começado a fazer... 20 anos antes!), construído em alumínio (no mesmo ano em que a
McLaren constroi pela segunda época o seu chassis de fibra de carbono). Nesta altura, o motor Turbo estava melhor afinado e era mais fiável e mais potente (
650 cavalos nas qualificações). Cedo Villeneuve e Pironi sabem que têm um excelente carro entre mãos, um carro vencedor. Mas o factor humano vai entrar em jogo...
Apesar de não acabar nas duas primeiras corridas, e de Villeneuve ter sido desclassificado em
Long Beach, depois de ter usado uma asa ilegal (ordens de
Enzo Ferrari), chegamos a
Imola, onde os Ferrari Turbo dominaram uma corrida com o pelotão reduzido a 14 carros devido ao boicote das equipas
FOCA. Contudo, as sementes para o desastre começaram aqui: Pironi desobedece às ordens de equipa e ataca a liderança, que apesar das tentativas de Villeneuve em recuperá-la, não consegue. Resultado: a zanga definitiva entre os dois, e o desastre 15 dias depois, no circuito belga de
Zolder, com o acidente mortal do carismático piloto canadiano...
Após Zolder, a Ferrari anda três corridas somente com um carro, e Pironi têm a equipa só para ele, construindo o caminho para um eventual título mundial. Ganha na Holanda, onde entra em cena o seu novo companheiro: o francês Patrick Tambay. Pironi é presença habitual nos pódios e à chegada à Alemanha, no circuito de Hockenhiem, tinha 14 pontos de avanço sobre o Renault de Alain Prost. Mas mais uma vez, o factor humano entra em cena...
No warm-up da corrida alemã, na manhã de Domingo,
8 de Agosto de 1982, debaixo de imensa chuva, quando Pironi ultrapassava o
Williams de
Derek Daly, não viu que tinha à sua frente o Renault de Alain Prost e chocou violentamente com ele, partindo ambas as pernas, e terminando definitivamente a sua carreira.
Nessa tarde, o unico Ferrari em prova, o de Patrick Tambay, vence a prova, dando um sinal de consolo à equipa. Depois de duas provas com um só carro, o americano
Mario Andretti, então com 42 anos, substituiu Pironi no carro 28. Mesmo com a idade, fez a pole-position em Monza, mas não ganhou. No final da época, a Ferrari alcançou o título de construtores, e podia ter conseguido o de pilotos, caso o factor humano não tivesse entrado em cena de forma tão dramática...
Grandes Prémios em 1982: 16
Vitórias: 3 (Pironi 2, Tambay 1)
Poles: 3 (Pironi 2, Andretti 1)
Voltas Mais Rápidas: 2 (Pironi)
Pontos: 74 (Pironi 39, Tambay 25, Villeneuve 6, Andretti 4)
Em
1983, o modelo 126C é melhorado, criando a
Versão 3. Com as novas modificações elaboradas pela
FISA, que aboliram o efeito-solo, criando fundos planos. Poselthwaite, para contrariar essa falta, criou
uma asa de enormes dimensões, que permitiu recuperar cerca de
50 por cento do "downforce" então perdido. Para melhorar as coisas, o motor tinha sido melhorado, alcançando agora a potência de
700 cavalos. O francês
René Arnoux era agora o novo inquilino dos carros vermelhos, formando com Tambay uma dupla totalmente francesa...
Apesar de ter um bom carro e de ser um regular vencedor, o pouca fiabilidade impediu Arnoux e Tambay de atacar convenientemente o título, que acabou por ser discutido entre o
Renault RE40 do seu ex-companheiro
Alain Prost e o
Brabham BT53 do brasileiro
Nelson Piquet. Arnoux contenta-se com o terceiro lugar no campeonato, mas o quinto lugar de Tambay foi o sufiente para que a Ferrari levasse o segundo título de construtores seguido. O que não se sabia é que era o ultimo título que a casa de Maranello iria ganhar nas 17 temporadas seguintes...
Grandes Prémios em 1983: 15
Vitórias: 4 (Arnoux 3, Tambay 1)
Poles: 8 (Arnoux 4, Tambay 4)
Voltas Mais Rápidas: 3 (Arnoux 2, Tambay 1)
Pontos: 89 (Arnoux 49, Tambay 40)
Em
1984 é estreado a versão 4 do modelo 126C. Continuando a ser desnhado por Forgheri e Poselthwaite, tinha agora um chassis em monobloco, com um motor V6 Turbo, desenvolvendo à volta de
700 cavalos. Em termos de pilotos, Patrick Tambay cede o lugar a um piloto italiano:
Michele Alboreto. Tudo indicava que as coisas iriam repetir-se, mas este é o ano em que a McLaren introduz o modelo
MP4/2, que irá dominar toda a temporada desse ano. Alboreto, contudo, consegue um feito importante: ao ganhar o
Grande Prémio da Belgica, em Zolder, torna-se no primeiro italiano a ganhar num Ferrari desde 1966, altura em que
Ludovico Scarfiotti ganha o Grande Prémio de Itália.
Contudo, essa seria a unica vitória do ano, e apesar de ser uma presença regular no pódio e de terminar no segundo lugar no campeonato de construtores, a Ferrari decide no final da época que é altura de construir um chassis totalmente novo, retirando de vez este modelo, depois de quatro épocas de excelentes serviços. Ao todo, os chassis
126C disputaram
59 corridas,
ganhando dez corridas,
fazendo dez pole-positions e
alcançado doze voltas mais rápidas, conquistando os
títulos de construtores em
1982 e
1983.
Grandes Prémios em 1984: 16
Vitórias: 1 (Alboreto)
Poles: 1 (Alboreto)
Voltas Mais Rápidas: 3 (Arnoux 2, Alboreto 1)
Pontos: 57,5 (Alboreto 30,5, Arnoux 27)