Quem conhece a história, sabe que "Grand Prix" é uma palavra francesa. Porque foi o que batizaram quando em 1906 começaram a fazer a primeira corrida sancionada pela entidade que mais tarde resultou na FIA. Foi em Le Mans e durou dois dias, vencida por Ferenc Szisz, um húngaro que guiava para a Renault. Com a França a ter toda a tradição e prestigio na história do automobilismo, é estranho ver a França fora da Formula 1 por uma década inteira, desinteressando-se pelo automobilismo, apesar de ter pistas como Paul Ricard e Magny-Cours, lugares citadinos como Pau e pistas do passado como Reims e Rouen.
Ver Paul Ricard de volta é o regresso de um clássico, a primeira pista da uma série de três seguidas na temporada europeia da Formula 1. De uma certa forma, pode ser uma visão paradisíaca para os amantes do automobilismo, mas num verão quente, isso significa que a tarde de praia fica para mais tarde, ou então faz de manhã e fica-se enfiado em casa a ver televisão...
Com Lewis Hamilton na pole-position, num monopólio dos Flechas de Prata, 64 anos depois da estreia da marca alemã na Formula 1 e no dia de anos de Juan Manuel Fangio, a Mercedes tinha tudo para ganhar. Mesmo com ameaças de chuva, que provavelmente não se concretizariam a tempo da prova. Sem isso, havia a chance real de uma corrida monótona.
Mas a ideia de monotonia caia alguns metros depois do sinal verde. Com Lewis Hamilton a partir bem, Valtteri Bottas e Sebastian Vettel disputaram no limite o segundo posto, acabando por se tocar e despistar. Algumas curvas depois foi a vez de Esteban Ocon e Pierre Gasly a baterem e acabarem fora de pista, quando o francês da Toro Rosso perdeu a traseira e bateu... no seu compatriota da Force India. Safety Car entra em pista quando os pilotos já cruzaram a reta Mistral.
E durante o Safety Car viamos as consequências destas confusões: Carlos Sainz Jr. era terceiro, Charles Leclerc o sexto! Com Valtteri Bottas e Sebastian Vettel nas boxes, um a substituir o nariz, o outro a andar uma volta inteira com um furo no pneus traseiro direito. A corrida regressou na quinta volta com Hamilton na frente, seguido dos Red Bull, com Max Verstappen na frente de Daniel Ricciardo, os Red Bull grandes beneficiados da confusão Ferrari-Mercedes. Enquanto os pilotos que estiveram metidos nos incidentes tentavam recuperar os lugares pedidos, a FIA investigava o incidente da primeira curva e decidiu que o alemão da Ferrari era o culpado do incidente e seria penalizado em cinco segundos.
No final da volta 15, os dois pilotos já tinham recuperado muito do terreno perdido: Vettel era oitavo, Bottas entrava nos pontos. E isto estava a ser o ponto de interesse na corrida, numa altura em que as nuvens começavam a acumular nos céus à volta da pista. Quando Vettel passou Sainz para ser quinto, na volta 22, tinha agora 15 segundos de desvantagem para Kimi Raikkonen, o que seria complicado para o apanhar... a não ser que comece a chover, que nesta altura era uma possibilidade real.
Na volta 27, começaram a fazer as primeiras paragens nas boxes, com Sainz Jr a parar primeiro, para Daniel Ricciardo parar duas voltas depois, saindo com Vettel na sua frente, e o Ferrari entalado entre os dois Red Bull. Por esta altura, estávamos na metade da corrida e Hamilton continua na frente, impecável, intocável. E por esta altura, Sergio Perez desistia, com problemas no motor.
Hamilton acabaria por parar na volta 34, cedendo a liderança para Raikkonen, antes de ele fazer a sua paragem, na volta seguinte. Entretanto, Ricciardo conseguiu passar Vettel para ser quarto classificado, com o alemão provavelmente a sofrer com o desgaste dos pneus.
Na volta 40 e 41, Bottas e Vettel foram às boxes para trocarem de pneus. A paragem do finlandês fora demorada devido a problemas com um dos macacos pneumáticos, e Vettel teve de cumprir nas boxes a sua penalização. O alemão caiu para quinto, com Bottas a ficar mais três posições. E a partir daqui, o interesse na corrida ficou entre o Red Bull de Ricciardo e o Ferrari de Raikkonen, pelo último lugar do pódio.
E em relação ao tempo... a chuva que deveria vir não apareceu.
Na volta 48, Raikkonen passou Ricciardo na travagem para a chicane da Mistral, e ficar com o lugar mais baixo do pódio. Com Vettel inalcançável, atrás dele, Parecia que os cinco primeiros estavam já definidos. Atrás, Bottas, em oitavo, tentava apanhar Kevin Magnussen, mas Carlos Sainz Jr. tinha problemas de motor e poderia ser apanhado pelo resto do pelotão.
E na volta 50, um possivel anti-climax. O pneu do Williams de Lance Stroll explode na curva Signes e apesar de ter uma enorme escapatória, o carro ficou numa posição perigosa e a organização decidiu colocar o Safety Car Virtual, ameaça suficiente para que os carros cortassem a meta... à velocidade da tartaruga.
Contudo, isso se evitou com a amostragem da a bandeira verde antes da meta, suficiente para acelerar, e foi assim que o britânico conseguiu os 25 pontos da vitória. Hamilton saia de Paul Ricard de volta à liderança, catorze pontos na frente de Vettel. Mas sobretudo, foi o que fez na corrida: intocável, dominante de fio a pavio, e onde atrás de si, as coisas foram bem mais movimentada que muitos esperavam.
Agora, teremos corrida na próxima semana, em terras austríacas. Vai ser um inicio de verão cheio de Formula 1, três semanas sem pausas.