Em Suzuka, enquanto Mika Hakkinen comemorava o bicampeonato como vencedor, com Michael Schumacher e Eddie Irvine a fazerem "guarda de honra", a corrida de Alex Zanardi nem chegou a começar. Problemas elétricos impediram que o piloto da Williams não completasse sequer a primeira volta.
Era o final de uma temporada onde existiam muitas expectativas, mas afinal, acabou por ser um pesadelo.
Depois de Zanardi ter saído da Formula 1 no final de 1994, por causa da falência da Lotus, ele foi logo para os Estados Unidos, julgando que seria fácil arranjar um lugar na CART por causa da sua experiência na Formula 1. Contudo, as coisas foram mais complicadas que julgava. Apenas em 1996, depois de algumas corridas nos GT's, é que arranjou um lugar na Chip Ganassi.
E claro, arrasou: depois de uma primeira parte dececionante, a vitória em Portland abriu as comportas do seu talento. Terceiro em 1996, campeão em 1997 e 98, com 15 vitórias e 28 pódios... em apenas 66 corridas. A sua maneira de comemorar os triunfos, dando algumas voltas sobre ele mesmo, queimando pneus, tornou-se popular entre pilotos e espectadores, e claro, era o favorito da multidão. O seu talento tinha sido despertado, e claro, a Formula 1 estava atenta a ele. Especialmente, Frank Williams, que depois da experiência com Jaques Villeneuve, queria repetir a cena.
Os contactos aconteceram ao longo do verão de 1997, mas foi apenas em julho de 1998 que o contrato foi assinado. Três temporadas, até ao final de 2001, por um valor que na altura não foi divulgado, e foi depois de ter recebido ofertas semelhantes da BAR, que já tinha Jacques Villeneuve como piloto, a da Honda, que estava a elaborar o seu regresso para o ano 2000, mas acabaria por abortar a meio de 1999.
Com o piloto embarcado numa equipa como a Williams, as coisas pareciam ser mais fáceis, ainda por cima com a chance de terem a BMW a partir da temporada de 2000. É que a Williams estava em altura de transição, com o final dos motores Renault, e a andar com os Mechacrome - a preparadora dos... Renault - mas na realidade, o FW21 não seria nada fácil para ele. Em contraste, para Ralf Schumacher, seu companheiro de equipa, até seria melhor. Bem melhor.
As primeiras corridas não foram boas, e apenas no Mónaco, quarta corrida do ano, é que superou Schumacher na qualificação. Mas a corrida foi uma catástrofe. Primeiro, o seu banco rachou, mas não desistiu. Apenas andou muito mais lento, e terminou em oitavo... e último, a duas voltas do vencedor.
Por esta altura, já se entendia que ele não seria o super-piloto da América, mas esperava-se uma ou outra performance que mostrasse o Zanardi da CART. Porque enquanto isto acontecia, o seu substituto, o colombiano Juan Pablo Montoya, que era piloto de reserva da Williams, mostrava ser outro excelente piloto, mostrando uma inata rapidez vencedora que não muitos tinham.
Para Zanardi, o inferno continuava. Um ponto baixo foi em Silverstone, onde sequer conseguiu sair do seu lugar da grelha, causando a interrupção da corrida - e foi nesse momento que Michael Schumacher teve o seu acidente que fraturou a sua perna e o afastou por seis corridas - e claro, muitos questionavam onde estava aquele piloto que passou outro por fora no Saca-Rolhas de Laguna Seca, numa das manobras mais ousadas da história do automobilismo...
Contudo, quando a Formula 1 chegou a Monza, as faíscas do velho Zanardi apareceram. Era a sua corrida caseira e não queria fazer feio. Acabou em quarto na grelha de partida, superando Ralf Schumacher, e na partida, as coisas correram tão bem que passou David Coulthard e Heinz-Harald Frentzen para ser segundo no final da primeira volta. Mas na terceira, o chão do seu carro começou a ficar solto e isso o prejudicou na sua velocidade de ponta. Começou a perder lugares e acabou em sétimo, fora dos pontos.
As coisas poderiam ter corrido bem em Nurburgring, mas uma colisão na décima volta causou o seu abandono, e as coisas no Japão também não acabaram bem. No final da temporada, os pontos eram um redondo zero, e claro, a desilusão do ano, senão da década. Frank Williams pensou que o melhor seria rescindir o seu contrato - custou cerca de quatro milhões de dólares - e lançar um "shootout" para ver quem ficaria com o seu lugar. O felizardo foi alguém que muito poucos esperavam... mas sobre isso, falarei dentro em breve.
Recentemente, Jim Wright, que trabalhou na Williams nessa temporada, falou que esse foi um dos poucos erros que Frank Williams cometeu ao longo da sua longa carreira na sua equipa. E a desilusão caiu fundo na própria Williams.
“Vou afirmar o seguinte: o Frank [Williams] sempre foi muito emocional com [a escolha] dos pilotos.", começou por afirmar numa conversa para o podcast Bring Back V10s. “Para um homem que era desprovido de emoções e afirmou a famosa frase de que as emoções são um sinal de fraqueza, os pilotos influenciaram-no, não havia dúvidas sobre isso."
“O Alex tinha uma aura fantástica, tinha simpatia, calor humano, humor, paixão, todos queriam que ele trabalhasse e fosse o piloto de Fórmula 1 de sucesso da Williams que pensávamos que poderia e deveria ser. E acho que por uma vez, o Frank cometeu um erro nesse aspeto."
Em 2000, decidiu fazer uma pausa, mas no fundo, desejava o regresso ao lugar onde fora feliz: a CART. Ele conseguiu em 2001, mas até um fim de semana em setembro, os resultados estavam longe dos tempos áureos...