No primeiro fim de semana do novo ano, consegui ir ao cinema para passar duas horas deste dia - sem intervalo - para assistir a "Ferrari", o filme realizado por Michael Mann e que tem Adam Driver no papel de Enzo Ferrari e Penelope Cruz como Laura Ferrari, a sua mulher e mãe de Dino.
O filme passa-se em 1957, e a Ferrari está em sarilhos. O automobilismo é uma amante cara e não vende carros suficientes para cobrir as despesas. Existe uma corrida que quer vencer, as Mille Miglia, e arranja um bom conjunto de pilotos, entre eles os britânicos Peter Collins e Mike Hawthorn, o alemão Wolfgang von Trips, os italianos Piero Taruffi e Eugenio Castelloti e o nobre espanhol Alfonso de Portago.
Contudo, há coisas que o trailer não conta e que descobrimos no filme. Que Ferrari tem uma vida dupla, com uma mulher chamada Lina Lardi, que tem um filho, Piero, e Laura sofre com a morte de Alfredo, o seu único filho, e culpa a ele pela sua morte. Ele sofria de uma doença de rins e morreu com 24 anos. Também se descobre da sua rivalidade com a Maserati, que está tão falida que Ferrari, e também precisa de ganhar as Mille Miglia, para poder continuar. Afinal de contas, falamos de gente como Stirling Moss, Juan Manuel Fangio e Jean Behra.
Há uma cena que é a da morte de Eugenio Castelloti. A cena é real, mas a namorada dele não estava presente em Modena quando morreu. Contudo, mais tarde, as cenas de "Fon" de Portago com Linda Christian, a atriz que namorava naquela primavera de 1957, eram reais. E algumas coisinhas, algumas cenas do filme, diria que se não aconteceu, poderiam ter acontecido, porque é algo que Ferrari era capaz de fazer.
As cenas de corrida são realistas. O acidente de Guidizzolo, que mata De Portago e os espectadores, está bem retratado. Nota-se a tensão dentro da fábrica, com os engenheiros e os pilotos, a pressão que era lendária da parte de Ferrari, que os queria no limite, é real. Há a cena de uma corrida que aparentemente acontece em Rouen, no GP de França - na realidade, as cenas foram filmadas em Imola - e até consegue retratar fielmente a atmosfera do Grande Prémio.
Há outras coisas bem mais interessantes, do qual não esperava, era a influência da... mãe de Ferrari. Tem aquelas tensões entre sogra e nora, e de uma certa maneira, a frieza da viúva Ferrari, que viu perder na sua frente o marido, um dos filhos e o neto, e aceitar com um certo pragmatismo o outro neto porque sabe que é ele que dará continuidade à descendência e claro, ao nome Ferrari, que já em 1957, é um motor económico da cidade de Modena.
Em jeito de conclusão:
- Michael Mann consegue ser um dos melhores realizadores da sua geração. Este filme é tão bom quanto "Miami Vice" ou "Heat", e não ficaria admirado se conseguisse algumas nomeações para os Prémios da Academia.
- Como filme de automobilismo, as cenas são fiéis, com uma ou outra cena a mais para acentuar o seu dramatismo, como as cenas do Castelloti, por exemplo.
- Ajuda imenso ter sido filmado nas instalações da marca em Modena. A reconstrução é fiel à época, os detalhes estão lá - e curiosamente, encontrei muitas dessas cenas de Modena no filme "Lamborghini". Pena foi o resto...
No final, afirmo o seguinte: saí do cinema convencido que este "Ferrari" provavelmente, acabou de entrar no pódio dos melhores filmes de automobilismo da história do cinema.