Ontem falei de Gerhard Berger e a sua corrida no GP de Portugal de 1987, um feito com final inglório, quando Alain Prost o passou a duas voltas do final para ele alcançar a sua vitória número 28 e bater Jackie Stewart no número de triunfos, pois ele chegou à liderança á custa de um erro do então piloto da Ferrari.
Hoje regresso ao piloto austríaco porque há precisamente 25 anos, a Fórmula 1 regressava à sua terra natal, ao A1 Ring, onde ele aproveitou para declarar a sua retirada da competição, 13 anos depois do seu começo, também em terras austríacas, ao volante de um ATS. Depois, foram Arrows, Benetton, Ferrari, McLaren, e novamente Ferrari e Benetton. Algumas das suas vitórias foram memoráveis: o GP do México de 1986, a primeira da equipa italiana, o GP do Japão de 1987, a primeira da Scuderia em ano e meio, o GP de Itália de 1988, a única que a McLaren não ganhou e foi a primeira após a morte do Commendatore, o GP da Alemanha de 1994, sobrevivente de uma enorme carambola, e três anos depois, pela Benetton, também em Hockenheim, depois de uma temporada difícil em termos físicos e pessoais.
Nessa temporada de 1997, Berger era o veterano da Formula 1. Na altura a caminho dos 38 anos, e na sua 13ª temporada, tinha regressado à Benetton no ano anterior ao lado de Jean Alesi, seu companheiro de equipa e amigo na Scuderia entre 1993 e 1995. Um segundo posto no Brasil, depois de uma ultrapassagem tardia a Mika Hakkinen e a Michael Schumacher, e a volta mais rápida na Argentina, apesar de ter sido sexto classificado, deixavam-mo no terceiro posto, empatado com o escocês David Coulthard, mas bem longe do líder, o canadiano Jacques Villeneuve.
Contudo, pela primavera, a sua saúde começou a pregar-lhe partidas: uma sinusite que se arrastava há anos o fez, antes do GP do Canadá, ir para a mesa de operações, tentando curar a doença. Mas entretanto, houve complicações, e as coisas arrastaram-se tempo suficiente para falhar as corridas de França e Grã-Bretanha, sendo substituído pelo seu compatriota Alex Wurz.
Mas para piorar as coisas, o seu pai Johann, fundador e patrão da firma de camionagem que tinha fundado, sofre um acidente fatal enquanto pilotava o seu ultraleve e de repente, tudo fica em dúbida. E quando por fim é dada a luz verde para regressar à competição, estamos no GP da Alemanha, em Hockenheim. Berger, o último representante de uma era dourada da Formula 1, retorna com uma sede de competir e sobretudo, triunfar.
E dominou.
Não só fez a pole-position como correu de ponta a ponta no primeiro lugar, e claro, ainda fez a volta mais rápida.
E foi uma vitória bem popular, depois de tudo o que tinha passado. Foi a última de um austríaco até hoje, e a última da história da Benetton, que em 2002 virará Renault. No final da corrida, emocionado, disse que estava a pensar em tudo. Algumas corridas depois, na sua terra natal, Berger achou por bem que era altura de pendurar o capacete, recusando até uma oferta para correr na Sauber. Se aceitasse... teria sido a sexta temporada seguida que correria ao lado de Jean Alesi.
Tudo isto há um quarto de século.