Se formos a ver hoje em dia, as personalidades mais identificáveis, mais mediáticas, mas pesquisadas na Net, no Google, que tem mais seguidores nas redes sociais, são de três tipos: os atores, os cantores e os desportistas. Os atores, pelos seus filmes, os cantores, pelo "hit" mais popeiro possivel, e os desportistas pela profissão. E claro, eles todos á partida são os melhores. Mas nesta sociedade altamente mediatizada do inicio do século XXI, todos os seus gestos são monitorizados ao minuto, ao segundo. Se os famosos têm uma conta no Twitter ou no Facebook, por exemplo, terão milhões a segui-lo, e tudo o que eles dizem e fazem terá repercussões imediatas.
E o que dizem muitas vezes supera o que fazem. Muitos, de uma certa forma, são pressionados a fazerem o impossível porque o ser humano tem aquela tendência quase obsessiva de canalizar para essas personalidades mediáticas os seus desejos, anseios e frustrações, exigindo deles a perfeição. Num David Beckham ou Cristiano Ronaldo, exige-se que tenham cem por cento de eficácia e que vençam sempre, e a mesma coisa se exige a outros desportistas, sejam eles basquetebolistas da NBA ou pilotos de Formula 1.
As redes sociais podem ser uma faca de dois gumes, mas podem ser servidos como uma forma de pressão. O caso de Lewis Hamilton, para mim, é isso mesmo: uma forma de pressão de alguém que deseja o sucesso mediático de David Beckham. Hamilton é uma classe à parte: não há qualquer piloto que tenha um mediatismo tão grande como ele. Isto porque ele quer andar por ali, misturado no meio dos Jay-Z ou Kanye West, namorando, interrompendo e voltando a namorar com a "pussycat doll" Nicole Scherzinger. Este mediatismo pode explicar, em parte - não toda - o braço de ferro que está a fazer com a McLaren.
A razão disto tudo é a mais prosaica de todas: dinheiro. Ele quer ser o desportista mais bem pago da Formula 1. Ele ganha 15 milhões de dólares por ano, fora os contratos publicitários que já assinou com alguns patrocinadores. E esses 15 milhões são apenas menos dez do que ganha Fernando Alonso, que ao contrário de Hamilton, quer pouco saber de mediatismo e mais em trabalhar na equipa e no carro para ser campeão do mundo. Hamilton é profissional, mas quer viver a sua vida mediática e quer o reconhecimento que acha que deve merecer, pelo seu papel na McLaren, que o ajudou no moldar da sua carreira.
Mas Hamilton está crescentemente a erodir essa relação. O caso do Twittergate, em Spa-Francochamps, foi de uma certa forma uma "gota de água" imperdoável na equipa, do qual se fala que ele está a tornar-se em "persona non grata" para os lados de Woking. Sem o pai - e empresário - por perto, está a forçar a equipa a conseguir duas coisas: que ele seja o primeiro piloto da equipa, pelo menos para este final de campeonato - o que é normal, dada a sua classificação no campeonato - e ter uma melhoria substancial no salário, pois tem uma reputação de campeão do mundo a defender.
Mas pode estar a forçar a barra porque aparentemente, há um contrato bem chorudo à sua espera em Estugarda, sede da Mercedes. Ross Brawn, o homem de Brackley, acha que é tempo do seu pupilo Michael Schumacher se reformar de vez - e claro, a cúpula dirigente em paragens teutónicas deve pensar o mesmo - e colocar um piloto tão mediático e veloz no carro cinzento em 2013 seria um golpe de génio para duas coisas: um eventual prolongamento do fornecimento de motores à McLaren em 2014, na nova era dos motores V6 Turbo, e para que a marca assine de vez o Acordo de Concórdia com Bernie Ecclestone, pois é a unica que ainda não acordou a sua parte dos lucros com o anãozinho tenebroso.
Aliás, para mim e para toda a gente, esta é a maior duvida: Schumacher continuará em 2013? Com tudo garantido nos lugares da frente, incluindo o segundo lugar da Ferrari, este parece ser a maior possibilidade de mudança de cadeiras na elite da Formula 1.
A eventual contratação de Lewis Hamilton na Mercedes poderia fazer com que a marca aposte mais na Formula 1, mas em troca exigiria que ele vencesse o campeonato do mundo. Lutar isso contra Nico Rosberg, que tem talento, mas provavelmente não o suficiente para ser campeão, não vai ser fácil. E talvez Hamilton exiga certas coisas que o façam com que seja o numero um da equipa e faça o que quiser e bem entender, incluindo as suas saídas mediáticas, algo que os restantes pilotos não querem saber para nada, excepto no Mónaco.
Claro, há riscos. O maior deles todos, como alguns já dizem, é ele ser outro Jacques Villeneuve, que depois de ter vencido o campeonato, arrastou-se durante anos num projeto como a BAR que não deu nada de especial. Não voltou a vencer, não voltou a fazer nada de especial e saiu da Formula 1 em 2006, pela porta dos fundos, depois de meia época com a BMW Sauber. O risco da Mercedes não se tornar na potência que tanto investiu é grande, e como qualquer marca de automóveis de estrada, que usa o automobilismo para prestigiar, não perde nada em retirar-se da competição, deixando toda a gente desempregada. Se Hamilton se mudar de Woking para Brackley, é esse o risco que corre.
Não o vejo ainda a ser um piloto a "burocratizar-se". Ainda tem sede de títulos e quer ser o melhor, quer voltar a ganhar campeonatos, batendo os rivais. Vence corridas e sente prazer em consegui-las, mas o que quer é um maior reconhecimento daquilo que tem agora, isso tem. Veremos o que as próximas semanas - e meses - nos trarão.