Na era da Guerra Fria e da corrida espacial entre americanos e russos, estes últimos tinham conseguido antecipar em Outubro de 1957 quando lançaram o satélite "Sputnik", o primeiro objeto artificial a pairar no Espaço. Os soviéticos tinham um programa altamente secreto, liderado por Serguei Korolev, um homem que passara a vida a desenhar foguetes e a desenvolver o sistema de misseis da União Soviética, e o lançamento tinha sido tão inesperado que chocara o resto do mundo e desencadeou uma reacção que daria origem à corrida espacial entre eles e os Estados Unidos.
Com o passar dos anos, os americanos queriam bater os russos no passo seguinte, que era colocar um homem no Espaço. Por essa altura, em 1959, era uma questão de honra e os primeiros astronautas americanos, os sete do Projeto Mercury (
Gus Grissom, Alan Shepard, John Glenn, Gordon Cooper, Walter Scirra, Scott Carpenter e Deke Slayton) tinham sido apresentados pela imprensa com toda a pompa e circunstância. No lado russo era o contrário, nada se sabia, dado o extremo secretismo do programa. Korolev, por exemplo, só seria revelado ao mundo no dia da sua morte, em 1966.
Por essa altura, os soviéticos tinham o programa Vostok (
Oriente ou Leste em russo) e tinham selecionado vinte cosmonautas, todos entre os 23 e os 30 anos, e que não podiam medir mais do que 1,75 metros e pesar mais do que 72 quilos. Gagarin, quando foi selecionado, tinha 25 anos. No ano seguinte, Korolev selecionou seis para um programa mais avançado de treino no sentido de os preparar para o vôo da missão Vostok 1, e dois deles eram Yuri Gararin e
Vladimir Titov. Mas ao longo de 1960, todos estavam convencidos de que o primeiro seria Gagrin, devido aos testes feitos por eles e pela sua maneira de estar entre os seus companheiros.
Enquanto que os cosmonautas eram treinados, o foguetão era experimentado. sete lançamentos foram feitos, dois quais três foram um sucesso e dois acabaram em explosões. Mas o pior desses incidentes não foi um lançamento: aconteceu a 24 de outubro de 1960, quando um foguetão R-16 carregado de combustivel explodiu durante uma operação de reabastecimento, em Baikonour, causando a morte de 165 pessoas, incluindo
Nitrofan Nedelin, o chefe do departamento estratégico de misseis do Exército Vermelho. Apesar do incidente nada a ter a ver com o programa espacial, isso tinha causado atrasos no programa e elevara os riscos de algo correr mal quando fosse a vez de lançar o cosmonauta.
No inicio de 1961, Korlolev escolheu os seus dois primeiros cosmonautas: Yuri Gagarin e Gherman Titov. Ambos seriam lançados para o espaço nesse ano, o primeiro dos quais a 12 de abril, e ambos trabalhariam em dupla, com um a substituir o outro em caso de doença ou lesão. Nesse 12 de abril, acordaram às 5 e meia da manhã, tomaram o pequeno almoço, entraram nos seus fatos espaciais e foram transportados para o lugar do lançamento. Pelas sete e dez da manhã, Gagarin entrou no seu Vostok 1 e esperou mais duas horas até à hora do lançamento, conversando com o chefe da missão e com Korolev.
Entretanto, houve um atraso de uma hora, quando se verificou que a porta não tinha ficado devidamente selada. Apesar de tudo, Gararin estava calmo: a sua pulsação média era de 64 batimentos por minuto.
O lançamento estava marcado para as 9:07 locais, menos três horas pelo horário mediano de Greenwich. Quando aconteceu, nos sete minutos a seguir, com os propulsores a puxarem o foguetão para o espaço, tudo estava a correr como planeado. "
... o vôo está a correr bem. Estou a ver a Terra. A visibilidade é muito boa... consigo ver quase tudo. Há um certa claridade acima da capa de nuvens. Vou continuar o voo, está tudo a funcionar bem." Foi assim até chegar à altitude de orbita, onde permaneceu por lá durante uma hora. Depois os sistemas começaram a funcionar automáticamente os seus mecanismos para a descida, e esta aconteceu na zona de Saratov, no centro da Russia.
Quando este caiu em terra, pois tinha se ejetado da capsula Vostok devido a um problema técnico, a cena tinha sido observada por um agricultor e a sua filha, que ficaram assustados por tal figura. Gagarin disse depois: "
Quando me viram com o fato laranja e o paraquedas, e comecei a andar, fugiram com medo. Então disse-lhes: 'não tenham medo, sou soviético como vocês, que veio do espaço e precisa de um telefone para falar com Moscovo!'" Tinha voado durante 108 minutos e a partir daquele dia, o seu nome entraria nos livros de História.
Como é óbvio, os soviéticos anunciaram logo naquele dia o sucesso da operação, e elevaram Gagarin ao estatuto de herói. Podia ser uma mera operação de propaganda, para mostrar que os soviéticos é que estavam na vanguarda da tecnologia, mas todos queriam e adoravam ver Gagarin, cujo sorriso era contagiante. Mas ele não voaria mais para o Espaço, pois o Politburo soviético achava que Gagarin era demasiado precioso para que se arriscasse a uma nova missão espacial. Era a maldição dos primeiros...
Contudo, Gagarin foi promovido a Coronel, tornou-se instrutor na Academia Espacial e deputado no Soviete Supremo. Pilotava frequentemente um aparelho Mig-15, pois queria ter licença de vôo para fazer parte da instrução dos futuros cosmonautas. Mas a 27 de Março de 1968, quase sete anos depois do seu primeiro vôo espacial, Gagarin e o seu instrutor,
Vladimir Seryogin, morrem num acidente de aviação. As causas do acidente foram alvo de especulação durante anos a fio, dando palco a varias teorias de conspiração, mas nos anos 90, quando o regime soviético terminou, descobriu-se que houve três investigações paralelas: a oficial, a do Politburo e da KGB.
E todas elas chegaram, à sua maneira, à mesma conclusão: um Sukhoi Su-15 voava demasiado perto do Mig-15 quando bateu a barreira do som, e o impacto desse "boom" sónico fez vibrar o avião de forma perigosa, levando-o a perder o controlo e a cair. Para além disso, um erro feito pelo controlador de vôo da zona, relativo às condições meteorológicas da altura - tempo coberto a partir dos 2000 metros de altura - levaram ao desastre. Gagarin foi cremado e teve um funeral de estado, com as suas cinzas colocadas no muro do Kremlin, não muito longe de Serguei Korolev, que tinha morrido dois anos antes.