No momento em que escrevo estas linhas, amanhece em Suzuka. O tempo está nublado e pelo que leio, está a chover desde as duas da manhã locais, ou seja, há cerca de quatro horas. É certo e sabido que um tufão de grau 3, o Phamfone, irá tocar nas costas japonesas por volta do meio dia, e provavelmente o local será a provincia de Mie, onde está situado o circuito onde se vai realizar o GP do Japão.
Todos estão cientes do perigo que isto pode causar, devido não só à pluviosidade, como ao vento que soprará. Rajadas de 140 km/hora são esperadas na região à volta e poderá haver risco de telhados a voar e deslizamentos de terras que poderão bloquear ou rasgar estradas. E isso poderá afetar as dezenas de milhares de pessoas que estão a deslocar-se - e mais tarde sair - para o circuito.
Para uma Formula 1 que leva a segurança dos seus pilotos até a níveis incríveis, não se ter precavido sobre esta possível tempestade raia a incompreensão. Rezar por um "milagre" ou uma abertura no tempo para a realização do Grande Prémio raia a estupidez. Milhões de pessoas um pouco no mundo inteiro acordarão mais cedo - ou nem sequer irão dormir - para se virem frustrados em ver uma grelha de partida pronta para correr num circuito que poderá estar debaixo de rios. E o mais provável é que os carros andem duas, cinco ou dez voltas debaixo do Safety Car, recolher às boxes e dar metade dos pontos a toda a gente.
Em suma, daqui a umas horas poderemos estar a assistir a uma farsa. Ou se preferirem, a mais um episódio de "Formula Zero", semelhante ao que aconteceu no GP dos Estados Unidos de 2005, mas de forma diferente.
Depois de ler as noticias da inflexibilidade da organização de antecipar a corrida para sábado porque não queriam devolver o dinheiro dos bilhetes aos espectadores, pensava-se que antecipar a corrida em cerca de quatro horas seria o ideal para correr um bocado, antes que as condições eventualmente se agravarem. Mas mesmo assim parece que tudo está previsto para arrancar à hora marcada.
Não sei se são corajosos ou simplesmente pacóvios, mas a sensação que tenho é que não querem saber da corrida em si. Querem saber do dinheiro e de usarem o tempo de satélite que compraram, mais nada. Na minha ótica é mais um exemplo da arrogância, do desprezo que Bernie Ecclestone e dos seus correlegionários têm aos telespectadores, que pagam do seu próprio bolso para poderem assistir a uma corrida e não a um espetáculo aquático.
Vamos a ver como é que isto vai acabar. Posso estar a ser alarmista ou um "profeta da desgraça" ao antecipar isto, mas para ser honesto, estou preocupado. Tudo isto poderia ter sido evitado, mas a teimosia de algumas pessoas parece que levou a melhor e temo que vejamos mais um ponto baixo da história da Formula 1. E francamente, gostava que isto fosse entendido como um sinal de que a Formula 1 precisa urgentemente de uma mudança, de novos protagonistas que estejam não só de acordo com os tempos que vivemos, mas também que não pensem tanto no dinheiro e mais no que os fãs querem.