(continuação do capitulo anterior)
Absorta na sua leitura, não tinha reparado que Alexandre tinha descido e sentado no seru lado. E só á segunda é que respondeu à saudação do seu namorado.
- Bom dia. Bom dia!
- Ahhh... bom dia. Desculpa lá não te responder.
- Pudera, absorta na leitura.
- Enfim, o espectáculo vai começar. Novo cenário, nova cidade...
- Tão fanáticos como nos outros lados.
- Desde que não acabe como na Cidade do México.
- Não recordemos coisas más... aliás, nem recordemos coisa alguma, por favor, respondeu num olhar perdido e com um semblante visivelmente triste.
- Eu sei que colocaram vedações por toda a pista. E um muro de separação nas boxes.
- Hmmm... do mal o menos, sorriu.
Entretanto, Philipp de Villiers descia para tomar o pequeno almoço com o casal, e logo a seguir apareceu Pete e Pat Aaron, bem como Alex Sherwood, o projetista e engenheiro dos carros presentes. A conversa começou a animar-se, falando sobre a corrida em si.
- Aparentemente, as instalações foram devidamente reformadas, perguntou Pete.
- Sim... pelo que leio aqui nesta revista, novas boxes, rails por toda a parte, muro nas boxes, coisas assim, respondeu Alexandre.
- Isso tudo já havia no ano passado, excepto os rails. Agora é nas partes mais criticas, não é em toda a parte. Dependendo da extensão que utilizarão, há escapatórias enormes, porque aquilo é num parque.
- Logo, tempo para travar, existe, disse Philipp.
- E nas partes mais apertadas, rails de proteção, concluiu Alexandre.
- Em suma, vocês estão mais seguros, retorquiu Sherwood.
Fez-se silêncio na sala. Os dois pilotos olharam uns para os outros, de modo algo embaraçado, enquanto que Pete fez um olhar algo reprovador, e Teresa lançou um longo suspiro. De seguida sorriu, colocou a mão dela no braço dele e disse:
- Esperamos que sim, Alex.
Depois acabaram o pequeno almoço e rumaram para o carro que a organização os cedeu, uns Ford Falcon, e rumaram para o circuito. Os seis cabiam bem dentro do carro, devido ao seu enorme espaço interior, e marcharam rumo ao Autódromo.
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No final daquela quinta-feira, o casal aperaltava-se para um jantar de gala. Alexandre vestia uma camisa azul clara e calças escuras, com um blazer de lado, pendurado no sofá, enquanto que Teresa vestia um conjunto florido em vários tons de creme, castanho e laranja, de seda. Calçava uns sapatos de salto alto e preparava-se para colocar uma ligeira maquilhagem e perfumar-se, aperaltando-se para o jantar.
- Não levas gravata?
- Não, é mais descontraído…
- E os outros?
- Não sei, devem andar mais “pipis” do que eu. Embora ache que o Philipp deve se caprichar mais para conquistar alguma argentina…
- Depois da Eva Perón, duvido.
- Ui… não podes falar dela em voz alta - disse, colocando a camisa dentro das calças, antes de a apertar – Alias, a palavra “Peron” ainda é proibida. Ou se não é, não se recomenda. Isso faz polarizar opiniões, ela e o marido.
- Esse ainda é vivo, não é?
- É, acho que está em Espanha. Está ainda proibido de vir para aqui, mas pelo que andei a ouvir, isso pode ser levantado.
- E depois?
- Depois… alguns não vão gostar e vão impedir que isso aconteça. Vão ser tempos agitados, garota. Acho que a Formula 1 foi parar a um vespeiro.
- E o Brasil não é outro?
- Vesperiro por vespeiro, falam-me que o Chile é pior. Ainda por cima tem um comunista no poder…
- Ui, um Soviete na América do Sul?
- Ou o sonho molhado de Fidel Castro. E os americanos não deverão gostar. Então com este…
- Qual?
- O Nixon, ora. Dizem que é maluco.
- Ele que se preocupe com o Vietname e deixe os outros em paz, respondeu, saindo da casa de banho.
- Não é assim tão fácil, garota – respondeu, aproximando-se. Cheirou-a no pescoço e disse ao ouvido:
- Se não fosse a corrida, possuía-te aqui e agora.
Ela sorriu e disse:
- Ganha-me a prova e faço-te tudo o que quiseres.
- Jura?
- Juro.
- Depois vou cobrar, menina. Entretanto, temos um jantar de campeões à nossa espera, e creio que nos vais deslumbrar, afirmou, rumando à saída.
(
continua amanhã)