Se muitos acham que aquele mês de maio de 1994 foi mau, então digo-vos que provavelmente há um outro maio pior para o automobilismo. E a mim, basta recuar oito anos no tempo, até 1986. Foi um mês mesmo negro, não tanto nas pistas, mas mais nas classificativas, pois foi aí que os grandes acidentes aconteceram.
O mês começara com Henri Toivonen e Sergio Cresto a morrerem na classificativa numero 18 do Rali da Corsega, quando o piloto finlandês perdeu o controlo do seu Lancia Delta S4. O impacto da morte de um piloto tão mediático - a tv finlandesa interrompeu a emissão para dar a noticia da sua morte - fez com que a FIA decidisse banir no final da época os carros de Grupo B.
Quinze dias depois, a Formula 1 era surpreendida com o acidente brutal de Elio de Angelis, na curva Verriére, quando efetuava uma série de testes no seu revolucionário Brabham BT55. A falta de socorro adequado contribuiu para o trágico final do simpático piloto italiano, então com 28 anos. O choque foi grande, e a FISA começou a discutir se não era boa altura de abolir também os motores Turbo na categoria máxima do automobilismo, em nome da segurança.
E teve de se esperar mais quinze dias para se ver outro brutal acidente. Num rali alemão, com um piloto de formula 1 envolvido. O suiço Marc Surer participava no Rally Hessen, uma prova a contar para o campeonato alemão e europeu, com um Ford RS200, uma máquina de Grupo B, e era um dos cabeças de cartaz do evento, pois levava o numero um. Outro dos nomes conhecidos nesse rali era Michele Mouton, que corria ali num Peugeot 205 Ti 16 oficial, da Peugeot Sport. Mouton, que tinha ficado apeada quando a Audi resolveu diminuir a sua participação nas classificativas, tinha estado na Córsega quatro semanas antes, e tinha assistido ao drama da Lancia e de Toivonen.
O tempo não estava bom: chuva e frio, nem parecia tipico de uma Primavera europeia. Mas após quinze especiais, Mouton lidera com cerca de dois minutos de vantagem sobre Marc Surer, que tinha como co-piloto outro suiço, Michel Wyder. A luta era bem disputada e Mouton estava a ter dificuldades em se livrar de um piloto pouco experiente neste tipo de carro, mas que o asfalto não é problema.
A 16ª classificativa era a mais longa do rali: 55 quilómetros. Era em certos aspectos muito longa e pouco sinuosa, mais uma prova de velocidade. Contudo, o tempo estava instável e ao longo do caminho, aquele asfalto seco já tinha visto alguns pingos de chuva, o que tornava traiçoeiro. Se Mouton tem alguma cautela, Surer dá tudo por tudo. A meio desse percurso, a estrada fazia uma ligeira curva à direita, bem longa e visivel, mas com árvores a ladear. Quando Surer passa, um helicóptero segue-o para fazer filmagens para a transmissão da prova, mas quando chega à tal curva à direita, a mais de 200 quilómetros por hora, o Ford RS200 começa a escorregar de traseira, sai de estrada e uma árvore bate em cheio no carro de Surer, cortando-o ao meio e explodindo em chamas.
Surer foi projetado para fora do carro com o impacto. Tinha graves fraturas na bacia, mãos, pernas e tornozelos, bem como queimaduras de segundo grau nos braços, mas conseguiu arrastar-se para um ribeiro ali perto para apagar as chamas que faziam arder o seu fato de competição. Um comissário que estava ali perto conseguiu ir ter com ele e ajudou a apagar as chamas e a prestar os primeiros socorros. Quanto ao pobre Wyder, estava preso no carro, mas nada se poderia fazer, pois tinha tido morte imediata com o impacto. Tinha 35 anos.
Surer foi operado por várias vezes e esteve em coma induzido por mais de uma semana, e a sua recuperação foi lenta. Não mais voltou a competir na Formula 1, com o seu lugar na Arrows a ser ocupado pelo alemão Christian Danner, que antes estava na Osella. Três meses depois, apareceu no "paddock" do Estoril e em declarações à imprensa, negou que estivesse em excesso de velocidade ou que tivesse tido um problema mecânico, mas sim que tinha passado por uma poça de água que o fez perder o controlo do seu carro devido ao "acquaplanning".
Quaisquer que tenha sido a causa exacta do acidente, esse foi mais um exemplo de como o automobilismo estava a chegar a um extremo perigoso. Se para os ralis, o acidente de Surer demonstrava que os carros de Grupo B eram animais indomáveis devido à potência dos seus motores, para o piloto suiço, muito talentoso mas sem a oportunidade de ter um volante competitivo - exceptuando o meio ano que tivera na Brabham, em 1985 - a sua carreira competitiva tinha acabado. Depois disso, trabalhou na BMW como instrutor de condução, e hoje em dia, 25 anos depois, Surer é comentador televisivo na TV alemã e é mais conhecido pelo estranho fato de ter sido casado... com duas modelos da Playboy alemã.
O mês começara com Henri Toivonen e Sergio Cresto a morrerem na classificativa numero 18 do Rali da Corsega, quando o piloto finlandês perdeu o controlo do seu Lancia Delta S4. O impacto da morte de um piloto tão mediático - a tv finlandesa interrompeu a emissão para dar a noticia da sua morte - fez com que a FIA decidisse banir no final da época os carros de Grupo B.
Quinze dias depois, a Formula 1 era surpreendida com o acidente brutal de Elio de Angelis, na curva Verriére, quando efetuava uma série de testes no seu revolucionário Brabham BT55. A falta de socorro adequado contribuiu para o trágico final do simpático piloto italiano, então com 28 anos. O choque foi grande, e a FISA começou a discutir se não era boa altura de abolir também os motores Turbo na categoria máxima do automobilismo, em nome da segurança.
E teve de se esperar mais quinze dias para se ver outro brutal acidente. Num rali alemão, com um piloto de formula 1 envolvido. O suiço Marc Surer participava no Rally Hessen, uma prova a contar para o campeonato alemão e europeu, com um Ford RS200, uma máquina de Grupo B, e era um dos cabeças de cartaz do evento, pois levava o numero um. Outro dos nomes conhecidos nesse rali era Michele Mouton, que corria ali num Peugeot 205 Ti 16 oficial, da Peugeot Sport. Mouton, que tinha ficado apeada quando a Audi resolveu diminuir a sua participação nas classificativas, tinha estado na Córsega quatro semanas antes, e tinha assistido ao drama da Lancia e de Toivonen.
O tempo não estava bom: chuva e frio, nem parecia tipico de uma Primavera europeia. Mas após quinze especiais, Mouton lidera com cerca de dois minutos de vantagem sobre Marc Surer, que tinha como co-piloto outro suiço, Michel Wyder. A luta era bem disputada e Mouton estava a ter dificuldades em se livrar de um piloto pouco experiente neste tipo de carro, mas que o asfalto não é problema.
A 16ª classificativa era a mais longa do rali: 55 quilómetros. Era em certos aspectos muito longa e pouco sinuosa, mais uma prova de velocidade. Contudo, o tempo estava instável e ao longo do caminho, aquele asfalto seco já tinha visto alguns pingos de chuva, o que tornava traiçoeiro. Se Mouton tem alguma cautela, Surer dá tudo por tudo. A meio desse percurso, a estrada fazia uma ligeira curva à direita, bem longa e visivel, mas com árvores a ladear. Quando Surer passa, um helicóptero segue-o para fazer filmagens para a transmissão da prova, mas quando chega à tal curva à direita, a mais de 200 quilómetros por hora, o Ford RS200 começa a escorregar de traseira, sai de estrada e uma árvore bate em cheio no carro de Surer, cortando-o ao meio e explodindo em chamas.
Surer foi projetado para fora do carro com o impacto. Tinha graves fraturas na bacia, mãos, pernas e tornozelos, bem como queimaduras de segundo grau nos braços, mas conseguiu arrastar-se para um ribeiro ali perto para apagar as chamas que faziam arder o seu fato de competição. Um comissário que estava ali perto conseguiu ir ter com ele e ajudou a apagar as chamas e a prestar os primeiros socorros. Quanto ao pobre Wyder, estava preso no carro, mas nada se poderia fazer, pois tinha tido morte imediata com o impacto. Tinha 35 anos.
Surer foi operado por várias vezes e esteve em coma induzido por mais de uma semana, e a sua recuperação foi lenta. Não mais voltou a competir na Formula 1, com o seu lugar na Arrows a ser ocupado pelo alemão Christian Danner, que antes estava na Osella. Três meses depois, apareceu no "paddock" do Estoril e em declarações à imprensa, negou que estivesse em excesso de velocidade ou que tivesse tido um problema mecânico, mas sim que tinha passado por uma poça de água que o fez perder o controlo do seu carro devido ao "acquaplanning".
Quaisquer que tenha sido a causa exacta do acidente, esse foi mais um exemplo de como o automobilismo estava a chegar a um extremo perigoso. Se para os ralis, o acidente de Surer demonstrava que os carros de Grupo B eram animais indomáveis devido à potência dos seus motores, para o piloto suiço, muito talentoso mas sem a oportunidade de ter um volante competitivo - exceptuando o meio ano que tivera na Brabham, em 1985 - a sua carreira competitiva tinha acabado. Depois disso, trabalhou na BMW como instrutor de condução, e hoje em dia, 25 anos depois, Surer é comentador televisivo na TV alemã e é mais conhecido pelo estranho fato de ter sido casado... com duas modelos da Playboy alemã.
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