A McLaren tem três senhores que moldaram a sua história: Bruce McLaren, o seu fundador; Teddy Mayer, o homem que a faz mover após a morte do seu criador, e Ron Dennis, o homem que trouxe nova vida à equipa, quando esta estava a caminho da sua extinção. Se quisermos colocar as coisas desta forma, os anos de 1965, 1970 e 1980 são importantes na história da marca.
Agora, temos de acrescentar 2016, pois este é o ano em que Ron Dennis se foi embora da empresa. Aos 69 anos de idade,
Dennis foi demitido como CEO da empresa, depois dos acionistas terem dito que ele deve abandonar as suas funções. Este é o resultado de um longa luta entre ele e o seu antigo associado,
Mansour Ojjeh, que decidiu o desalojar, dpeois de mais de 30 anos de uma boa associação entre os dois.
Ambos tem 50 por cento das ações da empresa, enquanto que o fundo Mumtalaklat, do Bahrein, detêm outros 50 por cento.
No comunicado oficial, Dennis expressou a sua desilusão por este resultado: "
Estou desapontado por os representantes da TAG e da Mumtalakat, os outros principais acionistas da McLaren, terem forçado esta decisão a me colocar de licença sabática, apesar das fortes advertências do resto da equipa sobre as potenciais conseqüências de suas ações sobre este negócio.
"Os motivos que eles afirmaram são totalmente falsos, o meu estilo de gestão é o mesmo que sempre foi e é aquele que tem permitido a McLaren se tornar um grupo de tecnologia automobilistico que ganhou 20 campeonatos mundiais de Fórmula 1 e rende 850 milhões de euros por ano", comentou.
Dennis disse também que pretende lançar um novo fundo de tecnologia, assim que terminar os seus compromissos com a empresa.
"Isto [o fundo de investimento] irá capitalizar a minha experiência, os meus recursos financeiros, juntamente com o investimento externo para prosseguir as muitas oportunidades comerciais que foram oferecidas nos últimos anos, mas do qual fui incapaz de assumir enquanto está empenhado no negócio existente", concluiu.
As divergências entre ambos já têm alguns anos. Tudo começou quando Dennis falhou encontrar patrocinadores de relevo para a equipa, que desde 2014 não vence um Grande Prémio. Para piorar as coisas, a aliança com a Honda tem sido um desastre, pois desde 2015 não tem conseguido qualquer pódio e só obteve uma volta mais rápida nas últimas duas temporadas, mesmo com veteranos como Fernando Alonso e Jenson Button ao volante.
Ultimamente, Dennis tentava encontrar investidores chineses para comprar a parte que pertence a Ojjeh, mas uma oferta de 1,2 mil milhões de dólares acabou por não acontecer, o que fez com que a marca decidisse afastar Dennis. Não se sabe ainda quem vai ser o seu sucessor, mas há rumores de que o lugar poderá ser ocupado pelo americano Zak Brown.
Dennis, de 69 anos (nasceu a 1 de junho de 1947) tem meio século de automobilismo. Começou como mecânico da Cooper, em 1966, aos 19 anos, passando depois para a Brabham. Em 1971, ele e Neil Trundle decidiram fazer uma equipa de Formula 2 chamado Rondel (a junção de ambos os nomes), e chegaram a projetar ir para a Formula 1 em 1974. Contudo, quando o seu patrocinador, a Motul, abandonou o projeto por causa do primeiro choque petrolifero, deixaram a ideia por uns tempos. O chassis acabou por ser o Token, guiado por Tom Pryce.
Dennis continuou na Formula 2, fundando a Project Four. Com o apoio da Marlboro, tornou-se numa das melhores equipas da competição no final da década de 70, com pilotos como Andrea de Cesaris, Derek Daly, Chico Serra, Eddie Cheever ou Ingo Hoffmann. Em 1980, contrata John Barnard com a ideia de ir para a Formula 1 em 1981, com um chassis inovador. Contudo, a Marlboro entrou em ação e pediu a Dennis para que tomasse conta da McLaren, que estava numa espiral descendente.
Nessa altura, a McLaren não vencia desde o GP do Japão de 1977, e não conseguia desenhar verdadeiros carros com efeito de solo. Teddy Mayer precisava do dinheiro da Marlboro, e aceitou ceder 50 por cento da equipa a Dennis. Ele chegou e trouxe Barnard consigo, ajudando a projetar o MP4-1, cuja particularidade era de ser o primeiro chassis com fibra de carbono, um material leve e resistente.
Venceu a sua primeira corrida em 1981, com John Watson ao volante, e no ano seguinte, atraiu Niki Lauda da sua retirada, para ajudar a colocar a marca no topo. Em 1982, o austriaco venceu duas corridas, com Watson a vencer outras duas, e foram segundos classificados no Mundial de Construtores. O auge foi alcançado em 1984, quando Lauda e Alain Prost conseguiram o título de pilotos e Construtores, com o MP4-2. Por essa altura, Mayer já tinha ido embora e tinha entrado no seu lugar Mansour Ojjeh, um investidor de origem saudita, que era o proprietário da Techniques D'Avant Garde (TAG) e investiu perto de oito milhões de dólares em construir um motor Turbo, em colaboração com a Porsche.
A McLaren acabou por ser campeão de pilotos e Construtores em 1985, com Alain Prost, e só de pilotos no ano seguinte, com o piloto francês. Em 1988, passou a ter motores Honda e o brasileiro Ayrton Senna como piloto, ajudando a uma nova era na equipa, vencendo campeonatos de 1988 e 1991, quer com Senna, quer com Prost.
A Honda abandonou a Formula 1 em 1992, e Senna no ano seguinte, e a McLaren passou por uma travessia no deserto até 1995, ano em que chegou a Mercedes. Por esta altura, já tinha como piloto o finlandês Mika Hakkkinen, que tinha talento, mas que faltava crescer como piloto para chegar ao topo. Somente em 1997 é que voltaram a vencer, com o escocês David Coulthard, mas em 1998, foram campeões de pilotos e construtores, com o finlandês ao volante. Aliás, ele foi o único piloto que fez frente ao alemão Michael Schumacher, em máquinas como o MP4-8, desenhado por Adrian Newey.
Em 2001, Hakkinen retirou-se da Formula 1 e o seu lugar foi para o seu compatriota Kimi Raikkonen, que começou a andar ali em 2003. Mas somente em 2007 é que tiveram uma nova dupla capaz de ser campeã, com o espanhol Fernando Alonso e o britânico Lewis Hamilton, um talento que Dennis detectou desde cedo, quando fazia karting, e o ajudou até chegar ao topo. E logo por lá, quase venceu o campeonato. Acabaria por confirmar em 2008, numa batalha épica com Felipe Massa, da Ferrari, decidida na ultima curva da última volta da última corrida dessa temporada... no Brasil.
A associação com a Mercedes continuou até 2014, com pilotos como Jenson Button e o mexicano Sergio Perez, mas a última vitória da equipa de Woking data dessa altura, no Brasil, com Button ao volante. E desde então, a equipa tem estado afastado até dos pódios, numa altura em que a associação com a Honda não tem tido os resultados esperados, mesmo com o regresso de Alonso à equipa.