Ken Tyrrell queria ser eficaz. Afinal de contas, tinha ganho a sua fortuna no negócio da madeira, e sabia uma ou duas coisas sobre negócios para saber o que era bom e barato. Experimentar coisas novas não era dele. O riscos eram demasiados para a recompensa, e fartava de ver isso na concorrência. Quando ele conseguiu, em 1965, o escocês Jackie Stewart, preferiu vê-lo noutras equipas do que ir para a Formula 1 e montar a sua. A lealdade que tinham um com o outro era mais forte que qualquer contrato assinado ou malas cheias de dinheiro, e só depois do material ser provado e mostrado a sua eficácia é que se sentia seguro para avançar. Foi por isso que, quando no final de 1968, conseguiu um contrato com a Cosworth para fornecer os seus motores, e deu como garantia... Stewart, que na altura foi para a Matra.
A equipa francesa deu-lhe chassis para Tyrrell, julgando que com ele, iriam ser campeões do mundo. Contudo, ele impôs os Cosworth porque achava que os V12 franceses não eram suficientemente fortes. Eles deram-lhe o chassis e com o escocês, foram campeões em 1969. No final dessa temporada, a Matra pediu-lhe para usar os motores V12 franceses, mas recusou-se. Virou para a recém-criada March e adquiriu dois chassis, com Stewart como garantia. E claro, o título mundial.
Mas ser cliente não era a mesma coisa. Existiam prioridades, e mesmo tendo o campeão do mundo e um excelente motor, apenas ganharam uma corrida, em Jarama, apesar da pole-position que tinham conseguido na corrida de abertura, em Kyalami. E isso, aliado com a insistência de Stewart em partir para o projeto do chassis próprio, convenceu o "lenhador". Com a ajuda de Derek Gardner.
Nascido a 19 de setembro de 1931 em Warwick, Gardner tinha começado a trabalhar para a Ferguson, que tinha patenteado o sistema das quatro rodas motrizes para o automobilismo. Em 1969, a Matra decidiu construir o M84, e contratou Gardner para esse efeito, sabendo dos seus conhecimentos na área. De uma certa forma, dos carros de quatro ridas motrizes construídos nessa temporada, o dele foi o mais eficaz, conseguindo um ponto no GP do Canadá desse ano.
Gardner foi um dos que seguiu Tyrrell e Stewart em 1970, e com 38 anos, foi um dos que conseguiu convencer o patrão a construir um carro próprio. Ao longo da primavera e do verão de 1970, na garagem de Gardner, o "Special Project" (ou Secret Project, nas conversas entre Tyrrell e Stewart), avançava com descrição. Stewart era visita frequente da casa de Gardner, e o projeto estava tão bem escondido que nem sequer a filha adolescente de Gardner soube por muito tempo a razão porque Stewart era visita frequente na sua casa...
Ao longo desse tempo, Ken Tyrrell gastava 22 mil libras do seu próprio dinheiro para ter o chassis pronto. Nessa altura, era um investimento bem pesado... e sem garantias de retorno.
No final de julho, o chassis estava pronto para circular e a ser mostrado ao mundo. De uma certa maneira, era o passo lógico para dar, quer para Tyrrell, quer para Stewart. Tinham tudo, mas era isso que faltava para ser candidato real a títulos. O carro estreou-se em Oulton Park, na Gold Cup, mas apesar da rapidez, os vários problemas que teve ao longo da corrida o obrigaram a retirar-se. O chassis foi para Monza, no GP de Itália, mas não foi usado. Ainda por cima, as circunstâncias desse fim de semana italiano não deram as mais apropriadas...
A estreia oficial aconteceu três semanas depois, em Mont-Tremblant, no Canadá. E foi uma entrada de ouro: pole-position para Stewart. Pela segunda vez no ano, o escocês tinha conseguido o feito de ser o primeiro na grelha de partida na estreia de um chassis e de uma marca... duas vezes! Algo que não tinha acontecido antes, e muito dificilmente no futuro.
Contudo, os problemas persistiam. O escocês liderava quando na volta 31, teve problemas no eixo dianteiro e acabou por abandonar. Na corrida seguinte, em Watkins Glen, ficou em segundo na grelha e cedo ficou com a liderança. Parecia ir a caminho da vitória quando, na volta 82, uma fuga de óleo terminou precocemente a sua corrida. O GP do México era a terceira corrida do 001, mas apesar de ter ficado novamente com o segundo melhor tempo, e mostrado que era um excelente chassis, um problema de suspensão na volta 33 resultou na terceira desistência consecutiva, deixando um ar de frustração.
No inverno de 1970-71, fizeram testes de pneus na África do Sul, enquanto começavam a construir o que seria o 002 e o 003. O primeiro chassis era exclusivamente para o francês Francois Cevért, companheiro de Stewart, que era mais alto e não cabia no 001, e o 003 iria ser o próximo, para o escocês. Em Kyalami, Stewart não só conseguiu a segunda pole-position, como por fim, um lugar nos pontos, quando acabou a corrida na segunda posição. Duas poles e um pódio pode ser um escasso pecúlio, mas falamos de apenas... quatro corridas.
Aquele chassis fez vencer as resistências de Tyrrell em relação a ser construtor, e no final, o seu pesado investimento compensou... bastante. Um ano depois, com o 002 e sobretudo, o 003, ele iria ser campeão do mundo de pilotos... e de Construtores.
E tudo isto aconteceu há 55 anos.































