sábado, 21 de abril de 2012

O "sucesso" do GP do Bahrein e a pior das cegueiras

Descobri agora esta foto, via F1 Humour. Como eles dizem, de facto, "o GP do Bahrein é um sucesso comercial e de espectadores. Olhem só para as bancadas cheias de público!"

Confesso que já vi bancadas mais cheias em provas de GT's portuguesas... ou se perferirem, é mais uma prova de que o que interessa é a carteira. E aquilo que o governo local quer passar - se havia alguma coisa que queria passar - é um fracasso total. E se voltarem aqui em 2013, com as coisas não ficarem resolvidas entretanto, suspeito que vai ser mais do mesmo: manifestantes na rua, a atirarem "cocktails molotov", televisões e jornalistas a não irem lá, VIP's em fuga, apelos ao boicote, e a Formula 1 a fazer como os macacos: não ouvem, não falam e não vêm.

E depois, acabo a ler coisas que francamente, só não me rebolo a rir no chão porque... não dá. Como as declarações de Jean Todt sobre os eventos do Bahrein, afirmando que não mancharão a imagem da Formula 1.

Sinto que a Formula 1 é muito forte. Acho que é uma marca muito forte, e acho que todas as pessoas entre as equipes com quem falei estão muito felizes. Me disseram que não vir para o Bahrein seria um erro. Foi o que a maioria dos chefes de equipe me disse.”, afirmou em declarações captadas pela Tazio.

A sério? Alguém já pensou que até pode haver muita gente que tolera uma vez, mas não capazes de perdoar uma segunda ou terceira vez? De que os tempos até podem estar a mudar e que um dia, as pessoas poderão berrar 'chega' e começar a danificar, talvez irremediavelmente, a imagem da Formula 1? De que já não vivemos mais os tempos em que se tolerava a Formula 1 a ir alegremente à Africa do Sul, onde a separação de raças era lei e furava descaradamente o isolamento internacional em termos desportivos?

Digam o que disserem, para os que vêm isto sem serem fãs da modalidade, a imagem que passa neste final de semana não é boa. Por muito que disfarcem, o dano está feito, é real. A Formula 1 tem de deixar de viver no século XX e começar a ouvir alguns ventos de mudança, sob pena de ficar para trás na História. Pode ter a teimosia de Bernie Ecclestone como "cola", mas ele está a caminho dos 82 anos, e muitos dos dirigentes de agora se comportam como cobardes e o baixote os pode ter agarrados pelas "joias de familia", mas no momento em que morrer, como é que vai ser? Vai abraçar o futuro ou viver das formulas do passado?

Se decidirem escolherem a última e alienarem os seus fãs, muito provavelmente será uma questão de tempo até à sua fracção.

P.S: Soube que a FOM retaliou no caso da Force India, que não participou na segunda sessão de treinos livres devido aos receiso com a segurança, ao não colocar as imagens dos seus carros na TV. Nesse caso, se fosse o Vijay Mallya, diria que não se importaria se não aparecesse na corrida, pois não?

Caro Jochen

Caro Jochen Rindt:

Caso estivesses vivo, terias alcançado um numero redondo: 70 anos de idade. Serias provavelmente um velho irritante - ou talvez não - e provavelmente estarias a mexer os cordelinhos como dirigente de uma equipa ou pior, deverias ser o presidente da FIA, a cuidar dos negócios do teu empresário e amigo Bernie Ecclestone. Posso estar enganado, mas é isto que pensaria de ti, caso estivesses vivo: um dirigente rico, ou então um relações públicas de uma grande companhia, como é agora o teu grande amigo Jackie Stewart.

Confesso que um pouco estranho, mas até acho bem que tenhas vivido apenas 28 anos e agora tenhas virado mito. Ficaste na história como sendo o unico campeão a título póstumo, e por causa disso, todos te falam de ti, todos te lembram de ti. Tiveste uma vida cheia e complicada, suficientemente rica para virar filme de Hollywood. Ainda não chegou a tua altura, portanto, é melhor ficares com a ópera que te fizeram há dois anos para ti, quando passaram os 40 anos do teu desaparecimento.

Se vivesses hoje, acho que irias gostar de algumas coisas e desgostarias de outras. Sabia que detestavas Colin Chapman e os seus métodos, mas "engoliste o sapo" porque querias ser campeão do mundo. Conseguiste, mas o preço que pagaste foi elevado. Engraçado saber que o teu manager tornou-se no patrão da Formula 1. Agora é ele que manda em tudo isto: é ele que desenha o calendário, é que que pede o dinheiro aos organizadores para construir os circuitos, é ele que leva os carros para lá, que distribui os lucros às equipas... e fica com metade do dinheiro para ele.

E ficarias surpreso pela vida que vivemos hoje em dia. O petróleo, que no teu tempo era barato, agora o chamamos de "ouro negro", porque quase temos de vender coisas para abastecer os nossos carros. E por causa disso, o teu "manager" leva a Formula 1 a sítios onde há dinheiro, como as Arábias. É... são os tempos. Mas não era nada que não soubesses. Afinal, ias à Africa do Sul, onde havia casa de banho para uns e casa de banho para outros, e a separação das raças era lei...

Como disse atrás, não foste esquecido. E depois de ti, muitos foram os pilotos do teu país que seguiram os teus passos, e um deles, de certeza que deves ter cruzado com ele, que foi o Niki Lauda. Foi campeão como tu, teve um acidente no qual pagou um elevado preço, como tu. Mas incrivelmente, sobreviveu para contar a história. Ficou com a cara queimada, sem uma das orelhas, mas sobreviveu para ganhar mais dois campeonatos do mundo. E agora, estão a fazer um filme em Hollywood sobre ele. Quem diria!

Enfim, espero que onde quer que estejas, tenhas uma boa vida, eternidade ou o raio que o parta. Nem sei se essa coisa existe, para mim, até podes nem existir. Ou poderás estar numa dimensão paralela, vai-se lá saber... espero que os outros também estejam por lá. E se sim, que tenhas feito as pazes com o Colin Chapman. E vê lá se apressas os papéis para que tragam para onde quer que estejas o teu "manager". Está a ficar velho e crescentemente insuportável.

Para finalizar, dou-te os parabéns. Apesar de - se tivesses chegado à idade que se comemoras agora - poderes ter sido um velho irritante e podre de rico, terás sempre 28 anos e um nariz minúsculo. E a recordação de um piloto rápido e incrivelmente brutal a conduzir, bem como teres ganho o título e não estares vivo para o comemorar, ficará sempre nas nossas memórias, e do qual contaremos aos nossos netos. Onde quer que estejas, Feliz Aniversário!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Noticias: Anonymous atacam sites da Formula 1 e deixam mensagem ao mundo

Como já disse no último post, os Anonymous atacaram o site oficial da Formula 1, colocando-o fora do ar desde o meio desta tarde. Mas este não foi só o unico site que eles atacaram. Outros sites, como o f1-racers.net e sites oficiais do governo do Bahrein, também estão fora do ar, graças aos ataques do grupo "hacker" famoso no último ano pelos seus ataques aos sites de grandes corporações e governos.

Este ataque veio contrariar as declarações de Bernie Ecclestone, que desdenhou a situação, afirmando mais uma vez a segurança da corrida e que as manifestaçoes são "invenções da imprensa".

No f1-racers.net, o grupo deixou a seguinte mensagem:

Saudações do Anonymous 

Por mais de um ano o povo do Bahrein tem sofrido com o opressivo regime do rei Hamad bin Al Khalifa. Pessoas têm sido assassinadas nas ruas, atropeladas, espancadas, torturadas, atacadas com gás lacrimogêneo e sequestradas pela polícia. Seus estabelecimentos são vandalizados pelos policiais e suas casas são atacadas com bombas de gás lacrimogêneo na calada da noite. 

O governo insiste em negar uma reforma [política] significativa e continua a usar táticas violentas e brutais para oprimir os apelos populares por mudanças. Não apenas os Direitos Humanos estão em situação trágica no Bahrein, como a situação se torna mais drástica a cada dia. Por essas razões, a oposição ao GP do Bahrein de F1 deve ser veemente. O regime dos Al Khalifa irá lucrar muito com a corrida e já promete usar até munição de verdade contra os manifestantes. Eles já começaram a aplicar "punições coletivas" para prevenir os protestos nas vilas e 'garantir a ordem' durante o evento. As autoridades da F1 se mostra alheia à situação dos Direitos Humanos e também afeita a contribuir com as opressões do regime. 

Nós reivindicamos a libertação imediata do defensor dos Direitos Humanos Abdulhadi Alkhawaja, que já está há cerca de 70 dias em greve de fome. Ele não cometeu nenhum crime e está sendo punido por advocar em prol de direitos humanos básicos. Libertem a ele e a todos os prisioneiros políticos do Bahrein. Cessem a tortura. Deportem todos os policiais mercenários e parem de usar gás lacrimogêneo contra os cidadãos. 

Nós não esquecemos. Nós não perdoamos. Aguardem-nos. 

0x0 estava e ainda está aqui. Juntem-se ao #OpBahrain

As justificações do principe herdeiro e mais gasolina para o fogo

Em plena sexta-feira, onde milhares de pessoas se manifestam nas ruas de Manama e outras cidades do Bahrein, o principe herdeiro e grande impulsionador da vinda do Grande Prémio, Salman bin Hamad bin Isa Al-Khalifa, fez uma aparição ao circuito de Shakir para dizer à imprensa ali presente as razões para o qual decidiu continuar a realização do Grande Prémio: "Acredito que o cancelamento só fortaleceria os extremistas", começou por dizer.

"Acho que para aqueles de nós que estão determinados a encontrar uma saída para esse problema político a corrida nos permite construir pontes entre as comunidades e fazer com que as pessoas trabalhem juntas. Permite que possamos celebrar uma ideia positiva de nossa nação, e não algo divisionista. Então, realmente acho que realizar a corrida foi um alerta aos extremistas do que eles pensam que precisam fazer para ter a atenção do mundo", continuou.

Contudo, o monarca reconheceu que o país atravessa dificuldades e agitação social. "Somos um país real, com problemas reais. De fato, acredito que a corrida faz parte de uma força para bem. Estou confiante de que os protestos, que vão acontecer em algum momento, são parte do processo político de qualquer país. Por que seríamos diferentes? É parte da estrutura política do país. A corrida está aí e estamos prontos para celebrar isso".

E para demonstrar essa "normalidade" para o resto do mundo, a organização montou um espectáculo de fogos de artificio poucas horas depois, causando um enorme susto aos jornalistas ainda presentes. Honestamente, achei não só uma falta de bom gosto, como também uma maneira de atiçar o fogo à situação...

Pouco mais de hora e meia depois desta aparição, noticiou-se que o site oficial, http://www.formula1.com, foi alvo do ataque dos "hackers" Anonymous, que deixaram o site fora do ar durante alguns minutos. Apesar do problema ter sido resolvido, nada impede que haja novo ataque nas horas ou no dia seguinte.

Fibra de Carbono, estamos de volta!

Depois de termos estado fora durante uma semana por motivos técnicos, eu, o Pedro Mendes e a Ficra de Carbono estamos de volta para mais uma emissão do nossos podcast, onde falamos do GP da China e inevitavelmente, do GP do Bahrain e da polémica subjacente. E com o devido contexto histórico, claro.

Eis o link de um programa que durou cerca de hora e meia. Estávamos entusiasmados... http://www.fibracarbono.net/podcast/episodio-7-para-o-bahrain-custe-o-que-custar.html

Noticias: Force India não participa da segunda sessão de treinos

As coisas estão a complicar-se nesta sexta-feira, especialmente depois de que a oposição convocou uma grande manifestação no sentido de perturbar o mais possivel a vida no emirado, no final de semana do Grande Prémio. E claro, a agitação social causou já mossa na Formula 1: a Force India decidiu prescindir da segunda sessão de treinos livres por razões "logisticas". A equipa quer levar todos os seus membros ainda com a luz do dia, e em comboio, para evitar serem de novo apanhados por manifestantes. E aparentemente, os planos da equipa para este final de semana foram totalmente alterados.

E ontem á noite, houve novo incidente, desta vez envolvendo mecânicos da Sauber. Pelas 21 horas, um microautocarro levando dez membros da equipa suiça viu-se no meio de uma situação entre manifestantes e a policia, apesar de nada terem sofrido, segundo diz a equipa no seu comunicado oficial:

Às 20h50, os doze mecânicos que estavam no miniautocarro viram fogo no canteiro central da estrada. O trânsito ficou lento, alguns carros ligaram os quatro piscas. No sentido contrário não havia tráfego. Os membros da equipa viram que dali (esquerda), algumas pessoas mascaradas corriam para o lado da estrada onde eles estavam. No asfalto uma garrafa queimava. O miniautocarro passou pela situação na faixa da direita. Ninguém sofreu algum tipo de dano."

Curiosamente, essa situação foi vivida pelo Luis Fernando Ramos, o Ico, que conta o episódio no seu blog

"Algumas horas antes, tinha sido muito mais temerário. No caminho do circuito para o norte da ilha, a parte mais habitada, o trânsito diminuiu o ritmo num ponto da estrada a ponto de parar. Enquanto olhava viaturas do lado direito, escuto um enorme estouro vindo do canteiro central, bem a meu lado. Era um policial disparando uma bomba de gás lacrimogênio num campo escuro. Metros à frente, uma pequena chama indicava um molotov que estava quase apagado. No meio do asfalto da estrada que é a principal ligação entre o centro e o norte da ilha. Não vi ninguém sendo atendido e nenhum carro com sinais de destruição. Mas foi uma sensação de desconforto total. 

Essa é a realidade que estamos vivendo no Bahrein. Um país que vive um momento delicado e em que conflitos acontecem de maneira diária. Uma tremenda ideia de jerico fazer um grande evento aqui neste momento."

Certamente, serão estes e outros episódios que marcarão certamente este Grande Prémio do Bahrein. Há muito que a normalidade de um Grande Prémio não existe, por muito que digam o contrário.

Noticias: agitação no Bahrein espanta VIP's

A dois dias do Grande Prémio do Bahrein, sei que pelos menos dois terços das cadeias de televisão e restante imprensa primaram-se pela ausência do país, quer devido aos receios das manifestações locais, quer pelo protesto da decisão da FIA em ir a um local onde o governo usou o Grande Prémio como arma politica, com a anuência da FIA e de Bernie Ecclestone.

O que não sabia era que isto também está a causar um impacto junto dos patrocinadores. Segundo uma noticia veiculada hoje pela Agência Reuters, grande parte dos patrocinadores não terão montadas as suas áreas VIP por causa da ausência de imensa gente, que decidiu não ir para o pequeno emirado, por receio da violência, ou por boicotar a corrida. E isso poderá levar a quebras de até 80 por cento de um negócio que tem um volume de negócios anual de 200 milhões de dólares, cerca de 10 por cento das receitas anuais da Formula 1.

Companhias como a Shell, UBS e vodafone afirmaram que não iriam montar as suas tendas corporativas devido ao fato de terem muito poucos clientes presentes: "Estamos com uma queda de 80 por cento. Temos tão poucas pessoas a comparecer a este Grande Prémio que nem sequer nos demos ao trabalho de mandar um representante para os receber no aeroporto", afirmou Daniel Bois, diretor da agência F1 Corporate.

Como se pode ver, tudo está contra o Bahrein...

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A insustentabilidade da situação barenita

A cada hora que passa nos lados do Bahrein, os receios e os rumores começam a dominar as conversas dos membros das equipas, com as autoridades a não quererem facilitar as coisas. Segundo disse esta tarde no twitter o jornalista britânico Will Buxton, do circuito ao hotel, onde está hospedado, em Manama existem dez "checkpoints" para controlar o trânsito. E os receios tem vindo a aumentar, com a noticia de que poderá haver uma grande concentração de manifestantes marcada para amanhã, o dia sagrado para os muçulmanos.

Sobre o incidente de ontem à noite com os membros da Force India, a Vanessa Ruiz, jornalista da Tazio que está precisamente no Bahrein, dá mais pormenores: um dos dois membros da equipa que desejou sair do país é o responsável pelas comunicações via rádio da equipa. Segundo ela, isso fez com que outros responsáveis, de outras equipas, começassem a falar com os seus superiores sobre as garantias de segurança, e a ameaça de um "efeito bola de neve" está no ar...

O resultado é que os membros da equipa decidiram ir embora do circuito em comboio, ou seja, todos juntos, em fila indiana, rumo aos hotéis, uma decisão que não caiu muito bem dentro da equipa. E tudo isto acontece ao mesmo tempo que circulou mais um rumor de cancelamento no paddock...

Sabem o que digo? Esperem pelo inesperado, é o que vai acontecer.

Noticias: Membros da Force India envolvidos em incidente

Faltam três dias para que aconteça o GP do Bahrein, e como seria de esperar, os primeiros incidentes envolvendo membros de equipas de Formula 1 já aconteceram, com quatro membros da Force India a ficarem envolvidos ontem à noite num incidente com "cocktails molotov" nos arredores de Manama.

Segundo Jonathan Noble, do Autosport britânico, o incidente ocorreu quando os membros regressavam ao hotel quando se depararam com uma manifestação, onde estes atiravam "cocktails molotov" para a policia, e um deles aterrou perto do carro onde eles estavam. Chegaram sãos e salvos ao hotel, mas esta manhã, dois dos membros da equipa disse "basta" e decidiu ir embora do país, e a possibilidade de haver mais a quererem sair é bem real.

O diretor do circuito internacional do Bahrein, Zayed al Zayani, menorizou o incidente: "Os manifestantes não estavam a atirar sobre eles, foi tudo uma infeliz coincidência. Ninguém ficou ferido".

Entretanto, esta manhã, um dos pilotos da marca, o alemão Nico Hulkenberg, já disse de sua justiça sobre este incidente: "Não é justo que os membros das equipas tenham medo  de estar no Bahrein", começou por dizer. "Estamos aqui para correr. O negócio da Formula 1 é sobre entretenimento, e este tipo de coisas não deveria acontecer para nós.

Mas isto veio demonstrar que, coincidência ou não, a Formula 1 está mesmo na boca do lobo.

5ª Coluna: porque é que a Formula 1 vai para a boca do lobo

Na sexta-feira, soubemos todos que, contrariando pressões internacionais, os receios das equipas, e os apelos de politicos e ativistas, a FIA decidiu que o GP do Bahrein iria acontecer como planeado, neste domingo, 22 de abril. O comunicado oficial da "FIA", nessa altura, foi lacónico a esse respeito: 

"Todos eles expresaram o seu desejo de que o Grande Premio seguisse adiante em 2012, e desde então, a FIA manteve-se em contato direto com todas as partes interessadas. Longe dos olhares públicos, a FIA recebeu constantemente as informações sobre a segurança [do reino] por parte dos funcionários diplomáticos, bem como outros peritos independentes."

"Com base na informação atual que a FIA detêm neste momento, está convencida de que todas as medidas de segurança que devem ser tomadas para levar a cabo un evento do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 no Bahrein estão a ser executadas. Assim sendo, a FIA confirma que o Grande Prémio Gulf Air do Bahrein de F1 2012 acontecerá na data prevista."

Coloco a FIA entre aspas porque me contaram que as equipas decidiram ir numa reunião de sete minutos em que Bernie Ecclestone só falou e os representantes das equipas "não tugiram nem mugiram", simplesmente aceitaram as ordens de Ecclestone. Isto é só para verem como as coisas se passam na Formula 1. Bernie Ecclestone manda, todos obedecem. E a FIA cala-se, porque pouco mais pode fazer do que colocar o carimbo de aprovação sobre aquilo que ele faz. Não tem qualquer palavra sobre o calendário, não tem palavra sobre os lugares que devem ou não visitar. Faz os regulamentos até quanto puderem, e nem sei.

Nos dias seguintes a este comunicado, a Formula 1 tentou justificar-se o injustificável. E o pior veio de Martin Withmarsh, que ainda na China, disse que a segurança do Bahrein era melhor do que a do... Brasil. Poderia até desculpá-lo dizer que confundiu alhos com bugalhos, mas na realidade fez foi piorar as coisas. O Brasil pode ter muitos defeitos, é certo, mas é uma democracia e não tem milhões de pessoas a manifestar todos os dias nem tem uma policia a dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo, como acontece no Bahrein. Em suma, foi uma comparação no mínimo infeliz, para não dizer que foi uma idiotice.

Tambem no inicio desta semana, recordei-me de um grupo português chamado "Os Pinto Ferreira", que escreveram uma musica chamada "Elogio da Estupidez", e que tem a seguinte letra:

Tu tens um jeito singular
Tu tens um toque especial
Deus deu-te um dom tão singular
Que em tudo o que tocas deixas sempre um mau sinal
Contigo tudo acaba mal senão puder piorar

Maravilhosa estupidez
Porque será que só tu não vês
Esse prodígio extraordinário
Tens o toque de midas

Só que ao contrário
Tu tens uns modos tão subtis
Entre o meter o teu nariz
Com uma arrogância insolente
Na vida de toda a gente

Maravilhosa estupidez
Porque será que só tu não vês
Esse prodígio extraordinário
Tens o toque de midas
Só que ao contrário

De facto, temos de reconhecer que Bernie Ecclestone tem um toque de Midas. Ao longo dos últimos 40 anos, transformou a Formula 1 de um bando de garagistas sujos a um negócio de biliões. Alargou a Formula 1 aos quatro cantos do mundo, e trouxe novos mercados, fazendo-o apelativo aos novos ricos do mundo. Mas Bernie tem um grande defeito: é um ser desprovido de qualquer tacto para os Direitos Humanos ou para qualquer sensibilidade humana. Gosta de ganhar dinheiro, não lhe interessa por onde e como. É um homem do século XX do qual se lhe pagam para ir, "convence" toda a gente a ir, porque detesta devolver o dinheiro.

E para melhorar as coisas, é um mentiroso compulsivo, especialmente na parte da ida da Formula 1 à Africa do Sul, nos anos 80, que como sabem, continuaram a lá ir, apesar do isolamento internacional que aquele regime era suspeito. Ele afirmou, num artigo publicado em dezembro no jornal The Independent que reclama os louros pelo fato da Formula 1 ter deixado de ir em 1985 - depois da polémica sobre a ida da Formula 1 a aquele país - por causa do regime em causa. O Keith Collantine, do F1 Fanatic, num artigo escrito ontem, desmontou essa mentira, afirmando que na realidade, a Formula 1 deixou de ir à Africa do Sul por pressão das televisões e dos patrocinadores, que ameaçaram não transmitir mais a corrida, caso ele insistisse em ir ao país em 1986. E ele quis ir, apesar das criticas.

E claro, não se pode esquecer que ele, ao longo do ano passado, quis regressar ao Bahrein após o cancelamento inicial da corrida pelo governo local, com uma primeira colocação da corrida a 30 de outubro, data do GP da India. A FIA até alinhou nisso, antes das reclamações da comunidade internacional e dos construtores serem tão grandes que a ideia fora descartada. Em suma, Bernie sempre quis ir ao Bahrein, porque são eles que lhes fazem "o preço certo".

E na sua insistência em ir para lá, contra tudo e contra todos, claro, criou sarna para se coçar. Os contestatários do regime avisaram, logo na sexta-feira à noite, altura que a decisão foi conhecida, que iriam começar com uma "semana de raiva" e que iriam para a rua todos os dias, para mostrar ao mundo que o Bahrein não era o oásis de paz que o governo pintava e que o Grande Prémio não era mais do que um instrumento politico do qual o governo usa para mostrar que "não havia nada de novo na frente ocidental". Têm visto ao longo da semana que é exatamente o contrário, e à medida que as horas passam até à realização da corrida, as coisas tendem a piorar.

Como já vos disse na semana passada, tomei há muito uma posição: boicoto o GP. Não escreverei uma linha sobre o final de semana competitivo, por simples consciência. Acho que a Formula 1 não pode ser usado como instrumento politico, como é usado agora pela familia real barenita, a pretexto de uma "unificação". Que como podem ver pelos testemunhos diários dos jornalistas no local, é uma mentira pegada. 

E temo legitimamente o final de semana do Grande Prémio, porque provavelmente, o povo sairá em massa para a rua. Os confrontos serão inevitáveis e provavelmente haverão pessoas feridas ou pior. Acham que vale a pena fazer correr sangue?

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A minha participação radiofónica

Na semana passada, o William Vinderfeltes contactou-me para saber se poderia participar num programa de rádio sobre a situação do Bahrein. Eu acedi ao pedido e participei com uma entrevista telefónica na Rádio Universidade de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul.

Soube depois que outro dos convidados ao programa foi o Ivan Capelli - sim, o blogueiro - que também falou sobre a situação atual e sobre o fato da Formula 1 se desligar gradualmente da Europa para se deslocar para paragens asiáticas, em busca de mais dinheiro.

Para ouvir a reportagem, coloco aqui o link do programa. E suspeito que terão de se registar para nos ouvirem...

Formula 1 em Cartoons - A vitória de Nico Rosberg (GP Series e GP Toons)

Para desintoxicar - mas não muito - do Bahrein, eis uns cartoons sobre a vitória de Nico Rosberg, este domingo, na China. Pode-se começar com este desenho do Hector Garcia, dos GP Toons, onde os mecânicos da Mercedes parecem imitar a coreografia dos Village People. Suspeito que seja o "Macho Man", mas enfim, ao menos aquela equipa está feliz.

Melhor parece ser o que o Marcos Antônio ter feito quando lhe disseram que havia festa rija pela sua primeira vitória, lá ma Alemanha. E que mostraram imagens em direto de Estugarda sobre as comemorações da primeira vitória de um Mercedes desde o GP de Itália de 1955. Enfim... ao menos são alegres.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Formula 1 em Cartoons: GP do Bahrein (Dave Brown)

Eu fiz esta madrugada na página do blog no Facebook um álbum onde coloquei várias caricatruras sobre o GP do Bahrein, uma das quais esta feita pelo caricaturista Dave Brown e colocada no jornal The Independent. Cruel, mas real, assim como as caricaturas politicas do Carlos Latuff, que desde há muito desenha a realidade do GP do Bahrain, apelando ao seu boicote.

Nas últimas horas, tenho deparado um um excelente artigo no britânico The Mirror, feito pelo seu jornalista Byron Young, que fala sobre as manifestações e da repressão policial, onde conseguiu ver em primeira mão, as manifestações, as cargas policiais e as latas de gás lacrimogéneo.

E na última hora, surgiram noticias de que, por causa das manifestações, a HRT está presa no aeroporto e ainda não conseguiu levar o seu material para o circuito, que fica a cerca de vinte quilómetros do centro da cidade. 

Aos poucos, as coisas inevitavelmente complicam-se... 

O dilema moral de ir ao Bahrain e a irresponsabilidade de Felipe Massa

Podem faltar cinco dias para o GP do Bahrein, mas já lá estão alguns jornalistas para ver com os seus próprios olhos a realidade. E de facto, confirmam algumas das coisas que se falava antes: os "cocktails molotov", as manifestações diárias, as balas de borracha, as bastonadas. Ando a seguir, via Twitter, as aventuras de jornalistas como Byron Young, Will Buxton e Ian Parkes, que contam sobre as manifestações e as angustias de um país que quer passar a ideia de que nada se passa e os incidentes são obra de "gangues armados".

Claro, todos eles falam de um dilema moral no jornalismo. Will Buxton, por exemplo, fala disso no seu mais recente post do seu blog. Eis um extrato desse post: 

"O jornalista que tenho dentro de mim, e o estudante de politica também dentro de mim, diz-me que devo ir ao Bahrain e ver os dois lados da história, para ouvir os argumentos do lado do governo e dos protestantes. Os meus colegas Ian Parkes, Byron Young e Kevin Eason estão a fazer isso esta semana. E estão a fazer isso não como jornalistas políticos, mas como jornalistas de desporto. E de uma certa maneira, tenho vergonha que estas pessoas foram colocadas nesta posição pelos seus empregadores, e de uma certa maneira, pelo desporto em si.  Porque são obrigados a arriscar as suas vidas. Eles estão aqui para falar de automobilismo... não sobre protestos, motins, gás lacrimogéneo e 'cocktails molotov'".

Eu diria que eles fazem bem em ver como é a situação pelos seus próprios olhos, para terem uma ideia do que se passa. E se há algum exagero nos relatos de violência - até eu reconheço isso - sejamos honestos: eles existem. E continuo a defender que a ida da Formula 1 para aquele sítio não é mais do que uma "sarna" para se coçar. É um magneto que se agravará a cada hora que se passa, à medida que contaremos os minutos para a realização do Grande Prémio. Não ficaria surpreendido se na sexta feira saiam centenas de milhares de pessoas nas ruas e marchassem para o circuito, para mostrar ao mundo que o país não está em paz. E a mesma coisa no sábado e no domingo. É disso que tenho receio e provavelmente, caso se tente isso, os confrontos serão inevitáveis.

E isso vai em claro contraste com a noticia que a Vanessa Ruiz contou esta tarde no Twitter, que Felipe Massa irá levar a sua mulher e filho para a "boca do lobo", o Bahrein. O piloto brasileiro pode não estar nas boas graças na Ferrari, e isso poderá estar a perturbar os seus pensamentos. Mas mandar a sua família para lá quase denota irresponsabilidade. Ou será ele a pagar a segurança da sua família?

Youtube Motorsport Duel: Quaife-Hobbs vs Campana, Marrakech, Auto GP



A Auto GP, para quem não sabe, é uma competição que teve origem na Formula 3000 italiana e que hoje em dia, é corrida com os antigos bólidos da A1GP, e cujo campeonato segue algumas rondas do WTCC. Sendo assim, neste final de semana foram a Marrocos para correr na pista de Marrakech, numa jornada dupla.

E a primeira corrida desse final de semana marroquino teve um final empocionante entre os dois primeiros, o britânico Adrian Quaife-Hobbs, da Super Nova e o italiano Sergio Campana, da Team MLR71. O italiano, que era o líder, aguentou bem as investidas do britânico, que se colocou várias vezes de lado para tentar ultrapassar, mas que não conseguiu.

Neste filme, pode-se observar as duas últimas voltas, e no final, os pilotos a cruzarem a meta um atrás do outro, com o italiano a vencer, pela primeira vez nesta temporada. Mas Quaife-Hobbs não saiu de Marrocos com as mãos a abanar, pois agora é o lider do campeonato.

Formula 1 em Cartoons - A insensatez do Bahrein (Pilotoons)

E depois da China, a Formula 1 vai para o Bahrein, contra as opiniões e criticas em contrário. É a categoria máxima do automobilismo a ir correr para a boca do lobo e com comités de recepção que irão mostrar aos presentes que tomaram uma posição e não são bem vindos por ali. Os primeiros jornalistas que lá chegaram já revelaram o que se passa por lá... e não tranquliza ninguém. Bem pelo contrário.

Veremos mais disto ao longo da semana. Espero que não aconteça nada de mal, mas se acontecer, não foi por falta de aviso.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Conheçam Alice Powell, a terceira mulher na GP3

A GP3 está a tortnar-se, a cada dia que passa, num viveiro de coisas interessantes de se ver. Especialmente na parte feminina. Depois de sabermos que iria ter mulheres - piloto, primeiro com a italiana Victoria Piria (que correrá pela Trident), e depois com a catalã Carmen Jordá (pilotará um carro da Ocean), esta segunda-feira soube-se que a Status GP contratou a britânica Alice Powell para correr ao lado do filipino Marlon Stockinger e do japonês Kotaro Sakurai

"Estou feliz por me juntar à Status GP, num passo mais no meu caminho para a arena internacional", começou por dizer em declarações captadas pela Autosport britânica. "Adaptei-me a guiar de imediato o carro da GP3, e estou confiante de que terei bons resultados. Irei aprender a conhecer, quer a categoria, quer os circuitos de Formula 1, mas a equipa é experiente e estamos já a trabalhar juntos nesse sentido", concluiu.

Alice Powell tem 19 anos de idade e pode não ter a beleza de Piria ou de Jordá, mas tem resultados. Nascida em Oxford, começou a correr com seis anos, no karting, e chegou aos monolugares em 2009, aos dezasseis anos. Foi campeã na Formula Renault BARC em 2010, com duas vitórias e uma regularidade impressionante, com cinco pódios seguidos, e em 2011 foi nona classificada na Formula Renault UK, a categoria principal, sempre pela Manor Racing. 

Agora em 2012, parece ter encontrado o apoio suficiente para dar o salto para a GP3, onde andará num pelotão altamente competitivo, e será tão escrutinada como Piria e Jordá.

Um tributo a Frank Williams

A Formula 1 tem nomes de pilotos que muitos de nós conseguimos dizer, de cor e salteado, as datas da sua primeira corrida, da primeira vitória, do primeiro campeonato, dos carros que guiou e, tragicamente, da sua derradeira corrida. Tem nomes de projetistas que desenharam este e aquele carro, que resultaram em gloriosos vencedores e terríveis fracassos, resultantes de um tempo em que a tecnologia não era tão grande como hoje, e se tinha de confiar no instinto e no calculo humano para ver se as contas batiam certo.

Mas para além dos pilotos e dos projetistas, há também os donos de equipa. São menos, mas são tão ou mais marcantes, e quanto mais tempo ficam, mais se tornam incontornáveis. Falar de uma época na Formula 1 sem eles fica totalmente incompleto. Enzo Ferrari, Ken Tyrrell, Colin Chapman, os pilotos que decidiram construir a sua própria equipa - Jack Brabham, Bruce McLaren, John Surtees, Emerson e Wilson Fittipaldi, entre outros - todos eles marcaram uma época com as suas equipas. Tal como o homem que vou falar a seguir.

Não foi um grande piloto, mas Frank Williams nasceu com o automobilismo no sangue. Queria imenso entrar naquele mundo e ser bem sucedido, escrever o seu nome na história. Sem poder ser o piloto que sempre sonhou, decidiu então que ser dono de equipa seria melhor. Primeiro adquiriu chassis de várias marcas, e alugou-os às pessoas que queriam entrar naquele mundo. Henri Pescarolo, José Carlos Pace, Jacques Laffite, Arturo Merzário, Jacky Ickx, entre outros, foram os pilotos que correram em chassis inscritos por Williams.

Mas desses primeiros tempos, provavelmente, a ligação mais duradoira foi com Piers Courage, um herdeiro da marca de cerveja com o mesmo nome. Tinha adquirido um Brabham BT26 em 1969 e conseguiram duas idas ao pódio, mais do que suficiente para que fossem confiantes na temporada seguinte, com um De Tomaso construido à sua medida. Mas essas esperanças foram despedaçadas quando Courage morre no GP da Holanda, com o seu carro a ser pasto das chamas, graças a um acidente. Só iria ter algo semelhante 24 anos depois, quando, no auge da sua glória, com o seu carro a ser o melhor do pelotão, viu morrer o brasileiro Ayrton Senna no muro de Imola.

Nessa altura, ninguém acreditava que Frank Williams aguentaria por muito tempo. São conhecidas as histórias de Williams, sem dinheiro a telefonar de uma cabina telefónica do outro lado da rua onde tinha o seu escritório, porque andava sempre sem dinheiro. Recentemente, Emerson Fittipaldi contou numa entrevista que certo dia, em 1971, lhe deu boleia no seu avião para Genebra, porque ele não tinha dinheiro para pagar uma passagem aérea.

Talvez o seu ponto mais baixo tenha sido em 1976, quando Walter Wolf chegou à sua equipa e o comprou. Williams pensava que com alguém a ter comprado a sua equipa, teria algum alívio na sua carteira. Na realidade, Wolf queria-o fora dali, e quando este despediu o belga Jacky Ickx, achou que era demais e saiu dali. Mas não desistiu. Pouco depois, alguém lhe recomendou um jovem projetista chamado Patrick Head e lhe pediu para que o recebesse. Sem nada a perder, assim o fez. 

E assim começou a segunda vida de Frank Williams, muito melhor que a primeira. Pouco depois, encontrou uma velha fábrica de carpetes, em Grove, apareceram os sauditas, que lhe encheram de dinheiro e as vitórias, por fim, apareceram. E de empresário arruinado em 1977, passou a campeão do mundo em 1980. Aquilo que o manteve vivo é apenas a pura convicção. E foi a pura convicção que o fez mover quando sofreu um acidente de carro em fevereiro de 1986, no sul de França, quando capotou com o seu Ford Sierra verde alugado e partiu o pescoço, deixando-o paralisado do pescoço para baixo. Isso, e mais a ajuda de Patrick Head e de vários dos seus colaboradores, é que o fez continuar e a vencer títulos nos anos seguintes.

Hoje em dia, a Williams pode andar longe dos seus tempos de glória. Enzo Ferrari, Colin Chapman e Ken Tyrrell já morreram. Patrick Head reformou-se e a Formula 1 pode ser muito mais corporativista do que hoje, muito mais estéril, muito mais dependente da televisão e dos asiáticos, que acendem charutos com notas de vinte dólares e deitam 40 milhões para receber os Grandes Prémios nos seus palácios. Mas Frank Williams continua e os seus instintos continuam vivos. É certo que recorre a dois pilotos pagantes, mas não é nada que o envergonhe. O que lhe interessa é que sejam rápidos e o ajudem a pagar as contas. Como Pastor Maldonado e Bruno Senna tem as duas coisas, ele está feliz. 

E mesmo que hoje faça 70 anos, mesmo que esteja crescentemente frágil, mesmo que quase todos os seus dias de glória já tenham ficado para trás, ele não desiste. Porque ainda acredita que mais dias de glória estão ao virar da esquina. 

Noticias: Jean Todt quebra o silêncio sobre a decisão da correr no Bahrein

No fim de semana chinês, todos os holofotes estavam apontados para Bernie Ecclestone, pois é que que manda no circo e ele decidiu que o pelotão da Formula 1 seguiria para o Bahrein, como estava planeado e apesar dos receios de muitos e da fúris dos locais, que protestam contra o governo do emirado. Mas outra personagem apareceu em Xangai, mas foi muito pouco visto e falou muito pouco: o presidente da FIA, Jean Todt.

Contudo, numa entrevista à cadeia de televisão alemã RTL, Todt quebrou o silêncio e defendeu a posição tomada sobre o GP do Bahrein: "Era uma data que estava no calendário e esteve sempre nos nossos planos ir lá correr", começou por dizer o dirigente francês. "Sei que há controvérsia em relação à sua realização, mas a FIA é uma organização desportiva. E nisso que estamos interessados, não na politica", continuou.

"A nossa responsabilidade é irmos para lá em conforto e segurança, e temos garantias de que isso está garantido. Temos falado com respresentantes do governo, com responsáveis diplomáticos, com os governos dos países vizinhos, bem como alguns ministérios dos Negócios Estrangeiros, um pouco por toda a Europa. Refletimos e verificamos regularmente a situação no terreno, e vimos que a corrida poderá ir adiante", insistiu.

"Neste momento, está a contecer um importante torneio de golfe, e está tudo a correr bem. Por um lado, temos consciência de que há aspectos contorvérsos, de ordem politica, mas isso acontece um pouco por todo o mundo. Por outro lados, somos um desporto. Estamos confiantes de que a próxima corrida vai acontecer e será um sucesso como aconteceu aqui na China", concluiu.

Noticias: Button critica o pouco tempo que tem para comemorar a vitória

No mesmo dia em que Nico Rosberg subiu pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio, outro dos integrantes neste pódio chinês, Jenson Button, decidiu dizer de sua justiça sobre os festejos que hoje em dia os pilotos de Formula 1 podem fazer, que para ele são demasiado rápidos e não fazem aproximar os fãs da modalidade."Com as restrições que temos agora, em que temos de ter cuidado com o motor e com a caixa de velocidades, que tem de durar por um certo numero de corridas, não podemos fazer "donuts" para os fãs, por exemplo.", começou por dizer o piloto da McLaren em declarações ao jornal britânico The Independent.

"Se eu mandasse, eu faria que depois da corrida, comemorariamos uma vitória como deve de ser. Nós não podemos pegar na nossa bandeira, não podemos comemorar como se fez como se fez com Nigel Mansell em Silverstone. E para piorar as coisas, no nosso momento de euforia, quando queres comemorar com a equipa, a familia e os amigos, tu és retirado dali [para ires ao pódio]", continuou.

"Sim, falas com a equipa pelo rádio, vês o teu pai, a tua mãe a a tua namorada, mas não os vês mais na hora e meia seguintes. Isso é algo que falta no desporto. Ver a emoção do piloto nas câmaras de televisão é ótimo, mas acho que seria melhor estar com a equipa, a familia e os amigos nestes momentos iniciais. Tal como está, paras no parque fechado, dás uns abraços a alguns membros da equipa, mas depois és levado dali para seres pesado. Compreendo as razões, porque tem a ver com a cobertura televisiva, mas é algo que se sente falta do que acontecia no passado.", acrescentou.

Button, de 32 anos e na sua terceira época pela McLaren, afirma que é uma pessoa previlegiada por estar a fazer "o melhor trabalho do mundo". "Terás os teus dias maus, porque queres sempre ganhar, mas tens também de pensar que és muito sortudo por fazeres isto e por estares onde estás. Isto é provavelmente a coisa mais importante que estou a fazer na minha vida e deveria gozar a situação, porque não vou andar aqui por muito mais tempo", concluiu.

Noticias: Dani Sordo correrá na Argentina pela Ford

Afinal, não vai ser nem Mads Ostberg, nem foi Ott Tanak que irão substituir o lesionado Jari-Matti Latvala. Os rumores correram ao longo deste final de semana, mas a Ford vai confirmar oficialmente nesta segunda-feira que o espanhol Dani Sordo substituirá o piloto finlandês no Rali da Argentina, que decorrerá entre os dias 27 e 29 de abril. 

A correr esta temporada com um Mini preparado pela equipa Prodrive, de David Richards, estava previsto não participar no rali da Argentina, por não ser mais uma equipa oficial, e esta ter decidido não correr as provas fora da Europa. foi devidamente autorizado pela marca a correr nas Pampas.

Sordo, piloto espanhol de 28 anos e com 90 ralis no ativo - apesar de nunca ter vencido algum - está atualmente na sétima posição do Mundial, depois de ter conseguido um segundo lugar no Rali de Monte Carlo, no inicio do ano.

Formula 1 em Cartoons - Ronda 3, China (Pilotoons)

Algum dia tinha de ser: Nico Rosberg tinha de ser a primeira "Miss Universo" a vencer um Grande Prémio. Pelo menos, é isso que o Bruno Mantovani viu esta manhã da vitória do filho de Keke Rosberg. Espero que não tenha discursado a favor da paz mundial...

A propósito: o Lewis Hamilton não deveria estar triste. Afinal de contas, é o atual líder do campeonato.

domingo, 15 de abril de 2012

O crescente desconforto de ir ao Bahrein

Terminado o GP da China, com a vitória inaugural de Nico Rosberg, no seu Mercedes, começa uma semana louca na Formula 1, em todos os aspectos, quer logísticos, quer em termos de segurança, com muita gente a ir ao pequeno e turbulento emirado com o coração nas mãos, e com a população a prometer um comité de boas vindas aos que irão aparecer...

Ao longo do final de semana, várias noticias apareceram em relação ao episódio barenita. Exemplos: na sexta-feira à noite, Joe Saward contou no seu blog que o episódio que decidiu a ida da Formula 1 para a pequena ilha do Golfo Pérsico foi decidido em apenas... cinco minutos, e com apenas Bernie Ecclestone a falar, e os responsáveis das equipas nem sequer abriram a boca para falar. No final, de forma anónima, continuaram a expressar as suas desconfianças e a ficaram crescentemente desconfortáveis com a situação. 

Aos poucos, as pessoas dentro do paddock começam a tomar decisões em relação ao Bahrein, e a cada hora que passa, sente-se o desconforto, pelo menos em relação aos meios de comunicação social. Este sábado, em  Xangai, ficou-se a saber que a MTV3 finlandesa, a Fuji TV japonesa e a Sky alemã não enviarão os seus jornalistas para o Bahrein e que farão uma simples transmissão dos seus estúdios.

Entretanto, apesar de muita gente afirmar que de facto, o que se passa por lá em termos de manifestações e repressão é largamente sobrevalorizado, o fato é que existem manifestações diárias e respectivas cargas policiais, e tais coisas não podem ser menosprezados, agora que a FIA confirmou que a Formula 1 irá estar presente no pequeno emirado do Golfo. Essa incerteza é dita por jornalistas como o britânico James Allen

De fato, esta vai ser uma semana muito longa, e espera-se o inesperado. Os ativistas já prometeram "três dias de raiva" no fim de semana do Grande Prémio, e claro, já começaram a queimar as efiges de Bernie Ecclestone, ao lado dos do prinipe herdeiro, o homem que trouxe a Formula 1 ao seu reino. 

E claro, os temores de que a Formula 1 sofrerá por ter apoiado um dos lados aumentam significativamente, como diz nesta matéria do jornal The Guardian... 

Formula 1 2012 - Ronda 3, China (Corrida)

Para uns, é a Britney Spears. Para outros, é "viadinho", porque  há muita gente que não consegue acreditar que aquele piloto com cara de menino seja "macho". Mas a partir de hoje, Nico Rosberg tornou-se no 103º piloto a entrar na galeria dos vencedores, e igualou os feitos da familia Hill e da familia Villeneuve: tornou-se no terceiro filho de piloto de Formula 1 a vencer uma corrida, o segundo filho de campeão do mundo a vencer. E também se tornou no terceiro vencedor diferente nestas temporada de 2012, demonstrando a existência de um grande equilíbrio no pelotão da Formula 1, onde os mais regulares são os que lideram.

Mas a história das 56 voltas do GP da China, disputado sobre condições nebulosas, mas não chuvosas, começou com Rosberg a conseguir fazer um bom arranque, com Schumacher a tentar aguentar o resto do pelotão. A Mercedes, nas primeiras voltas, começou a mostrar que iriam ficar numa boa posição, melhor do que Red Bull e McLaren, fazendo as suas corridas. Mas após a primeira paragem, veio a catástrofe para Michael Schumacher: o mecânico que tratou da roda frente-direita não apertou devidamente a porca e o veterano alemão desistiu depois de algumas centenas de metros, quando a roda começou a ameaçar sair do seu lugar.

Após isso, as atenções voltaram-se para o pelotão, onde andaram todos muito juntos. Muito juntos mesmo! As ultrapassagens, com ou sem a ajuda do DRS - Lewis Hamilton encontrou um cantinho na Curva 6 para fazer as suas ultrapassagens - faziam aumentar as emoções para aqueles que viam ao vivo e na TV, e não podiam sair muito da linha, pois as grandes bolas de borracha, largadas pelos pneus, faziam com que os carros escorregassem muito, o que num pelotão compacto, era a "morte do artista".

Mas no meio, houve momentos para a câmara: as travagens violentas de Sergio Perez, defendendo as suas posições, o vôo de "Air Webber" à entrada na grande reta - o terceiro da sua "nova carreira" - e claro, as lutas taco-a-taco na saída das curvas. E com isso, mais as constantes idas às boxes, fizeram com que com dois terços da corrida, Kimi Raikkonen esteve em grande posição para ir ao pódio, depois de Jenson Button ter tido uma segunda paragem nas boxes que foi um desastre.

Mas a borracha dos pneus de Kimi acabou e ele foi passado pelo resto do pelotão. Até parecia que estava a ser o "Tampax" de tanta gente, pois até ao décimo posto, andavam todos absolutamente juntos. O finlandês depois arrastou-se até ao 14º posto final, demonstrando que a estratégia não resuiltou. Foi pena.

Na Ferrari, parece que depois da Malásia, voltou a "normalidade" ou seja, Fernando Alonso a dar o seu melhor num carro totalmente mau, conseguindo o nono posto, ficando até atrás dos Williams-Renault! Felipe Massa, apesar de uma estratégia diferente, com pneus duros e menos paragens, que lhe permitiu andar pelos lugares na frente, continuou a não conseguir terminar nos pontos, sendo apenas um pálido 13º colocado. Não vão longe, os Ferrari... e continuam a depender de Alonso para pontuar.

No final, com uma enoorme diferença - mais de 25 segundos! - Nico Rosberg rolou tranquilo até à meta, conseguindo voltar a colocar a Mercedes no livro dos vencedores, 57 anos depois de Juan Manuel Fangio ter feito isso no GP de Itália de 1955, a última corrida da marca antes de se retirar da competição. Jenson Button foi segundo e Lewis Hamilton o terceiro, tendo conseguido bater os Red Bull de Mark Webber e Sebastian Vettel. Um pódio prateado.

Mais atrás no pelotão, houve mais motivos para comemorar: Romain Grosjean por fim chegou ao final, com um sexto posto, na frente dos Williams de Bruno Senna e Pastor Maldonado, e parece que o brasileiro, em termos de resultados, está a ser melhor do que o petro-venezuelano. E Frank Williams deverá estar a sorrir... e por fim, a Sauber consegue um prémiozinho: Kamui Kobayashi conseguiu a volta mais rápida da corrida, sendo o segundo japonês a consegui-lo, depois de Satoru Nakajima, no GP da Austrália de 1989.

E com Stirling Moss... perdão, Nico Rosberg e Norbert Haug no pódio - já deveria ter saudades... - com os McLaren a festejar, cumpre-se o preceito: vence-se no domingo, vendem-se mais taxis na segunda-feira. Pode ser que em Estugarda se pense duas vezes em se retirar da competição no final de 2013, pois parece que as melhorias no projeto de Ross Brawn começam a ser evidentes. 

E a partir daqui, a Formula 1 irá se meter na boca do lobo, graças à teimosia dos seus dirigentes. Boa sorte para todos eles.