A Formula 1 tem nomes de pilotos que muitos de nós conseguimos dizer, de cor e salteado, as datas da sua primeira corrida, da primeira vitória, do primeiro campeonato, dos carros que guiou e, tragicamente, da sua derradeira corrida. Tem nomes de projetistas que desenharam este e aquele carro, que resultaram em gloriosos vencedores e terríveis fracassos, resultantes de um tempo em que a tecnologia não era tão grande como hoje, e se tinha de confiar no instinto e no calculo humano para ver se as contas batiam certo.
Mas para além dos pilotos e dos projetistas, há também os donos de equipa. São menos, mas são tão ou mais marcantes, e quanto mais tempo ficam, mais se tornam incontornáveis. Falar de uma época na Formula 1 sem eles fica totalmente incompleto. Enzo Ferrari, Ken Tyrrell, Colin Chapman, os pilotos que decidiram construir a sua própria equipa - Jack Brabham, Bruce McLaren, John Surtees, Emerson e Wilson Fittipaldi, entre outros - todos eles marcaram uma época com as suas equipas. Tal como o homem que vou falar a seguir.
Não foi um grande piloto, mas Frank Williams nasceu com o automobilismo no sangue. Queria imenso entrar naquele mundo e ser bem sucedido, escrever o seu nome na história. Sem poder ser o piloto que sempre sonhou, decidiu então que ser dono de equipa seria melhor. Primeiro adquiriu chassis de várias marcas, e alugou-os às pessoas que queriam entrar naquele mundo. Henri Pescarolo, José Carlos Pace, Jacques Laffite, Arturo Merzário, Jacky Ickx, entre outros, foram os pilotos que correram em chassis inscritos por Williams.
Mas desses primeiros tempos, provavelmente, a ligação mais duradoira foi com Piers Courage, um herdeiro da marca de cerveja com o mesmo nome. Tinha adquirido um Brabham BT26 em 1969 e conseguiram duas idas ao pódio, mais do que suficiente para que fossem confiantes na temporada seguinte, com um De Tomaso construido à sua medida. Mas essas esperanças foram despedaçadas quando Courage morre no GP da Holanda, com o seu carro a ser pasto das chamas, graças a um acidente. Só iria ter algo semelhante 24 anos depois, quando, no auge da sua glória, com o seu carro a ser o melhor do pelotão, viu morrer o brasileiro Ayrton Senna no muro de Imola.
Nessa altura, ninguém acreditava que Frank Williams aguentaria por muito tempo. São conhecidas as histórias de Williams, sem dinheiro a telefonar de uma cabina telefónica do outro lado da rua onde tinha o seu escritório, porque andava sempre sem dinheiro. Recentemente, Emerson Fittipaldi contou numa entrevista que certo dia, em 1971, lhe deu boleia no seu avião para Genebra, porque ele não tinha dinheiro para pagar uma passagem aérea.
Talvez o seu ponto mais baixo tenha sido em 1976, quando Walter Wolf chegou à sua equipa e o comprou. Williams pensava que com alguém a ter comprado a sua equipa, teria algum alívio na sua carteira. Na realidade, Wolf queria-o fora dali, e quando este despediu o belga Jacky Ickx, achou que era demais e saiu dali. Mas não desistiu. Pouco depois, alguém lhe recomendou um jovem projetista chamado Patrick Head e lhe pediu para que o recebesse. Sem nada a perder, assim o fez.
E assim começou a segunda vida de Frank Williams, muito melhor que a primeira. Pouco depois, encontrou uma velha fábrica de carpetes, em Grove, apareceram os sauditas, que lhe encheram de dinheiro e as vitórias, por fim, apareceram. E de empresário arruinado em 1977, passou a campeão do mundo em 1980. Aquilo que o manteve vivo é apenas a pura convicção. E foi a pura convicção que o fez mover quando sofreu um acidente de carro em fevereiro de 1986, no sul de França, quando capotou com o seu Ford Sierra verde alugado e partiu o pescoço, deixando-o paralisado do pescoço para baixo. Isso, e mais a ajuda de Patrick Head e de vários dos seus colaboradores, é que o fez continuar e a vencer títulos nos anos seguintes.
Hoje em dia, a Williams pode andar longe dos seus tempos de glória. Enzo Ferrari, Colin Chapman e Ken Tyrrell já morreram. Patrick Head reformou-se e a Formula 1 pode ser muito mais corporativista do que hoje, muito mais estéril, muito mais dependente da televisão e dos asiáticos, que acendem charutos com notas de vinte dólares e deitam 40 milhões para receber os Grandes Prémios nos seus palácios. Mas Frank Williams continua e os seus instintos continuam vivos. É certo que recorre a dois pilotos pagantes, mas não é nada que o envergonhe. O que lhe interessa é que sejam rápidos e o ajudem a pagar as contas. Como Pastor Maldonado e Bruno Senna tem as duas coisas, ele está feliz.
E mesmo que hoje faça 70 anos, mesmo que esteja crescentemente frágil, mesmo que quase todos os seus dias de glória já tenham ficado para trás, ele não desiste. Porque ainda acredita que mais dias de glória estão ao virar da esquina.
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