Allan Moffat, lenda do automobilismo australiano, morreu este sábado aos 86 anos de idade. De origem canadiana, é um dos maiores vencedores nas provas de Turismos, com quatro campeonatos australianos, quatro vitórias em Bathurst - duas na edição das 500 milhas, duas na edição dos 1000 quilómetros, um dos dois que conseguiram esse feito, ao lado de Peter Brock - também ganhou as 12 Horas de Sebring, em 1975, num BMW, ao lado de Brian Redman, do alemão Hans Joachim Stuck e do americano Sam Posey.
De acordo com a família, Moffat morreu numa unidade de cuidados continuados em Melbourne, onde estava há algum tempo. Ele sofria de Alzheimer desde 2019, altura em que entrou no Australian Motorsport Hall of Fame.
Nascido a 10 de novembro de 1939 em Saskatoon, no Canadá, foi para a Austrália aos 17 anos com a sua família, quando o seu pai, que trabalhava para a firma de tratores Massey Ferguson, foi transferido para esse país. Começou a correr com um Triumph TR3, e em 1964, começou a correr num Ford Cortina Lotus. Dois anos depois, em 1966, foi para os estados Unidos para correr na Trans-Am, ganhando uma corrida, também com um Ford Lotus Cortina. Nos anos seguintes, até 1969, dividiu o seu tempo entre os Estados Unidos e a Austrália, correndo com Ford Mustang, pela Shelby, e com um Mercury Cougar, pela Bud Moore Engeneering.
Em 1969, Moffat foi de forma definitiva para a Austrália, e com um Ford Falcon, foi quarto na sua primeira participação em Bathrurst, ainda sendo uma prova de 500 quilómetros. No ano seguinte, ganha a sua primeira Bathurst, repetindo em 1971, e apenas ele ao volante. Nesse ano, é segundo no campeonato, com vitórias de Lakeside, Surfers Paradise e Symmonds Plains Raceway.
Em 1973, Moffat corria pela Ford Austrália, e com essa preparação, ganhou quatro das oito corridas nessa temporada e acabou como campeão australiano. E em Bathurst, a primeira edição dos mil quilómetros - a Austrália trocou a medição imperial pela métrica nesse ano - ao lado de Ian Geoghegean, acabaram por ganhar. A temporada ainda ficou marcada pelo... roubo do seu carro, nas vésperas da corrida de Adelaide, quando dois jovens levaram o carro "para dar uma volta". O carro foi encontrado, abandonado, e sem gasolina, nos arredores da cidade.
Isso não impediu de correr com um Ford emprestado e acabado a corrida na segunda posição.
No final de 1973, a Ford sai de cena em termos oficiais e Moffat, continuando com máquinas dessa marca, montou a sua equipa para 1974, ganhando duas provas e acabando em terceiro no campeonato. Andando um pouco fora do país, Moffat ganha as 12 Horas de Sebring, num BMW, e participou em mais algumas provas fora da Austrália, sem o mesmo sucesso de Sebring. Retomou em 1976, para ser novamente campeão pela Ford, mesmo com um problema sério, quando o transportador onde levava o seu carro, pagou fogo e acabou em perda total.
No ano seguinte, repete o título, e ganha Bathurst pela quarta vez, com uma companhia de peso: o belga de Jacky Ickx, que naquele ano tinha ganho as 24 Horas de Le Mans, com a Porsche. Com o quarto título no Mount Panorama, tornou-se num dos mais vencedores na competição, sempre com máquinas da Ford. Foi uma dobradinha, com Colin Bond e Alan Hamilton a serem segundos e a chegada "en tandem" um dos momentos mais memoráveis da história do automobilismo australiano.
Depois disto, até ao final da década, Moffat, que tinha sido condecorado com um OBE pelos seus serviços ao automobilismo - curiosamente, como canadiano, porque só se tornou australiano... em 2004! - mas seu resultados de relevo. A sua participação nas 24 Horas de Le Mans de 1980, num Porsche 935 da Dick Barbour Racing, ao lado dos americanos Bobby Rahal e de Bob Garretson, ficou-se pelo caminho, quando eram quartos na corrida.
Em 1981, Moffat choca os fás quando sai da Ford e vai correr pela Mazda. Com um RX-7, ganha os campeonatos de Endurance de 1982 e 84, foi segundo no Bathurst 1000 em 1983, um ano depois de ter regressado a Le Mans, ao lado dos japoneses Yojiro Terada e Takashi Yorino, onde foram sextos na classe GTX. Em 1983, também, ganhou o campeonato australiano de Turismos pela quarta vez e dois anos depois, o campeonato australiano de Endurance.
Depois de ter saído da Mazda e feito um ano sabático em 1985, foi para a Holden em 1986, correndo ao lado de Peter Brock - apesar da rivalidade, eram bons amigos - mas com quase 50 anos, e com o Holden Commodore, os resultados não foram muito memoráveis. Em 1987, foi para o Mundial de Turismos, ganhando em Monza e sendo quarto nas 24 Horas de Spa-Francochamps.
Contudo, a meio da temporada, trocou o Commodore pela Ford, que tinha o Sierra RS500, e queria ser competitivo em Bathurst. Não acabou nesse ano, nem em 1988, mas pelo meio, ganhou a Sandown 500 em 88, com Greg Hansford. Acabou por ser a sua sexta e última vitória nessa pista, e aos 50 anos de idade. Acabaria por largar o volante em 1989, quando acabou em 11º no campeonato australiano de Turismos, com o Sierra 500.
A partir de então, começa a cuidar da sua Alan Moffat Enterprises, com uma associação com a Ford, continuando com os RS500 até 1992, para depois trocar por um Falcon. A equipa continuou até 1996, enquanto Moffat se tornava comentador para a Channel 9 e Channel 7, enquanto um dos seus filhos, James Moffat, foi segundo em Bathurst em 2014 e 2021, a primeira com um Nissan, a segunda com um Ford Mustang da Tickford Racing.
Nos seus últimos tempos de vida, desde o seu diagnóstico, em 2019, enquanto batalhava contra a doença e ser o patrono da Dementia Australia, amigos como Larry Perkins e Fred Gibson encarregaram dos seus compromissos enquanto dentro da família, havia uma batalha legal pelas suas disposições testamentárias entre ele e a sua ex-companheira.