"Le Mans regressa ao vermelho e ao italiano, a Ferrari triunfa pela décima ocasião. Agora seremos para sempre felizes."
Esta foi uma frase que li nas redes sociais, de um amigo italiano, o Andrea Corsini. Ele, ao longo do fim de semana, não só se lembrou da Scuderia, como se lembrou de Lorenzo Bandini, um dos melhores italianos pós-Ascari, que foi fiel a Maranello até morrer, no GP do Mónaco de 1967. Ele triunfou em Le Mans há precisamente 60 anos, tendo a seu lado outro italiano, Ludovico Scarfiotti.
Mas temos de ser honestos: este resultado é, de uma certa forma, inesperado. Quando eles conseguiram a Hyperpole, com o Antonio Fuoco, pensavam que era um fogacho. Porque primeiro, ainda estão no primeiro ano, e segundo, parecia que os Toyota ganhavam tudo e mais alguma coisa, pelo menos desde o inicio da temporada. Os entendidos afirmavam que, apesar de toda esta gente, de ter uma classe Hypercar muito cheia e cada ves mais emocionante, não seria agora. Apenas em 2024, com todas estas máquinas mais experimentadas, é que se poderia pensar numa verdadeira contestação.
Mas tinham esquecido de muitas coisas. O primeiro, o tal BoP, o Balance of Performance, que tinha dado mais peso aos carros da Toyota, por causa das muitas vitórias que tinha, conquistado. E depois, o boletim meteorológico, que baralhou e voltou a dar aos carros, e do qual, causou confusão sempre que chovia em algum lugar, fosse em Tetre Rouge, fosse em Arnage ou Muilsanne, que causou confusões... e "bailados".
Mas independentemente do resultado, sabia-se também que esta iria ser uma corrida emocionante. Quando se têm Porsche, Toyota, Peugeot, Cadillac, Glickenhaus... 15 carros da classe LMDh e Hypercar, a classe principal, sabia-se que estaríamos perante o melhor conjunto de carros dos últimos 40 anos, desde os tempos dos Sport-Protótipos do Grupo C. Portanto, tudo foi feito para que a edição do centenário fosse memorável.
Foi plenamente cumprido. Dessa gente toda, Porsche, Toyota, Peugeot, Cadillac e Ferrari estiveram todos no comando, a certa altura da corrida. Até a Peugeot, que andou sempre discreta desde que chegou às pistas, com o 9X8, não tinha conseguido qualquer resultado digno desse nome. Mas andou, e por muito tempo. Apenas uma batida a meio da noite, do 94, então guiado por Gustavo Menezes, o tirou do comando.
Glória aos vencedores, honra aos vencidos. 51 anos depois da última vez, 58 anos depois de Jochen Rindt e Masten Gregory, a Ferrari ganha em Le Mans. Alessandro Pier Guidi, James Calado e Antonio Giovinazzi entraram no panteão dos vencedores e escreveram os seus nomes depois de gente como Luigi Chinetti, Froilan Gonzalez, Phil Hill, Olivier Gendebien, Nino Vacarella, entre outros. Toda uma geração gloriosa que ganhou tudo em Le Mans e fez com que a Ford, invejosa do seu sucesso, gastasse dezenas de milhões de dólares para os derrotarem, num duelo que deu filme de Hollywood.
Mas, aos que assistiram a esta corrida e achou que é fantástico, então... direi isto: o melhor poderá estar para aparecer. Alpine e Isotta-Fraschini já mostraram os seus chassis e fala-se de Alfa Romeo e Mercedes num futuro mais ou menos distante. E com o fim da classe LMP2, boa parte das equipas quererão um Hypercar ou um LMDh em 2023. Já imaginaram 24, 25 ou mais carros dessa classe no Mundial de 2024, e nas 24 Horas? Será fantástico!
E é isso que pretendo afirmar com isto tudo. É altamente provável que este final de semana tenhamos assistido aos primeiros "salvos de canhão" de uma era dourada na Endurance. Se calhar, é com isto que poderemos ver pilotos de Formula 1 a participar nesta clássica da Endurance. Charles Lelcerc andou por ali e manifestou o seu interesse à imprensa. E não ficaria admirado se inscrevessem um terceiro carro em 2024, com ele e Carlos Sainz Jr nesses bólidos.
Se assim for... que venha ela! E estou ansioso por 2024.