sábado, 23 de setembro de 2023

Formula 1 2023 - Ronda 16, Japão (Qualiicação)


Japão em setembro é um pouco estranho. Aliás, neste final de semana está previsto 30ºC de temperatura e muito sol, depois de uma quinta-feira muito chuvosa. Mas independentemente do tempo, ver a Formula 1 por ali é um colírio para os olhos dos fãs. É um lugar especial, e os japoneses também ajudam. Nos tempos em que a Honda dominava, com Senna e a McLaren, chegavam a haver mais de um milhão de pessoas que queriam ver a corrida, com a organização a fazer um sorteio para distribuir os bilhetes emitidos. 

Agora, sem Honda ou Toyota, os fãs são menos, mas parece mais uma subcultura. Há gente que traz para a pista chapéus com DRS, mochilas com a forma dos pneus da Pirelli, cosplays de Ayrton Senna - com capacete, fato de competição, patrocinadores e tudo! - e aquilo tudo se transforma num Comic-Con, mas realizado num circuito de Formula 1. Onde é que iremos ver isso, por exemplo, em Miami ou Abu Dhabi? Esqueçam.

E era nessa paisagem que sábado chegou ao lugar do Sol Nascente. Claro, nesta temporada onde os Red Bull estão prestes a conquistar tudo, a corrida de Singapura poderia ser o inicio de algo diferente, mas pelos tempos nos treinos livres, sabíamos que a corrida anterior foi um mau dia para a equipa de Milton Keynes. E ali, seria business as usual, apenas contando as corridas até ao tricampeonato de Max Verstappen


A qualificação começou na hora marcada, e os primeiros carros começavam a marcar as suas primeira voltas lançadas quando aconteceu o primeiro momento... baixo da qualificação. O Williams de Logan Sargent bateu forte com no inicio da reta da meta, causando a amostragem da bandeira vermelha e claro, a interrupção da sessão. Gente como Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr. estavam em volta rápida e tiveram de abortar a tentativa, quando Max Verstappen já lidera a tabela de tempos, com 1.29,878.

O americano ficou inevitavelmente com o pior tempo, porque os danos eram tais que não tinha qualquer chance. 

A sessão recomeçou alguns minutos depois, com Lando Norris a responder a Max, fazendo 1.30.083, seguido por Charles Leclerc, com 1.30,393. A quatro minutos do final, o pelotão foi para a pista, marcar a melhor volta, e claro, o trânsito era inevitável. No final, enquanto  Lewis Hamilton e George Russell, pilotos da Mercedes, terminaram a volta rápida final exatamente com o mesmo tempo, os Sauber-Alfa de Valtteri Bottas e Zhou Guanyu, o Aston Martin de Lance Stroll e o Haas de Nico Hülkenberg ficaram pelo caminho, juntando-se a Sargent, que via o seu carro ser reparado.

Alguns minutos depois, passávamos para a segunda fase, onde o mais interessante foi saber como se comportaria o piloto da casa, Yuki Tsunoda. Na sua volta rápida, ele conseguiu saltar para o quinto lugar da tabela de tempos, ficando então a 389 centésimos de Verstappen.

Claro, minutos antes, Max foi o primeiro em pista e completou a volta com o tempo 1.29,964, seguido pelo Williams de Alexander Albon, que mesmo com pneus novos montados no FW45, ficou... a um segundo e meio do registo do piloto da Red Bull.

Na parte final, enquanto gente como Charles Leclerc tentou um bom tempo... e conseguiu, os Alpines de Pierre Gasly e Esteban Ocon, o Alpha Tauri de Liam Lawson, o Haas de Kevin Magnussen e o Williams de Alex Albon, foram eliminados da fase seguinte.

E assim, chegamos à Q3. 


Mal o semáforo ficou verde, Max Verstappen saiu prontamente para a pista para colocar uma volta rápida na tabela. O neerlandês, que não tinha terminado a Q2 com o registo mais rápido, vinha com tudo, para mostrar quem tinha o melhor carro. E cumpriu: completou a sua volta em 1.29,012, um tempo-canhão, mais rápido do que a pole-position que tinha marcado no ano passado. Todos ficaram espantados - ou não - com a volta de Max, mas julgavam que ainda teriam tempo para contestar o piloto da Red Bull.

Especialmente os McLaren, que julgavam ter um excelente carro para esta pista. Eles apareceram a seguir, primeiro Piastri, com um tempo 446 centésimos mais lento que o neerlandês, e depois Norris, um pouco mais lento. Se o sinal de que eles estão bem nesta parte final da temporada, apesar de ainda não terem ganho corridas, no puro e duro, era mais uma pole do neerlandês.

É que na volta final, Max terminou a volta com 1.28,877, mais de meio segundo na frente dos McLaren e do Ferrari de Charles Leclerc, quarto com 1.29,542. Sergio Pérez foi apenas quinto, com 1.29,650. E Yuki, em casa, conseguiu bater o Aston Martin de Fernando Alonso.    

Na próxima madrugada, porém, iremos saber se este poderá ser o primeiro match-point da temporada para Max, na sua conquista do tricampeonato. 

Noticias: Ricciardo e Tsunoda ficam para 2024


A Alpha Tauri anunciou este sábado que Daniel Ricciardo e Yuki Tsunoda serão pilotos da marca para a temporada de 2024. Isto colocou fim às especulações sobre Liam Lawson, o neozelandês que substitui Ricciardo enquanto ele recupera da lesão na mão direita, sofrida durante o fim de semana neerlandês. Para o piloto japonês, será a quarta temporada consecutiva ao serviço da equipa B da Red Bull.

Estou ansioso para continuar a lutar e colaborar com a equipa e com Daniel”, disse Tsunoda no comunicado enviado pela equipa. “Sou grato à Red Bull e à Honda por seguir na competição e por acreditar em mim, e estou muito feliz e agradecido por continuar esta parceria”, completou o piloto japonês de 23 anos.

Já o veterano piloto australiano, de 34 anos, segue feliz por saber que correrá no ano que vem, depois de meio ano parado, depois de ter saído da McLaren.  

Estou encantado por guiar com Yuki de novo no ano que vem e seguir esta jornada com a AlphaTauri. Depois do progresso que fizemos e dos planos para o futuro, é um momento empolgante para a equipa. Estamos a evoluir, e é um sentimento imenso”, falou o australiano.

A Alpha Tauri tem sido a pior equipa do pelotão nesta temporada, conseguindo apenas cinco pontos, e tem como melhor lugar um nono posto na corrida de Singapura, graças a Lawson. Yuki Tsunoda conseguiu mais três pontos graças a três décimos lugares em Melbourne, Baku e Spa.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

WRC: Ogier fica na Toyota em 2024


Sebastien Ogier irá ficar mais uma temporada na Toyota, a tempo parcial, depois de terem surgido noticias de que poderia estar em conversações com a Hyundai para uma possível transferência. Falando ao motorsport.com, o piloto de 39 anos afirmou que não havia razão em mudar de equipa, a não ser que aparecesse alguma oferta irrecusável.

Não há nenhuma razão real para eu mudar alguma coisa. Conheço muitas pessoas na Hyundai e talvez tenha havido algum início de conversações, porque sou o meu próprio empresário, mas a realidade é que estou feliz com tudo o que tenho neste momento, por isso não há nenhuma razão real para eu mudar alguma coisa”, afirmou.

Oito vezes campeão do mundo do WRC, seis dos quais seguidos - 2013 a 2018 - mais os títulos de 2020 e 2021, Ogier corre desde 2022 em part-time, tendo nesta temporada participado em seis ralis, tendo vencido em Monte Carlo, México e Safari, no Quénia.

Youtube Automobile Videos: O Torino de Horácio Pagani

Horacio Pagani é um dos construtores mais interessantes que anda por aí. Os seus carros são verdadeiras obras de arte, mas este argentino radicado em Itália não esquece as suas origens. Especialmente quando se trata de um carro icónico na sua terra natal: o IKA Torino.

Como sabem, o carro tem uma carroceria monobloco da Rambler American, com um desenho da Pininfarina, e motor 3.8 Hemi vindo da Jeep, foi construído em Cordoba pelas Industrias Kaiser Argentina e teve uma longa vida, mesmo quando a fábrica foi comprada pela Renault e foi construída sob o seu nome, o Renault Torino. E numa altura em que os carros eram identificados com números - com excepções - o carro era um extraterrestre, mas síbolo de excelência na terra das Pampas.

Pagani retornou recentemente a Cordoba, visitou a fábrica e o seu amor pelo Torino foi tal que arranjou um, para levá-lo a Itália e usá-lo como seu "daily driver". E foi acompanhado de outra lenda argentina: Orestes Berta, o mítico preparador de motores para o automobilismo local. 

Rumor do dia: Apenas Andretti foi aceite


A FIA irá aceitar apenas uma das quatro equipas que submeteram uma candidatura para a Formula 1. De Andretti Global, Hitech, Rodin Carlin e LKY SUNZ, uma startup asiática, que recentemente afirmou estar disposta a investir até 600 milhões de euros para entrar na Formula 1, apenas a estrutura americana é que passou nos critérios da Federação Internacional de Automobilismo. A sua decisão será anunciada dentro em breve. 

A Andretti, que é apoiada pela Cadillac, foi, aparentemente, a única que alcançou a fase final, apesar de as equipas, na palavra de Stefano Domenicalli, afirmar que não existe a necessidade de ter mais uma equipa, a não ser que traga uma mais-valia para a competição. Atualmente, as novas equipas eram obrigadas a ter uma "fee" de 200 milhões de dólares, que seria recuperado ao longo dos anos seguintes, mas quando a  LKY SUNZ disse que estaria disposta a pagar 600 milhões, graças à participação de um bilionário radicado na Florida, para tentar reverter a rejeição da sua candidatura. 

Benjamin Durand, CEO da candidatura asiática, afirmou: “Ainda estamos em diálogo com a FIA. Mas não posso entrar em detalhes no momento porque estamos vinculados a um NDA [acordo de confidencialidade, em inglês] que respeitamos”.

Não se sabem ainda as razões para a rejeição, mas segundo conta a motorpsort.com, as equipas, para receberem uma decisão positiva no processo de inscrição da FIA, devem não apenas provar que possuem recursos financeiros suficientes, mas também ter um plano sobre como o projeto será ambientalmente sustentável, a fim de atingir zero emissões líquidas de CO2 até 2030.

Além disso, tem de mostrar que o seu projeto alcançaria um impacto social positivo, tendo a diversidade do seu pessoal como ponto a ter em conta.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

WRC: Polónia e Letónia no calendário de 2024?


O calendário do Mundial de ralis será modificado em 2024, com a saída dos ralis de México e Estónia, para entrarem no seu lugar as provas da Letónia e da Polónia... ou Argentina. Numa altura em que os construtores acordaram que o campeonato não pode ter mais que 13 ralis - para terem quatro carros em cada uma das três equipas oficiais - projetos como os dos Estados Unidos, Arábia Saudita ou Argentina ficarão por agora guardados, por causa dos problemas de logistica das equipas, mas com garantias de entrarem em 2025. 

Contudo, fontes afirmam que existirá um rali saudita em 2024, para o calendário do Médio Oriente, como evento de teste para 2025, altura em que entrará no calendário, acompanhado pelo rali portenho. 

Entretanto, em declarações para a revista italiana Autosprint, Simon Larkin, o responsável do promotor, revelou que o rascunho para 2024 foi enviado na semana do rali da Acrópole. "Deverá ser votado por voto eletrónico e esperamos revelá-lo em breve. Espero que isso aconteça a 6 de Outubro, caso contrário temos de esperar pelo Conselho Mundial da FIA a 19.", afirmou.

"O que posso dizer é que a dúvida é entre a Polónia e a Argentina, veremos o que é decidido quanto a isso.", concluiu.

Larkin afirmou que o ideal será ter 14 ralis no calendário, e quanto mais global, melhor, mas com a Europa como base.

"A Europa será sempre a base. Somando à entrada da América do Norte [EUA ou Canadá] poderemos redescobrir a Oceânia com a Nova Zelândia, um país com um mercado pequeno mas com um rali com grande tradição e onde esperamos regressar em breve."

Contudo, o calendário está mais ou menos confirmado: o Mundial começará em Monte Carlo, entre os dias 24 e 24 de janeiro, seguido pelo rali da Suécia, que acontecerá entre os dias 16 e 18 de fevereiro, para depois seguirem os ralis da Croácia, Portugal, Sardenha, Quénia, Finlândia, Grécia/Acrópole e a Europa Central, pra depois acabarem com Chile e Japão, este em meados de novembro. 

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Noticias: McLaren renova com Piastri até 2026


A McLaren anunciou mesta quinta-feira a renovação do contrato com o australiano Oscar Piastri, estendendo a ligação contratual entre ambas as partes até ao final da temporada de 2026. Piastri, que se estreia nesta temporada na Formula 1, já conseguiu bons resultados, com 42 pontos no total e um quarto lugar na Grã-Bretanha como melhor resultado até agora. 

Isto acontece tempos depois da equipa ter anunciado a renovação do contrato com Lando Norris, que ficará na equipa até ao final da temporada de 2025. 

Sobre o seu novo contrato, Piastri comentou à Autosport britânica o que tal significa: “Estou emocionado por estender minha parceria com a McLaren por muitos anos. Quero estar na frente da grelha de partida com esta equipa e estou entusiasmado com a visão e as bases que já estão sendo estabelecidas para nos levar até lá."

As boas-vindas que recebi e os relacionamentos que construí fizeram com que já me sinta em casa.", continuou. "O compromisso consistente da equipa em mim fez sentir incrivelmente valorizado e o desejo da equipa de que eu fizesse parte do seu futuro a longo prazo tornou fácil esta uma decisão. Ser desejado assim e a equipa mostrar tanta confiança em mim depois de apenas meia temporada significa muito.

O chefe da equipa, Andrea Stella, acrescentou sobre Piastri: 

É fantástico [podermos] confirmar que Oscar assinou uma extensão de vários anos com a equipa. É um trunfo para a McLaren e impressiona constantemente com seu desempenho, ética de trabalho e atitude, por isso foi uma decisão fácil de ser tomada pela equipa. Ele já provou ser fundamental, por isso é brilhante ter seu voto de confiança enquanto buscamos vencer campeonatos novamente no futuro. Estou ansioso para vê-lo se desenvolver connosco enquanto continuamos esta jornada juntos.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

A imagem do dia (II)



Certo dia, o pai de Liam Lawson prometeu que o iria levar para assistir ao GP de Singapura, aquele que se realiza à noite. Aliás, o primeiro de todos. Muitos anos depois, inesperadamente, o próprio piloto agora está na Formula 1, embora a substituir o lesionado Daniel Ricciardo, e como se lembrou da promessa feita pelo pai, decidiu que... seria ele mesmo que iria levar os pais e a irmã para ver o Grande Prémio. ainda por cima, da cabina VIP. 

Esta bela história andei a ler no fim de semana, ainda antes de ele conseguir o seu primeiro Q3 da sua carreira, e claro, os primeiros pontos da temporada, praticamente no terceiro Grande Prémio. Para além de ter dado um nono lugar, o melhor resultado do ano para a Alpha Tauri, calha mesmo antes do GP do Japão, ele que corre nesta temporada na SuperFormula, a competição japonesa. 

Lawson não é espantoso, mas até faz muito bem as coisas, dadas as circunstâncias. Piloto de reserva, foi substituir um piloto... substituto - como se recordam, Ricciardo substitui Nyck de Vries, que foi dispensado depois do GP britânico, em julho - e numa Alpha Tauri que é o carro mais lento do pelotão, um resultado destes ao fim da sua terceira corrida da temporada até pode ser um bom cartão de visita, especialmente nas vésperas de um GP do Japão onde ali, existem expectativas sobre a sua performance.

Ainda é um pouco cedo para se fazer um balanço - aparentemente, Ricciardo só regressará em Losail, palco do GP do Qatar - e o facto de ter pontuado é algo relativo - ainda se lembram do nono lugar do De Vries em Monza, no ano passado? - mas eu creio que ele está a cumprir, daquilo que se wiu. Aliás, os rumores falaram que Ricciardo foi visto em Singapura porque, aparentemente, ele teme que o "kiwi" tire o lugar...

Mas que pensar? Pode ser um bom piloto - onde corre, no Japão, é candidato ao título - e numa Red Bull, onde não há tempo para respirar, Lawson, que chegou sem grandes expectativas, parece estar a cumprir. Resta saber no que dará.  

Uma coisa é certa: este fim de semana, houve uns pais muito orgulhosos com o seu filho.   

A(s) image(ns) do dia




Se anteriormente, falei sobre o triunfo de Nigel Mansell na CART americana, hoje falo no "fracasso" que foi a passagem de Michael Andretti na Formula 1, no carro da McLaren. Apenas sete pontos e um pódio - ironicamente, na sua última corrida, em Monza, dias antes de ser dispensado e substituído por Mika Hakkinen - tudo num carro onde Ayrton Senna conseguiu 53 pontos e três vitórias, na altura em que o americano foi dispensado. 

De uma certa maneira, afirmar que Andretti filho não era um grane piloto é um erro. Tinha talento, mas quando a cabeça não está no lugar, e o ambiente não é favorável, não interessa muito se conseguisse fazer magia com o carro. Aliás, o pai, Mário Andretti, disse anos depois a Marshall Pruett, um dos míticos jornalistas da Road & Track americana, um resumo do que foi a sua passagem pela McLaren:

"A melhor maneira para resumir a situação é que ele chegou na melhor equipa do campeonato na pior altura possível", ele afirmou, em 2018.  

E era verdade. A McLaren ficara sem os motores Honda, que lhe deram quatro títulos de pilotos e outros tantos de Construtores. E pela primeira vez em mais de uma década, era obrigado a andar com motores cliente, neste caso os Ford de oito cilindros, cujo cliente principal era a Benetton, que nessa altura tinha um jovem prodígio chamado Michael Schumacher, do qual esperavam grandes feitos. Mas Senna - e o MP4/8, diga-se de passagem - eram capazes de tirar alguns coelhos da cartola, capazes de disfarçar a sua inferioridade perante o Williams FW15C, que toda a gente sabia ser o melhor chassis do campeonato, e o Benetton B193.

Mas toda a gente julgava que Senna não fosse competir em 1993 na McLaren. Sequer na Formula 1. Tinha feito o teste na CART, com um Penske, em Phoenix, e se falava que só queria competir na Williams, numa espécie de "tudo ou nada". No final, as coisas foram resolvidas em cima da hora, com a McLaren e a Marlboro a darem um milhão de dólares por corrida ao brasileiro, e depois um contrato até ao final da temporada. 

A equipa estava aliviada, mas o grande prejudicado era... ele. Afinal, tinha sido contratado para quê? 

Pediam a Andretti que se assentasse de imediato, e isso... nunca teve muito desse espírito. Para piorar as coisas, a Formula 1 em 1993 era altamente eletrónica. Para alguém como ele, era um outro mundo, porque na CART, era tudo analógico. E nesse ano, tinha entrado a regra de que os pilotos tinham um máximo de 23 woltas para andar nas sessões de treinos em todos os fins de semana de Grande Prémio. E para quem não conhecia os circuitos, era muito pouco. 

Também atiraram para ele a ideia de que fazia como o pai, que entrava e saia de aviões, em travessias transatlânticas. Aparentemente, não queria morar na Europa. Andretti, anos depois, afirmou que isso era um disparate completo.

Não teria feito nada”, começou por afirmar. “Não, não teria feito nada. As pessoas não têm qualquer noção [do que se passou]. Eu mesmo estando lá – em primeiro lugar, quando eu estava lá [na McLaren], eles diziam ‘está tudo bem, podes ir embora’, quando eu estava na oficina, sabe? Então o que eu ia fazer? Girar meus polegares? Nunca saí do fuso horário quando estaria lá… graças a Deus pelo Concorde porque eu poderia estar lá, de uma ponta a outra, em seis horas.

E pensava, você leva tanto tempo [guiando] dali até ao Mónaco, então não houve problema lá. Eu simplesmente rio quando vejo as pessoas [fazerem essa afirmação]. Eles são tão sem noção. Mas eles adoraram usar isso. Essa é a desculpa que todo mundo usa, mas ninguém sabe a verdade sobre tudo o que aconteceu.

E para piorar as coisas, puro azar. Os seus acidentes nas três primeiras corridas do ano - menos de duas voltas em Kyalami, Interlagos e Donington Park juntos! - só piorou as coisas para o seu lado. E a pressão acumulou-se, claro. Porque do outro lado existia o terceiro piloto, Mika Hakkinen, que andava a testar as máquinas que atiravam para ali - foi na altura no 12 cilindros da Lamborghini, por exemplo -  e cedo começou a afirmar que era um talento a ser desperdiçado, depois das duas temporadas que tinha passado na Lotus.  

Claro, ninguém via o resto. Apesar de ser sempre batido por Senna na qualificação, nunca ficava longe dele, e o quinto lugar final em Barcelona parecia ser um bom resultado. Mas quando ele alcançava os seus primeiros dois pontos, já o brasileiro tinha... 32.

No final, é irónico que a sua grande corrida tenha sido em Monza, numa pista onde 11 anos antes, o seu pai também tinha acabado nessa mesma posição, num Ferrari, e numa corrida onde ele andou sem cometer erros, onde - ironicamente - a corrida do seu companheiro de equipa acabou na oitava volta na traseira do Ligier de Martin Brundle na travagem para a variante Roggia. 

E sobre o resto, o seu pai explica sucintamente o que é que foi a sua passagem pela Formula 1: um luxo muito caro.

Ele foi para lá, contratado pelo Ron Dennis porque o Ayrton Senna estava de saída, mas o negócio não estava fechado. Além disso, ele contratou Mika Hakkinen da Lotus. Na época, pegou [Hakkinen] basicamente de graça. E como o acordo do Ayrton com a Williams ainda não tinha amadurecido na época, o Ayrton vai ficar e você tem dois pilotos bem pagos por lá, mais um terceiro piloto, um bom, quase de graça, sem fazer nada. Quase no minuto em que a temporada começou, Michael estava em uma posição muito difícil porque ele era o indesejado, sem dúvida.

Hoje em dia, 30 anos depois do que aconteceu e sabendo das suas ambições de ter uma equipa na Formula 1, passa-me sempre pela cabeça que Andretti junior, um dos melhores pilotos que a América mostrou, filho de campeão, e um dono de equipa bem sucedido na IndyCar, Formula E e na IMSA, tem alguns assuntos por resolver na categoria máxima do automobilismo.      

Youtube Formula 1 Vídeo: As comunicações de Singapura

O fim de semana de Singapura foi interessante. Houve lagartos na pista, os Red Bull não passaram da Q3 e o filho de Carlos Sainz ganhou a corrida num Ferrari! O mundo ficou de cabeça para baixo? Aparentemente não, mas as comunicações de rádio parecem ter falado dessas coisas...  

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A imagem do dia


Não era o bigode mais famoso da CART - Bobby Rahal, nesse ponto, estava lá desde há algum tempo - mas quando decidiu correr na Newman-Haas, no inicio de 1993, foi uma tempestade. Afinal de contas, falávamos do campeão do mundo de Formula 1, que aos 39 anos, ia tentar a sorte nas Américas. Especialmente para tentar mostrar ao mundo que tinha a velocidade e poderia ser campeão em qualquer carro. E o mundo inteiro o viu com redobrada atenção, saber se conseguiria ou não. 

Em setembro desse ano, depois de uma grande vitória na pequena oval de Nazareth, Nigel Mansell conseguiu o que queria: ser campeão da competição. E melhor ainda: conseguiu sê-lo enquanto ainda era o campeão do mundo de Formula 1, pois Alain Prost ainda não o tinha conquistado. Ele ainda iria ter o título por mais alguns dias, ou semanas, antes do francês ficar com ele.    

Nesse ano de 1993, a CART, era verdade, estava num período áureo. Aliás, não ficaram muito longe de ter Ayrton Senna, que chegou a testar um Penske em Phoenix, e pensou na ideia por uns tempos, antes de decidir permanecer na Formula 1, ao preço de um milhão de dólares por corrida - pelo menos nas primeiras dessa temporada. 

Mas quem fosse ver a lista de pilotos participantes, não deixaria de olhar que aquilo tinha uma grande quantidade de ex-pilotos de Formula 1. E não eram só os consagrados, que procuravam uma segunda vida, como Mansell, Emerson Fittipaldi, Mário Andretti, Danny Sullivan ou Eddie Cheever, por exemplo. Também estava gente como Olivier Grouillard, Andrea Montermini, Andrea Chiesa, Bertrand Gachot ou Christian Danner

E isso, de uma certa maneira, começava a causar mossas nos americanos, que sempre wiram a CART como o seu quintal. E se já viam que se tinham afastado há muito das raízes dos "dirt tracks", também já viam que começavam a deixar para trás algumas das ovais que eles sempre gostaram de correr, embora ainda neste ano andassem em lugares como Phoenix e Nazareth, lugar onde Mansell alcançou a sua consagração. 

Mas independentemente dos ressentimentos, existia por agora uma coisa boa: o mundo estava de olhos postos na sua competição. Os fãs de automobilismo na Europa tinham algo mais para ver no final da tarde, especialmente depois da Formula 1, e muitos queriam saber como é que ele se daria por ali. Afinal, foi como Julio César, dois milénios antes, quando conquistou a Gália: chegou, viu e venceu. Com um bigode. 

domingo, 17 de setembro de 2023

Formula 1 2023 - Ronda 15, Singapura (Corrida)


Deixada a Europa para trás, a Formula 1 agora navega em paragens asiáticas, onde ficará por um bom tempo - mais de um mês, antes de passar pelas Américas - mas ali, em Singapura, ao pé do Equador, era a terceira corrida noturna do campeonato, depois do Bahrein e de Jeddah, na Arábia Saudita. 

A grande questão deste domingo era saber se a Red Bull iria hoje corrigir os erros cometidos na véspera, onde acabaram, pela primeira ocasião em quase seis anos, de fora da Q3, logo numa altura em que o carro é a máquina dominante deste pelotão e no qual todos aceitam a ideia de que eles ganharam todos os títulos. Contudo, com o que aconteceu ontem, começava-se a pensar se eles iriam ganhar todas as corridas. 

Pelos vistos, poderia não acontecer.   

Mas ainda antes da corrida, a noticia de que Lance Stroll não iria alinhar na corrida devido às consequências físicas do acidente de ontem, na qualificação. A Aston Matin falava que, apesar de ter saído do seu próprio pé, as suas reações tinha, ficado afetadas com o impacto na parede. E por causa disso, apenas 19 pilotos alinhariam na corrida.  


O Grande Prémio começou com Sainz a manter o primeiro lugar, enquanto Leclerc aproveitava o mau arranque de Hamilton, que deixou passar o piloto monegasco, para ficar com o segundo lugar. Russell era quarto e Oscar Piastri subia de 14º para 11. Fernando Alonso e Esteban Ocon (sexto e sétimo) ganharam um lugar cada à custa de Kevin Magnussen. Pior ficou Yuki Tsunoda, pois foi a primeira desistência da corrida, o japonês retirou o carro da pista e por isso, não se precisou a entrada do Safety Car.

Atrás, bastou duas voltas a Max para entrar nos pontos, enquanto alguns pilotos, como Lando Norris, queixavam-se que Hamilton deveria-o passar por causa do que aconteceu nos primeiros metros, e foi avisado disso. Assim, o piloto da McLaren foi para o terceiro posto, à custa de Hamilton. 

Com o pelotão junto, esperava-se pela altura em que os pilotos iriam para as boxes para aquilo que iria ser, aparentemente, a sua única paragem nas boxes. Isso acabou por acontecer na volta 20, quando aconteceu o Virtual Safety Car por causa de Logan Sargent, que teve a sua asa dianteira danificada. Os pilotos queriam colocar os duros, para ver se poderiam aguentar até ao final da corrida. Os Red Bull queriam aguentar o mais que podiam, e quando foram para os lugares de cima graças à sua tática, eles não aguantaram as investidas de gente domo Lewis Hamilton e George Russell, por exemplo. Não estava a ser uma grande corrida nesta final de semana para os energéticos.  

A partir do meio da corrida - volta 31 de 62 - o ritmo aumentou, mas os pilotos andavam perto uns aos outros, sem atacar, pelo menos na frente. Contudo, depois da Mercedes ter trocado de pneus para médios mais frescos, o seu ritmo era avassalador, chegando até a andar dois segundos mais rápido por volta. Atrás, os Red Bull também tinham trocado mais tarde e recuperavam posição, regressando aos pontos e a ganhar também dois segundos por volta.    


A parte final deu algo fantástico. Quatro pilotos a lutarem pela vitória! Sainz Jr aguentava as ofensivas, primeiro, de Lando Norris, e depois, da aproximação dos dois Mercedes, com George Russell a querer ficar mais acima da terceira posição, porque tinha o seu companheiro de equipa, Lewis Hamilton, atrás de si. Ainda por cima, o veterano ficava com a volta mais rápida, mostrando que estava ali com olhos na vitória. E os quatro estavam longe de Max, que estava a aproximar-se à traseira de Charles Leclerc.   

E a última volta reservava um golpe de teatro: com os quatro pilotos colados, Russell cometeu um erro e bateu na parede, seguindo em frente no final da curva, cedendo o terceiro lugar para Hamilton. Sainz Jr. respirava um pouco melhor, e ia a caminho da vitória, mesmo com Norris e Hamilton logo atrás, provando que sabia aguentar sob pressão.

E quem também aguentava sob pressão era Charles Leclerc, que perante a carga da Max Verstappen, conseguiu aguentar o quarto posto, não dando mais que 10 pontos ao piloto da Red Bull no campeonato, mas se calhar, não deu qualquer mossa da sua liderança. E mais abaixo, a acidente de Russell deu a chance de uma vida para Liam Lawson, que pontuou pela primeira vez na sua carreira, com os dois pontos do nono posto, conseguindo ficar na frente de Kevin Magnussen e Alexander Albon, o primeiro dos não pontuáveis.


E com isso, a Ferrari está presente no final de duas dos maiores domínios na história da Formula 1. 35 anos antes, em Monza, estavam no lugar certo, à hora certa, quando Ayrton Senna embateu no Williams de Jean-Louis Schlesser e a liderança caiu ao colo de Gerhard Berger, e agora, o mau fim de semana dos Red Bull deu a pole, liderança e no final, a vitória a Carlos Sainz Jr, e a primeira vitória da Ferrari - e de qualquer outro carro que não a Red Bull - na temporada de 2023. 

E assim chegou ao fim o GP de Singapura. Agora são mais sete dias até à Formula 1 chegar a Suzuka, na primeira corrida desde março onde voltamos a acordar de madrugada. 

Youtube Automobile Vídeo: Os Carochas mais frios da Terra

Nos anos 50, existiu uma corrida das diversas potências à Antarctica, o continente branco, um dos lugares mais inóspitos da Terra. Mas se, por exemplo, os soviéticos andavam com veículos com lagartas, e os americanos tinham à sua disposição todo o complexo logístico das Forças Armadas, a Austrália tinha, nas viagens entre as suas bases... alguns Volkswagens Carocha, arrefecidas a ar.  

E é a história desses Carochas - que sobrevivem nos dias de hoje - que hoje se fala neste vídeo.