O GP do Azerbeijão de Formula 1 pode ter sido a melhor corrida da temporada. A corrida foi agitada, tivemos bandeira vermelha e toques entre pilotos, e muita treta, digamos assim. Mas a grande polémica do Grande Prémio foi aquela que aconteceu na volta 22, depois da saída do Safety Car (SC). Na curva 10,
Lewis Hamilton decidiu abrandar o suficiente para dar espaço ao Mercedes. Mas atrás dele,
Sebastian Vettel acabou por tocar na traseira do Mercedes, e ele reagiu, tocando no carro do britânico. Os comissários decidiram que Vettel fez de propósito e foi penalizado em dez segundos, mas mesmo assim, o alemão acabou na frente de Hamilton porque ele teve problemas com o protetor do carro, que o levaram a uma paragem extra.
A discussão apareceu logo de imediato, especialmente na "twitterlândia". Houve quem quisesse a desclassificação imediata de Vettel, e o alemão irritou-se com as manobras do inglês, cujos detratores logo vieram a terreiro dizer que era "mimimimi do alemão", chamando-o de menino mimado para baixo.
Comecemos por uma declaração de interesses: torço por Sebastian Vettel desde os tempos da Toro Rosso, e considero que é um dos melhores pilotos do pelotão, tão bom quanto Lewis Hamilton ou Fernando Alonso.
Dito isto, direi logo a seguir que, neste incidente, ambos são culpados. Hamilton pela ação, Vettel pela reação. E ambos deveriam ter sido penalizados. Esta é a resposta mais curta. Mas há a resposta mais longa, e essa eu falo nas linhas seguintes.
Mas o mais engraçado é que... não é a primeira vez que Hamilton faz manobras destas. Não é a primeira vez nesta temporada. Fez algo semelhante no GP do Bahrein, quando fez "brake test" na entrada das boxes, segurando
Daniel Ricciardo, enquanto que
Valtteri Bottas saía das boxes para fazer a sua troca de pneus durante a corrida.
Eu creio que depois, pagou uma penalização de cinco segundos por isso, mas não tenho a certeza.
E nem falo das muitas vezes que fez ao longo da sua carreira. O inglês sempre fez essa manobra, que é frequente no karting, e que é para ver até que ponto estão os reflexos do adversário, mas também serve para afastá-los, e assim ganhar o espaço que precisa quando recomeça a prova.
Contudo, Vettel reage mal quando é provocado. Mesmo que ali, as pessoas possam dizer que Hamilton não provocou, com a telemetria a mostrar isso, reduzir a velocidade a cerca de 50 km/hora, à saída de uma curva, depois do afastamento do Safety Car, não é muito normal (apesar de no artigo 39.13 dos regulamentos, o piloto que vai na frente é aquele que dita o ritmo), mas o toque que Vettel sofreu, ele entendeu como sendo um "brake test", do qual foi pedir satisfações. Eu entendo que naquela manobra, ambos deveriam ter sido penalizados, e não apenas Vettel, que reagiu a algo que tende a ser provocatório.
E esse é um grande defeito dele. Mas no passado, pilotos do qual idolatramos reagiram a provocações, e de forma bem pior. Recordo-vos de Ayrton Senna, que no final do GP do Japão de 1993, que tinha ganho, foi tirar satisfações das manobras no limite de Eddie Irvine, que fazia ali o seu primeiro Grande Prémio na Formula 1. Depois de uma discussão, ambos os pilotos envolveram-se numa briga. Mas claro, se chamam "chiquilento" a Vettel, esquecem-se dos defeitos e incidentes de "Deus" Senna. Mas aconteceram.
E claro, este é o mais recente incidente na carreira de Vettel. Posso falar de alguns que já passou na sua carreira. Primeiro, em 2007, no GP do Japão, quando acabou com a corrida de
Mark Webber, da Red Bull (
Vettel estava ainda na Toro Rosso) e o futuro companheiro de equipa disse "cobras e lagartos" dele. E claro, outros incidentes entre ambos (
Turquia 2010 e Malásia 2013, o famoso "Multi21") nos quais o alemão mostrou que é tão competitivo que ficar atrás do seu companheiro de equipa não está no seu sangue. Quer ganhar, quer ser o melhor, não liga alguma a ordens de equipa.
Mas o que por vezes me revolta é o "mimimimi" sobre as suas declarações no rádio, e do qual as pessoas lhe dizem coisas como "cresce e aparece". Se as pessoas se calam quando são prejudicadas no trânsito, problema delas. Sim, por vezes ele exagera, mas quando vejo a reação das pessoas quando é o Kimi Raikkonen ou o Lewis Hamilton a terem o mesmo tipo de queixas, eu reparo que no final é porque detestam o alemão do que não gostam de queixinhas. E se calhar esse deve ser o problema.
E se esse for o problema, vamos por partes: ele têm quatro títulos mundiais, conseguidos entre 2010 e 2013, todos pela Red Bull, numa altura em que os chassis eram os melhores do pelotão. Vettel dominava, mostrava ser tão veloz como era Michael Schumacher, no seu auge na Ferrari... excepto as trapaças do alemão mais velho. Quem eram os seus rivais nesse tempo? Fernando Alonso e Lewis Hamilton. O espanhol era piloto da Ferrari, e certo dia, no GP da India de 2012, disse que "o campeonato era do Adrian Newey", menorizando os feitos de Vettel. E é por aí: a maior parte dos seus desafetos vêm de "alonsistas", que acham que o piloto alemão deveria ter menos dois títulos, que deveriam ter caído nos braços do espanhol. E isso, eles nunca o perdoarão, e é por isso que o atacam sempre que abre a boca.
Mas agora pergunto: e se fosse no passado? Vocês fazem ideia de quantos ídolos do passado tinham fama de "queixinhas"? Desbocados que hoje em dia, aplaudem? Olhem para Nelson Piquet e Niki Lauda, afamados desbocados? Aposto a quantidade de "piiis" que teria acontecido durante as provas com esses dois, se os microfones estivessem instalados nos seus carros e transmitissem em direto pela televisão. E os australianos, que tem fama de não levar desaforo para casa? Se calhar, ainda os aplaudiriam!
E imaginem a quantidade de pilotos que detestavam ver o
Gilles Villeneuve quando aparecia pela frente e não os deixava ultrapassar? Eis a citação de um deles, depois de lidar com o canadiano:
"Aquela horrorosa Ferrari esteve sempre no nosso caminho - nas últimas 15 voltas bloqueou-nos. Ridículo."
A frase foi dita por John Watson depois do GP de Espanha de 1981, onde o canadiano venceu na sinuosa pista de Jarama, aguentando quatro carros atrás dele. Hoje em dia, todos o aplaudem, mas se fosse o seu "desafeto", aposto que tinham dito para que fosse penalizado, desclassificado ou pior. Portanto, podem ver até que ponto existem estas irritabilidades. É a velha história de estar do lado errado da História: ninguém gosta, logo, menoriza-se o vencedor e as conquistas alcançadas.
No final, a irritabilidade das pessoas por Vettel é porque está no lugar que deveria ser de Alonso, Hamilton ou Ricciardo. Conseguiu os campeonatos que os seus ídolos deveriam ter, e isso irrita-os. E estão tão cansados dele que chegaram ao ponto de se irritarem sempre que ele abre a boca. Pena que não falam desse ódio na cara dele...
E já que estão fartos dele e desejam-no ver derrotado... acho que o Vettel deveria refletir sobre o que faz por ali. No próximo dia 3, ele fará 30 anos de idade. É rico, famoso e vencedor. Tem onze temporadas na Formula 1, ao serviço de equipas como BMW Sauber, Toro Rosso, Red Bull e Ferrari. Tem quatro títulos mundiais. E poderá vencer o quinto título neste ano, pela Scuderia, algo que gostaria de fazer imitando o seu compatriota Schumacher. Tenho a certeza disso. Mas também está a chegar a uma encruzilhada. Já tem tudo. Eu, se fosse a ele, eis o que fazia: concentrava-me para tentar alcançar o pentacampeonato. E no momento imediatamente a seguir a alcançar esse feito, seja em Interlagos ou Abu Dhabi, ou até antes disso, anunciava a retirada, com efeito imediato, ao melhor estilo
Nico Rosberg. Mais do que esfregar na cara dos detratores, era para dizer que já alcançou tudo o que queria e agora, teria tempo suficiente para fazer outra coisa na vida. É suficientemente jovem, tem garantido o seu lugar na História, mas ao mesmo tempo, suficientemente veterano para fazer isso.
Se ele se sentisse que não é mais bem-vindo, então iria gozar a reforma, como embaixador da merca ou algo assim. E como vive discreto, com a sua familia e filhas, ter todos esses títulos em onze temporadas seria algo de génio, ao nível dos melhores da história do automobilismo. Mas há quem ache que outros é que deveriam estar no lugar. Nesse campo, o problema é dessas pessoas, e não dele.
Contudo, independentemente de todas estas coisas, o campeonato tornou-se mais intenso dentro e fora da pista. Disso, ninguém têm dúvida. E muitos agradecem por isso.